Capítulo VII

2.2K 227 21
                                    


Crow não voltara a dormir na cabine. Em seu lugar, permitira que Didier dividisse o espaço com Ana, não sem antes dar-lhe claras instruções de como deveria portar-se e protegê-la. Para a tripulação espalhou o boato de que ela estava adoentada, apresentando uma febre desconhecida e provavelmente contagiosa. Com isso esperava continuar protegendo-a contra marujos curiosos e sedentos de calor feminino. Ela ficou proibida de passear no convés, para dar veracidade aos boatos de que estava doente. Agora, na maioria das vezes, era Didier que levava suas refeições, das quais participava muito satisfeito. Pelo menos, tinha uma mesa onde comer e uma comida que era, sem sombra de dúvidas, muito melhor que aquela que dividia com piratas malcheirosos nos porões ou no convés. Por sua vez, Ana não ousou antepor-se a tais ordens, visto que imaginava os prováveis motivos de Crow. Ela mesma ainda enfrentava a angústia que lhe causava saber que ele fazia parte de seu doloroso passado. Não conseguia odiá-lo, optando por evitar que seus pensamentos pertencessem a ele. Nem sempre conseguia seu intento, principalmente à noite, onde o silêncio era substituído pelos roncos de Didier vindos do chão do gabinete. O que antigamente não a perturbava, agora era motivo para horas de insônia, a pensar em quem não devia.

Passados três dias, Brett apareceu para servir seu desjejum. Como sempre discreto, tinha um ar amigável e jamais fazia qualquer insinuação a respeito dela ou de sua relação com Crow. Provavelmente ele também fora avisado que a única mulher a bordo era de propriedade do capitão e, por isso, a consideração evidente que dispensava a ela. Cumprimentava, perguntava se desejava mais alguma coisa e saía. Entretanto, Ana já intuíra que entre o imediato e Crow havia uma amizade que ia além das necessidades de bom relacionamento hierárquico no navio pirata. Sentindo uma carência súbita por mais informações a respeito do comandante do Highlander resolveu arriscar-se e, tentando ser o mais casual possível, iniciou uma conversa com Brett.

– Há quanto tempo navega neste navio, senhor Brett?

Apesar de ligeiramente surpreso com a indagação, arqueou as sobrancelhas, como se calculasse mentalmente o número de anos a serviço da pirataria. Intimamente, sorria imaginando quantas perguntas mais seriam necessárias para que ela citasse o nome de Crow. Com o conhecimento que tinha das mulheres, jurava que ela não resistiria a mais que três.

– Só nesse navio, milady, devo completar nove anos no próximo mês. – Lá se foi a primeira.

– Posso saber por que se tornou um pirata?

Colocou a mão no queixo, olhou para cima e estreitou os olhos a pensar na melhor maneira de responder.

– Poderia dizer que foi o desejo de liberdade, ou talvez o gosto pela aventura... Ou quem sabe pelos mesmos motivos que levaram a senhora a se tornar uma ladra... – observou Ana ruborizar diante de sua alegação e completou, em defesa de ambos – Por pura falta de opção. – Foi-se a segunda... Ou talvez eu a tenha desestimulado a continuar... Mas se ela realmente estiver interessada em Crow, como penso que está, não vai desistir tão facilmente. Vamos testar.

Brett interrompeu o silêncio constrangedor, e fez menção de se retirar.

– Desculpe-me se a ofendi. Não foi minha intenção. Se me dá licença, vou voltar ao convés.

– Não... Não me ofendeu... Como sabe que sou uma ladra?

– Esquece que sei que foi salva da prisão? – Foi-se a terceira...

Ela lhe deu um sorriso compreensivo e brincou com a xícara de chá sobre a bandeja.

– Conhece o Capitão Crow há muito tempo?

O Corsário ApaixonadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora