Me concentrei nos ramos folhosos e imaginei eles se arrastarem lentamente até mim.

- Será rápido querido mortal, prometo. - disse o crocodilo que sufocava meu pai.

O que me segurava me mantinha imóvel em seus braços, ignorei minha claustrofobia e me concentrei nos galhos.

Manipulando os galhos, fiz eles segurarem o crocodilo que me mantinha refém. Os galhos se prenderam em sua pele grossa o arrastando para cima, aos poucos. O outro crocodilo estava de costas para mim e cocentrado em meu pai.

- Sua maldi.... - disse o crocodilo se debatendo nos galhos suspensos, antes dele completar sua sentença, fiz com que alguns galhos envolvessem sua boca, o impedindo de falar qualquer coisa.

Movi minhas pernas e meus braços lentamente até chegar perto do outro crocodilo que mantinha meu pai quieto, sua baba nojenta e viscosa molhava a cabeça de meu pai.
A água estava gelada, me concentrei nas águas que se moviam lentamente. Movendo os dedos comecei a persuadir a água. A maga pulsava em todos os meus nervos, me lembrando que estava viva ainda, aquilo me deixou extasiada. Eu não fazia ideia de como sentia falta disso.

A água se movia em círculo ao redor do crocodilo e de meu pai, a criatura largou a garganta de meu pai devagar fazendo ele arfar e respirar fundo. Então se virou para mim agitando a água ao seu redor.

- Você.. - disse o crocodilo movendo sua calda para me alcançar. Mas nadei rápido para longe dele. Meu pai sumiu de minha vista. Gelei com a possibilidade de ele estar desacordado afundando feito uma pedra naquela caverna subterrânea cheia de água e sem saída.

- Vou matar você. - grinhiu o crocodilo nadando rápido até mim.

Pensei rápido e encarei a água com tanta força de pensamento que ela começou a se tornar um redemoinho, onde o crocodilo era levado para o centro, ele tentava  chegar até mim, mas a força da água era concentrado nele, arrastando ele para o fundo.

- Alyssa... - gritou meu pai, segui o som de sua voz e o vi agarrado a uns galhos ao lado oposto do outro crocodilo que se debatia em minha armadilha.

A força da água começou a ficar mais forte e a sair do meu controle, me debati até chegar em meu pai. Estendi as mãos para alcançar ele.

- Só mais um pouco... - disse meu pai com a voz rouca se esticando para pegar minha mão e segurar nos galhos com a outra.

Alcancei sua mão e ele me puxou para cima, uns dois metros da água. Segurei nos galhos e encarei o redemoinho, ele puxava tudo para seu centro com força, até mesmo o limo das paredes rochosas.

- Vai ficar tudo bem. - disse meu pai segurando ao redor de minha cintura.

- Você não vai escapar pequena!!! - gritou o crocodilo que estava preso, agora ele se move por entre os galhos para nos alcançar. Me assusto com sua rapidez.

A água para e se acalma em instantes. Mas o intraterreno vem movendo suas patas curtas até mim.

- Vamos subir. - disse meu pai me puxando enquanto escalava para cima, se segurando nos galhos.

Me detive e ele me encarou confuso.

- O senhor sobe, eu resolvo isso. - disse com firmeza e meu pai balançou a cabeça negando, percebi sua mandíbula se contrair, ele não desistiria. Então fiz o que devia fazer.

Manipulei os galhos onde meu pai estava apoiado e os conduzi para uns cinco metros acima de mim.

- Alyssa, me deixe ajudar. - disse ele irritado, querendo voltar, mas não permiti.

- Quando chegar lá em cima, me espere, serei rápida. - disse olhando para o crocodilo que se aproximava cada vez mais de mim. Ele estava furioso e não disfarçava. Por causa das pernas curtas ele se movia com dificuldades.

Meu pai me lançou um último olhar antes de começar a subir pelos galhos folhosos como uma aranha sobe em sua teia. Ele era rápido e ágil.

