Ela vivia para o seu trabalho, amava a culinária, sonhava em vencer, por isso, de vez em quando, sempre que precisava fechar o restaurante mais tarde, ela dormia no escritório que ficava nos fundos do galpão.

A perícia concluiu que o incêndio foi acidental, um curto circuito no sistema elétrico, o fato é que o restaurante pegou fogo e Jessie tomou um calmante e trancou-se para dormir no escritório.

Durante o seu resgate, eu fiquei preso nos escombros do telhado que desabou, a minha equipe conseguiu me resgatar com vida, apesar de algumas queimaduras nas costas, mas Jessie infelizmente morreu asfixiada pela fumaça. Na autópsia comprovou-se que a minha Jessie estava grávida de gêmeos.

Eu seria pai, algo que eu sempre sonhei por toda a minha vida, mas não agora, porra! Agora eu mal consigo encontrar uma garota para namorar.

A minha vida amorosa se resume a encontros casuais e nada mais. Quando percebo que eu ou a garota estamos nos envolvendo mais do que eu planejei, eu dou logo um jeito de fugir e por fim a relação.

Sexo suado e quente, sem promessas e sem hora pra terminar. Essa é a minha filosofia de vida.

Mas, algo além de prazer, eu não estou pronto a dar a nenhuma mulher.

- Hei, hei! Vaugh, tá com o pensamento longe? Estávamos falando com o senhor.

- Me des...des...desculpem, eu es...es...estava dis...distraído.

Jad me faz acordar do meu retorno ao passado, Phill me olha tristonho e estende-me uma caneca de cerveja, perguntando.

- É hoje, não é?

Eu assinto e Jad olha para nós dois ainda sem entender sobre o quê estamos falando, depois de alguns segundos, a sua ficha cai e ele me dá um tapinha nas costas, propondo-me uma noitada de bebedeira.

- Quer sair por aí pra gente comer umas bocetas e bebermos até cair?

Ele fala inocentemente, sem saber que se há um vício que eu tenho e não me envergonho em ceder é a fissura que eu tenho pelo sabor de uma boceta.

 Eu me perco no cheiro que elas possuem, o gosto suave, intenso, inigualável do creme que expelem enquanto gozam em minha boca. Por diversas vezes eu acordo excitado ao me lembrar do aroma de uma vagina invadindo as minhas narinas, o doce mel escorrendo por minha garganta. Mas, por mais que eu queira fugir da realidade, não há vagina que me tire da melancolia que me corrói o peito.

Bebedeiras e bocetas, não serão suficiente para isso, o que eu precisava mesmo hoje era uma amnésia, quentinha, saindo no capricho.

Uma salva de palmas nos desperta a atenção e todos os olhares se viram para a entrada do salão de recepção. Mal conseguindo se sustentar em pé, Tyler Randon aplaude com sarcasmo e aponta para mim, falando enrolado e alto por causa da embriaguez.

- Parabéns Tenente Vaugh, que linda medalha, você ganhou por que mesmo? Ah! Deixe-me lembrar, pelos bons serviços prestados a população, às vítimas, estou certo? Pois eu cuspo na sua farda, se eu pudesse arrancava essa porra do seu peito. O que adianta ser tão bom, tão prestativo e na hora que a sua noiva está morrendo tostada, você tropeça, cai, desmaia como uma garotinha frágil e a deixa morrer.Se não fosse a sua incompetência, a minha Jessie estaria hoje aqui entre nós, seu bombeiro de merda.

Mary, mãe de Jessie, tenta tirá-lo do salão e após Tyler cair bêbado no chão, ela se aproxima de mim e balbucia

- Perdoe-o Connie.

Eu, perdoar? Eu seria o homem mais feliz desse mundo se tivesse esse poder.  

"Perdão", eu começaria por mim mesmo. Tudo o que eu queria era me perdoar, mas nem isso eu sou capaz de fazer.

Os desgarrados: Livro 3 - CUIDAR (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now