O Contrato.

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Em algum lugar afastado do centro da cidade de João Pessoa. 11:00 pm.

Atravessei a rua. Estava desértica. O único movimento que tinha eu havia deixado para trás. Era uma festa numa casa de prostituição. Um carro passou apressadamente por mim buzinando, era uma mulher no volante que não queria dar a vez para alguém de trajes indecentes como eu passar. Virei a esquina, entrei num beco de uma loja de artigos para presentes escondendo o meu rosto das câmeras com o capuz da minha capa vermelha e alcancei o terreno baldio do outro lado. Andei mais um pouco. Cheguei a uma rua vazia, um loteamento de terrenos para construção. O vento soprou amigavelmente em meu rosto quando eu parei em meio ao nada.

— Eu já senti suas presenças. Seus pés fazem muito barulho pisando nessas pedras. — Não falava sozinha, porque eu não estava sozinha. — Vamos, apareçam! — Virei-me para vê-los.

Do beco surgiu apenas uma figura sombria que aos poucos se tornava mais nítida quando se revelava, era o barman armado com um revólver de 38 calibres. O jovem estava quase chorando.

— Eu não entendo. Você deveria estar morta. O que aconteceu lá em cima?

Ele se referia ao quarto para onde o falecido Caio me levara. Tirar a vida dele e a daquela cretina da Raynha foi a coisa mais certa que eu havia feito durante todos esses meses de trabalho.

— Então o barman medroso também faz parte da gangue. E para que essas lágrimas? São pelo seu namorado sadomasoquista que eu matei?

Ele apontou o revólver em minha direção. E não me respondeu. “Quem cala, consente.”

— Não se preocupe, você logo encontrará outro consolo para enfiar no seu rabo.

Foram palavras baixas e pesadas. Muito pouco para quem era cúmplice de crimes tão banais. Se fosse preso era isso que fariam com ele, se não o matassem antes. Com o rosto estampado de fúria, o barman apontou o revólver para a minha cabeça... Eu também estava com um revólver na mão que eu mantinha escondido com auxílio de minha capa vermelha. Ele disparou, mas o revólver falhou. O idiota havia esquecido da trava de segurança.

— Você deve deve estar muito desesperado. Um revólver vazio. — Exibi um sorriso de deboche.

Ele deixou-se enganar por mim. Largou o revólver e pôs suas soqueiras negras. Veio correndo em minha direção, tão logo ele avançou com um soco reto, eu rapidamente me desviei e lancei minha capa vermelha sobre sua cabeça. Ele perdeu o equilíbrio, caiu em meio as pedras.

— Vamos. Não torne as coisas tão entediantes. Mostre-me do que é capaz, garotinha.

O barman tirou a capa jogando-a contra mim. E veio novamente para tentar me acertar com um soco. Preparei para me desviar quando o ferimento em minha perna latejou ao menor esforço que eu fiz. Havia alguma coisa errada. O barman que havia percebido tentou me acertar com um soco cruzado do qual me esforcei para me esquivar. Ele continuava com os golpes, o esforço que eu fazia para esquecer a dor em minha perna e me manter ilesa aumentava a cada instante. Consegui deixá-lo de costas, puxei minha adaga e num movimento contínuo abri um corte em suas costas. Ele rangeu os dentes engolindo um grito de dor e se virou golpeando o meu braço antes mesmo que eu pudesse disparar em suas costas. O disparo ressonou como num uivo quase inaudível. Seu pesado punho me fez vacilar deixando o revólver cair. Desci com a lâmina num corte transversal do qual ele defendeu com a soqueira. Afastei-me mancando evitando um soco contra o meu queixo.

Por um breve momento nos afastamos cansados pelo esforço. Ele me encarava, analisando o motivo da minha perna estar vacilando, em nenhum momento ele havia acertado a minha perna, mas o filete de sangue escorrendo pelo ferimento próximo ao meu joelho era visível demais. Em meus pés ele encontrou a resposta, as armas da serial killer.

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