Capítulo IV

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                Sob os gritos de vitória e alegria dos embarcadiços por saberem que estavam regressando para casa, Crow retornou a sua cabine. Logo que entrou, sentiu a brisa marítima bater em seu rosto e descobriu a janela aberta. Procurou por Ana e não a viu. Soltou uma imprecação e correu até a abertura, procurando algum sinal dela no mar revolto logo abaixo. Não acreditava que ela fosse tão maluca a ponto de pular novamente. Olhou para os lados e descobriu que havia a chance dela ter conseguido andar através de uma estreita borda, onde apenas pés muito pequenos andariam, até bombordo e dali para um dos botes que usavam para descer em terra. Estaria tão desesperada para agir dessa maneira, enfrentando seus medos? Lutando contra o cansaço e a necessidade de confirmar suas suspeitas, voltou ao convés. Seria muito desagradável ter que tirá-la das garras de um de seus piratas. Mal tinha pisado no deck quando ouviu um grito feminino seguido por uma risada sarcástica. Ela fora capturada.

               – Ora, ora, se não temos uma passageira clandestina... 

               – Me solta, seu nojento.

               – Infelizmente vou ter que entregá-la para o capitão, mas antes... Que tal um beijinho? – disse o sujeito esticando o beiço repugnante e exalando um hálito de rum barato. ]

                Foi seu erro prender-lhe apenas os braços, pois ela acabou por aplicar o mesmo golpe usado em Crow em seu primeiro encontro. Mesmo urrando de dor, o velhaco encontrou forças para levantar o braço e esbofeteá-la. Não fosse pela interferência de Crow que andou a largas passadas depois de localizar de onde vinham as vozes, ele teria batido novamente nela. 

                – Pare com isso, Bald! – ordenou, chamando-o por seu apelido. 

                Os companheiros o chamavam assim devido a sua cabeça raspada que fazia questão de manter sempre livre dos ralos cabelos para, segundo ele próprio, impor "respeito" a seus adversários. Era dos seus mais antigos piratas. Anteriormente estivera a serviço de Hawke. Era um bom marujo, mas tinha dificuldades com a hierarquia no navio, além de beber sempre mais do que o limite tolerável.

               O homem, ainda um tanto atordoado pela dor em suas partes mais sensíveis, olhou com desdém para Crow.

              – Deixe-me dar uma lição nela, Crow. Além disso, é uma clandestina! 

              – Não, Bald. Ela é minha convidada. Deixe-a comigo. Vá curar essa bebedeira na sua rede. 

              – Claro... E por que ela estava se escondendo num dos botes? 

              – É que ela gosta de brincar um pouco antes de ir para a cama. – explicou irônico, piscando o olho maliciosamente.

              – Aaahh... Danadinha... – lambeu os lábios ressecados e piscou o olho de volta para Crow. – Então... Uma ótima noite. 

               Bald tratou de seguir a orientação recebida e saiu cambaleante, mais pela dor que pela embriaguez. Antes que Ana pudesse fugir, Crow pegou-a pela cintura, estreitando-a junto ao seu corpo com força. 

              – Estou começando a cansar deste jogo de pega-pega que você resolveu inventar. – sussurrou para que ninguém o ouvisse. 

              – Aquele horroroso estava querendo me beijar, me bateu e você não fez nada? Ainda ficaram conversando como se fosse a coisa mais normal do mundo um homem bater em uma mulher? Fora as insinuações ao nosso respeito. 

              – Se você não calar a boca agora e vir comigo, eu mesmo vou lhe dar umas boas palmadas. – Você não se atreveria!

O Corsário ApaixonadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora