- O que quer dizer? - perguntou meu pai cauteloso.

- Assim que escurecer, esse lugar vira uma espécie de intraterreno carnívoro, a própria terra nos engole. Se estiver certo o que eu li nos livros sobre o País das Maravilhas algum tempo atrás. - disse Morfeu olhando para cima como se tentasse se lembrar de alguma coisa, manteve sua mão em seu queixo, ele parecia não ter pressa.

Estávamos prestes a morrer em duas horas e ele pouco se importava. Que raiva.

- Se Jeb e Alison ainda estão aqui, estão vivos ainda? - perguntou meu pai tremendo suas mãos, seus olhos se escureceram.

- Pai... - disse tentando chegar em seu braço, mas ele partiu para cima de Morfeu segurando a gola de sua jaqueta. Morfeu nem ousou se mecher, apenas encarou meu pai com fascínio.

- Se minha Alison morrer vou pendurar você na parede do covil da Irmã Dois assim que chegarmos no País das Maravilhas, está me ouvindo?! - a voz de meu pai era como um trovão, mesmo ele falando entre os dentes, sua mandíbula cerrada, seus olhos me lembravam os olhos de mamãe, seu rosto um pouco sujo de terra, suas roupas um trapo, mesmo assim ele parecia um intraterreno incrível, meu pai era tudo, menos humano.

- O pseudoelfo levou ela para a Fortaleza, eles estão bem. Enquanto a Vermelha ainda não nos encontrar é claro. - disse Morfeu empinando o queixo para cima, ele era um pouco mais alto que meu pai, mas nem moveu sua mão para tentar se livrar de meu pai, ele não ousaria.

- É melhor você ter razão, Alison não merece ficar presa nesse lugar, ela é frágil, sabia que faz pouco tempo que ela recuperou sua sanidade mental? Pois fique sabendo, ela precisa de mim. - bradou meu pai apertando mais suas mãos na gola da camisa de Morfeu.

Morfeu me fitou, então meu pai soltou ele, mas continuou encarando seus olhos. Me senti culpada por ainda não ter colocado meu pai a par de tudo. Alison mentiu tanto para proteger ele que agora que ele sabe de tudo, pode acabar perdendo ele, engoli em seco.

- Alison sabe se virar caro Thomas, mais do que você imagina, suponho? - disse Morfeu oferecendo a verdade em forma de pergunta, ele se recompôs ajeitando sua jaqueta que foi amassada pelas mãos de meu pai. Morfeu ergue uma sobrancelha e me encara.

- O que quer dizer? - bufa meu pai olhando para mim e depois para Morfeu. Ele percebeu algo de errado, meu pai era esperto.

Eu precisava falar a verdade, ele descobriria tudo de qualquer forma. Eu não queria tirar o direito d eminha mãe contar para ele, mas eu não conseguia mas sustentar essa mentira, não dava. Minha cabeça estava girando em confusão.

- Quero dizer "tomatinho", que sua amada nem sempre foi essa bonequinha frágil que você tanto pensa que protege. - disse Morfeu erguendo um dedo e fazendo uma expressão exagerada de estar pensando em algo. - Na verdade, não me lembro dela algum dia ter sido assim. Garotinha esperta foi Alison, se aproveitou de sua falta de memória e se fez de esquecida também, um bom truque. - Morfeu estala o dedo e sorri para o nada. - Vou usar ele, eu usaria de qualquer forma mesmo.

Fuzilei Morfeu com o olhar, ele não tinha o direito de falar isso para meu pai. Papai colocou suas mãos em sua cabeça, como se tentasse arrancar suas lembranças, seus olhos se enxeram de lágrimas, mas ele as segurou, seu rosto ficou vermelho e sua boca se escancarou.

- Ela sempre soube... - sussurrou meu pai para si mesmo, mas eu e Morfeu ouvimos. Morfeu deu de ombros ao notar meu olhar mortal sobre ele. Idiota.

- Não é bem assim pai. - disse me aproximando e segurando seu ombro, ele se vira para mim e me encara, apenas uma lágrima escorre de seu rosto esquerdo, ele nem precisou piscar para isso acontecer. Sua angústia era nítida.

Ensnared - Fanfic da saga O Lado Mais SombrioWhere stories live. Discover now