O Profeta Risonho (Origem)

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4 de abril de 2013
Meu nome é Edgar. Edgar Macedo. Tenho 14 anos, moro em Florianópolis, Santa Catarina. Esse é o meu primeiro diário, então eu não sei muito bem como escrever essas coisas.
Enfim, estou escrevendo isso no computador por que é mais rápido, e escrever à mão é simplesmente um saco. Eu não sei muito bem como diários funcionam, se eu não me engano eu devo escrever como foi meu dia. Na verdade, não foi nada demais. Minha vida anda a mesma merda de sempre: estudo e vídeo-game. A da minha irmã que está ficando louca. Ela já tem dezesseis, e em breve estará no terceiro ano do ensino médio, o que dizem que é o ano mais corrido e estressante da escola.
Meus pais andam, como sempre, bem distantes, trabalhando o dia inteiro. É meio chato passar o dia sozinho... quer dizer, meus pais sempre foram bem distantes, e não reclamo por isso. Afinal, se eles não trabalhassem tanto, não teríamos toda essa condição financeira que temos hoje. Digo mais pela minha irmã mesmo. Antigamente éramos muito próximos, brincávamos o dia todo. Nunca lembro de termos brigado uma única vez. Mas nos últimos tempos ela passa o dia trancada no quarto. Segundo ela, ela passa o dia lá estudando. Mas eu sei que não é isso. Anna está entrando em depressão. Ela estuda muito para passar pro curso de medicina, mas por algum motivo pensa que não será capaz. Talvez seja a enorme pressão sobre ela, não sei. Só sei que ela passa o dia trancada no quarto, chorando.
E nos fins de semana, quando ela finalmente sai do quarto, ela quase não fala comigo: vai visitar Daniel, seu melhor, e provavelmente único amigo. Eu tenho medo daquele rapaz. É um ano mais velho do que ela. Tem a pele morena, olheiras profundas, e sempre está com uma feição cansada. Conheci ele ano passado. Apesar de à primeira vista meter medo em qualquer um, ele é realmente bem inteligente. Escreve poemas belíssimos, e está sempre lendo algum livro de literatura clássica. Mais recentemente, vi que estava lendo “Crime e Castigo” de algum autor russo cujo nome é impronunciável.
Acho que é basicamente isso. Já são quase meia noite e eu realmente preciso dormir. Amanhã tenho uma prova de química.

12 de abril de 2013
Provas, provas, e mais provas. Não que eu esteja reclamando, elas não são difíceis, eu sempre tive facilidade em aprender. Mas é que a vida anda muito cinza. É quase como se o tempo tivesse parado. Nada acontece. Nada nunca vai acontecer. É todo dia essa mesma merda de rotina. Já estou de saco cheio de tudo isso, sinceramente.

23 de abril de 2013
Aconteceu algo estranho hoje.
Eu estava voltando da escola à pé, sozinho (como sempre). O dia estava meio nublado, e levemente mais frio do que o normal.
Quando passava pela rua que fica um quarteirão antes da minha, passei pela frente da casa do Daniel. Estava tudo escura lá dentro, mas não foi isso que me assustou. Ele não tem irmãos, e assim como eu, seus pais passam o dia inteiro fora de casa, trabalhando, e ele fica trancado no seu quarto, em meio aos seus livros.
O que me prendeu a atenção, é que ao lado da casa, parado, estava um homem muito alto, magro, com braços e pernas grandes, inclinado sobre uma janela, como se estivesse observando algo lá dentro.
De longe não pude ver o rosto dele. Sei que não era o pai de Daniel, pois o conheço muito bem. Seja quem for aquele homem, não era um conhecido, e com certeza não era bem vindo ali, pois parecia estar à espreita, como se não quisesse ser percebido.
Fiquei uns quinze segundos ali, observando o homem. Pareceram horas. Até que ele pareceu perceber a minha presença e virou para mim. Não sei como nem por que, uma onda forte de medo percorreu meu corpo, como uma descarga elétrica, e antes que pudesse perceber, me vi correndo em direção à minha casa, sem ao menos olhar para trás.
Estou aqui no quarto até agora com medo de olhar pela janela. Algo me diz que aquele homem ainda está rondando o bairro.

4 de maio de 2013

Cara, Anna tá muito fodida.
Essa madrugada eu estava dormindo quando acordei de madrugada com um barulho que vinha do quarto ao lado. Me levantei e fui silenciosamente até a porta do quarto da minha irmã. Eu podia ouvir vozes lá dentro. Ela estava conversando com alguém. Abri a porta de súbito e encontrei-a sentada na cama. Sentado à sua frente estava Daniel. Ele me olhou com uma cara assustada. Eu me assustei também e dei um grito, que acordou nossos pais. Eles saíram do quarto deles à tempo de ver Daniel fugindo pela janela.
A Anna levou uma bronca e agora está de castigo. Eu sabia que eles estavam namorando. Mas não sabia que já haviam chegado nesse ponto. A Anna tentou se explicar, disse que ele estava com medo de dormir sozinho, que os pais haviam viajado, e outras coisas do tipo, mas não colou. Ninguém acreditou.
Me sinto mal por ela. Pelo Daniel também. Os dois parecem ser muito solitários, é quase como só tivessem um ao outro, e agora foram proibidos de se ver... espero que esse castigo passe rápido.

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