Trinta - Verdades Secretas

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A sala de interrogatório da Scotland Yard era um local essencialmente neutro. Paredes cinzas, móveis de cor clara, um espelho tomando quase toda a parede do lado direito. Não fosse pelo espelho, que ele sabia abrigar do outro lado um bando de curiosos policiais, seria algo muito próximo de sua cela no St. Marcus Institute.

Uma cela que ele tinha quase certeza de que iria ocupar novamente no final daquela tarde.

Melissa estava sentada ao seu lado, inquieta. Tinha a mão entrelaçada à sua, os dedos cheios de um sangue que Corey não saberia dizer se pertencia a ela ou a Brian. Ela não parecia bem. Nada bem. E ele entendia os motivos. Brian aparentemente dera um tiro na própria cabeça na frente dela. Nem mesmo uma psiquiatra era imune à perturbação que tal cenário poderia causar. Corey, entretanto, não via modos de dizer a ela que ficaria tudo bem, mais do que já havia dito e parecia ter sido inútil... Durante todo o caminho até ali ela simplesmente o abraçara como se sua vida dependesse disso. Corey apenas passou o braço em volta dela e a acariciou, esperando que o trauma logo passasse. Foi inútil.

Então eles estavam ali, sentados há mais ou menos quinze minutos, aguardando a boa vontade do investigador Josh Bethel de esclarecer toda aquela palhaçada de uma vez para que pudessem saber o que seria de suas vidas...

E Melissa só tendia a piorar, perdendo-se cada vez mais fundo em um mundo só dela, um que Corey era incapaz de acessar. Teve medo. Medo de que a situação a perturbasse tanto que ela jamais voltasse para ele... Tal pensamento o fez estremecer, um frio percorrer sua espinha. Ficaria tudo bem, tinha que ficar. Ainda que ele voltasse para o local do qual talvez jamais devesse ter saído...

-Desculpe a demora. – Josh disse, assim que entrou na sala.

Corey conseguiu ver, antes que ele fechasse a porta, o tamanho da plateia que os assistia do outro lado do vidro. Bem, ele era uma celebridade do Investigação Discovery, provavelmente não era sempre que aparecia uma por ali. Não era sempre, com certeza, que uma se entregava para salvar a mulher que amava. Psicopatas supostamente não deveriam amar, não é mesmo?

-Não é como se tivéssemos um compromisso depois daqui. – Corey sorriu irônico.

Ainda odiava Josh Bethel, apesar da ajuda no resgate de Melissa.

-Você muito provavelmente tem uma passagem só de ida de volta ao St. Marcus Institute. – o investigador piscou, então sentou na cadeira postada do outro lado da mesa.

Tinha um copo de café nas mãos, um típico policial de filme norte-americano. Estava no continente errado. Corey revirou os olhos.

-Não tenho muita esperança de sair daqui pela porta da frente e sem algemas nas mãos.

-Não diga isso. – foi a primeira vez que Melissa se pronunciou desde que saíram da casa abandonada.

Os olhos dela estavam vermelhos, injetados, não pareciam focalizá-lo direito. A voz saiu falha, embargada. Até mesmo Josh lançou a ela um olhar preocupado.

-Você precisa de alguma coisa, Melissa? Um copo de água, talvez?

-Não, obrigada. – ela apertou a mão de Corey com mais força.

-Você está bem? – Corey perguntou, cuidadoso.

Ela olhou para ele, finalmente, e, depois de um longo período de estudo e aparente reflexão, abriu um pequeno sorriso.

-Estou bem. – confirmou.

Josh franziu o cenho, e a fitou com irritante atenção por um instante. Então torceu os lábios, tomou um gole do café e pareceu decidir que ela estava bem para passar pelo interrogatório que ele pretendia iniciar.

Lobotomia (Livro II)Where stories live. Discover now