Olhei para a água que estava calma agora e vi aquele crocodilo morto, boiando com a cabeça dentro da água. Ironia, morrer afogado.

- Você não me escapa maldita!!! - berrou o outro crocodilo, vindo em minha direção.

Eu iria acabar com ele, mas antes iria saber mais sobre Jeb, ele disse que ele escapou, então Jeb esteve aqui. Eles disseram que o sábio salvou ele.

Morfeu...

Manipulando os galhos prendi ele, o imobilizando.
Primeiro os pés pequenos, depois as mãos, no fim a cabeça, fiz ele me olhar nos olhos. Mas a criatura não desistia de lutar, sua pele rachada e dura tinham um odor terrível.

- Me solte!!! - berrou a criatura, mas eu apenas sorri para ele.

- Diga-me tudo sobre o outro mortal que esteve aqui antes de mim. - disse colocando um galho cheio de espinhos em seu pescoço. Os olhos vidrados dele me fitavam intensamente. - Ou irá morrer.

- Viver nesse lugar já é pior que a morte. - disse o crocodilo, mostrando seus dentes amarelados para mim.

- Se assim deseja. - disse irritada.

Como eu queria usar minhas asas, mas elas estavam quebradas, a Irmã Dois cortou uma delas e a deixou em pedaços, então ela não sustentaria meu corpo, talvez eu nunca mais voasse, isso apertou meu coração.

Persuadi os galhos para me puxarem em direção ao fim daquela caverna submersa.

- Vai me deixar aqui? - perguntou o crocodilo de olhos arregalados.

Olhei para ele por cima do ombro. - Você não quer colaborar.

- Tudo bem. Eu estava quase devorando aquele mortal que foi jogado aqui, quando Morfeu apareceu e o levou embora. Apenas isso. - disse o crocodilo desesperado para se livrar dos galhos.

- Foi jogado? - perguntei confusa, quem o jogaria ali?

- Sim, ele caiu os quinze metros antes de mergulhar nessas águas. - disse o crocodilo arfando.

- Você conhece o Morfeu? - perguntei fitando ele.

- Não exatamente, mas naquele dia eu pude vê-lo. Se eu não me engano, tinha uma intraterrena com eles, ela tinha asas e era parecida com você, só que mais velha e de cabelos curtos. - disse o crocodilo se contorcendo nos galhos folhosos.

Minha mãe, eles estava bem, estavam juntos. Iríamos sair logo desse lugar.

- Há quanto tempo isso aconteceu? - perguntei séria.

- Mais ou menos três semanas atrás, ou seriam três dias atrás, difícil dizer. Estou aqui há anos, não tenho noção de horas garota. - disse o crocodilo bufando.

Revirei os olhos e o soltei, ele gritou quando caiu na água daquele lugar, por algum motivo o corpo do outro sumiu, agora só restava o que eu libertei. Ele se balançou nas águas e me encarou.

- Se você pensa que irá sair daqui com seus amigos, lamento por sua coragem, ninguém nunca saiu daqui, somos todos presos. - disse o intraterreno dando de ombro.

- Meu pai já conseguiu. - disse fazendo os galhos prenderem minha cintura e me levarem para cima, eles se moviam como serpentes e me carregavam lentamente.

- Thomas? - perguntou incrédulo.

- Sim. Como sabe? - perguntei curiosa.

- Todos aqui conhecem ele, ele é uma lenda. - disse o crocodilo me fitando.

Meu pai? Ele era quase um intraterreno, um garoto que conseguiu viajar pelo peculiar País dos Espelhos. Quase não sobrevivo ao País das Maravilhas, mas estava no meu sangue. Minha mãe, linhagem da rainha vermelha, meu pai, o garoto que misteriosamente encontrou uma entrada para o País dos Espelhos e sobreviveu. Não é por acaso que eu nasci essa mistura de intraterrena e superhumana.

- Boa sorte, lembre-se de mim. - disse o crocodilo entrando na água novamente e sumindo.


Ensnared - Fanfic da saga O Lado Mais SombrioWhere stories live. Discover now