Capítulo XII

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             – E então, meu velho? – indagou Sam dando uma espalmada nas costas de Didier – O que está achando da nossa vila?

Didier já tinha bebido o suficiente para matar a sede que o acometera após o desembarque do Highlander e já começava a ter dificuldades em manter a cabeça ereta.

– Nada comparável à minha Rochelle. Essa taverna... Aargh... – semicerrou os olhos e cochichou, olhando para os lados, para se certificar que não seria ouvido pelos outros homens que estavam ali a sua volta. – Não vi nenhuma rameira... A única que tem aqui parece estar casada com o dono da taverna... Será que... ?

Sam disparou uma gargalhada.

– Pensei que você já não pensava mais nessas coisas, Didier.

– Não sou tão velho como pareço, nem estou morto – brincou piscando um olho e passando a língua nos lábios manchados de vinho barato.

Sam coçou o queixo e aguçou o olhar sobre o ladrão.

– Sei de um lugar que vai agradá-lo, mas...

– Ahn? – levantou a cabeça que estava apoiada sobre a mão direita – Aqui nessa ilha?

Dessa vez foi Sam que olhou a sua volta para evitar ouvidos curiosos.

– Esta não é a única vila que existe em Eleuthera...

– Não...?

– Se quiser que o leve até lá, garanto que vai se divertir muito mais que aqui.

– Então! O que estamos esperando?! – retorquiu animado.

– Tenho uma proposta...

– Sabia! Você está mentindo.

– Não! Claro que não! Posso levá-lo até lá, mas tenho uma condição.

– Que condição? – perguntou com a língua enrolando.

– Na verdade é um favor para você.

– Desembucha!

– Gostaria de ler para você aqueles papéis que me falou na vinda prá cá.

– Papéis? Que papéis? – As ideias do francês se tornavam confusas e, ainda assim, emborcou mais uma caneca de vinho.

– Os papéis da sua Marie. – rosnou mantendo um sorriso de escárnio.

– Aaahh! – franziu a testa como se o esforço de memória fosse extenuante. – O que quer com eles? – Pareceu tomado de súbita lucidez.

- Didier, meu amigo... Já pensou se esses papéis trazem escritos que a jovem que você criou com todo o carinho é uma rica herdeira?

Didier olhou muito seriamente para o pirata e o fitou durante um longo tempo, quase sem piscar. Ao final, escancarou uma risada, mostrando as fileiras de dentes e espaços vazios de seu sorriso.

– Herdeira? Rica? – exclamou, continuando a sacudir o corpo sob as gargalhadas.

– Fala baixo! Deixe de ser idiota! – ordenou Sam indignado para logo baixar o tom de voz e voltar a cochichar sobre a mesa. – Por que não?

– Se Marie fosse rica, ela já teria ido embora há muito tempo... Ela sabe ler, seu imbecil!

Até que para um bêbado o que o francês dizia tinha alguma lógica. Apesar disso, ainda convencido de que tinha um tesouro a sua espera, depois do que escutara da conversa entre Crow e Brett, voltou a insistir.

O Corsário ApaixonadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora