Angelina...

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James

"Eu a matei, tenho certeza!"

É o primeiro pensamento que tenho ao vê-la cair metros à frente. Como não a vi na rua?

"Deus, como pude ter me desligado enquanto pilotava, ainda mais com uma tempestade assim?"

Foi involuntário, como sempre acontece quando a chuva cai, me perco em memórias um tanto dolorosas.

Não gosto de sair quando o tempo está assim, no entanto, tinha que voltar para casa, ficar entre pessoas que nada sabem do que passei, vendo-me encolher por dentro e ser assolado por ondas e mais ondas de dor causada pela culpa, não era uma opção viável, a única que poderia me ajudar era Eloise, que por acaso não foi para faculdade hoje, deixando-me apenas com a primeira opção:

Andar de moto já é um processo que exige atenção de quem a conduz, com chuva então, você precisa mais do que nunca estar alerta, mas quando cada gota que cai sobre você o leva de volta ao momento em que perdeu algo importante, que nem sabia que tinha, sem ter a chance de opinar sobre, é praticamente impossível não se afogar com as lembranças.

Em um momento eu estava longe, perdido nas minhas lembranças nada agradáveis, em uma recordação do passado que veio como um flash de memória, me vi mais uma vez entrando pelas portas da emergência do hospital e sem distinguir a recordação da realidade, logo em seguida a vi, rindo como uma criança no meio da rua. Ainda tentei desviar, pelo menos é o que acho que fiz, mas seu sorriso me distraiu, até que a vi ser lançada ao ar, e por minha culpa, suas compras espalhadas por toda parte e ela caída no solo enlameado, ainda assim uma visão dos céus.

Largo minha Harley de qualquer jeito e corro para seu lado, chego a tempo de ver seus olhos azuis me olharem com uma mistura de confusão e prazer ao mesmo tempo. Perco-me na profundeza do seu olhar, como se estivesse achado aquilo que venho procurando há tempos e nem tinha me dado conta. Então ela sorri levemente e seus olhos se fecham tirando-me do transe em que me encontro.

— Ei, moça? Por favor, acorde, abra os olhos. Oh Deus, não posso ter acabado com uma vida, por favor, não! — Sacudo seu ombro de leve, enquanto faço uma prece, não quero passar por mais uma desgraça assim, tirar do universo algo tão lindo.

Olho para a garota desfalecida nos meus braços, pela primeira vez me permitindo uma avaliação do seu estado, parece que não quebrou nada, talvez ela só tenha se assustado, por isso o desmaio.

Ela é linda! Seus cabelos mesmo molhados parecem ser castanhos, pele clara, traços angelicais, as roupas são simples, mas não a deixam simplória. Quantos anos deve ter? Dezesseis? Dezessete? Dezoito anos? Não sei precisar, só acho que ela não precisaria de nada para se destacar, mesmo assim, desfalecida e de olhos fechados, é a visão de um Anjo.

— Moça, por favor? —Tento novamente, ela se contorce nos meus braços, até abrir os olhos desorientada.

— O q-que aconteceu? — Pergunta enquanto tenta levantar, mas pelo visto sua cabeça está um pouco dolorida, assim que toco na área que assumo ter sido afetada ela geme.

—Aí! Não me toque! Seu maluco irresponsável, não olha por onde anda? — Sai dos meus braços virando de frente para poder me encarar enquanto fala, sua cara de raiva misturada com outros sentimentos é um espetáculo à parte.

— Ei, calminha aí, não tenho culpa se você estava no meio da rua, aliás, o que fazia no meio da rua em uma tempestade como essa?

— Não é da sua conta! — Ahhh Anjo, sua pose de superior está acabando com meu autocontrole, fazendo surgir um desejo que há muito não sentia e não seria nada conveniente tomá-la aqui no meio da rua.

O  Vizinho...  Desgustacao (Na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora