Vinte e Dois - Funeral

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-Eu acho que posso estar pegando uma gripe.

Ele franziu o cenho e seus olhos cerrados denunciaram sua incredulidade. Melissa também não teria acreditado.

-Parece que está passando por muito mais do que um início de gripe.

-Ah, quanto a isso você tem toda razão... – Melissa torceu os lábios.

Corey fez o mesmo e soltou um suspiro resignado.

-Peters fez algo a você? Disse algo a você?

-Não, ele não fez nada de mal para mim... – Melissa desviou de Corey e caminhou decidida até o sofá.

Precisava sentar, precisava de calma para raciocinar e tentar ajeitar, ao menos um pouco, o caos em que havia se transformado sua cabeça. Mal conseguia ouvir o que Corey dizia, seus ouvidos zumbiam.

-Então por que voltou com essa cara de quem viu um fantasma? – Corey parou e então continuou – Viu Barber outra vez?

-O quê? Não... Não a vejo há dias...

-Então qual o problema? – Corey sentou ao lado dela no sofá e a obrigou a encará-lo mais uma vez.

-Não há nada de errado, Corey, por favor... – Melissa abriu um pequeno sorriso – Vamos nos concentrar no que interessa no dia de hoje?

Ele a encarou por um breve instante, incisivo e invasivo, tentando desvendá-la como com frequência era capaz de fazer. Melissa achou ter escondido suas preocupações muito bem naquele momento. Ou então ele se lembrou de que dia era aquele, do que precisariam fazer naquele dia, do tipo de tragédia que teria que enfrentar em uma hora... Ele desviou os olhos para suas próprias mãos, que passaram a se entrelaçar nervosas.

Melissa aproveitou a deixa e o fato de que ele havia deixado aquele assunto de lado, ao menos por enquanto, e se aproximou. Acariciou os cabelos dele com delicadeza, esperando reconfortá-lo, e então o abraçou com força. Corey retribuiu seu abraço, rodeando sua cintura com seus braços fortes em um aperto de ferro. Melissa foi quem se sentiu segura ali, como se ele a disse com aquele simples gesto que tudo seria superado. Esperava que seu gesto demonstrasse o mesmo a ele, a pessoa que teria que ver a irmã que tanto amava sendo enterrada de longe, que não poderia se despedir adequadamente, que teria que dar seu adeus à distância...

-Ela está olhando por você, onde quer que esteja, Corey... Ela estará te ajudando, mexendo os pauzinhos lá no céu.

Ele soltou uma risada contida e então respondeu:

-Estamos precisando de qualquer ajuda, embora eu preferisse que ela continuasse nos ajudando aqui da Terra mesmo...

-Eu sei...

-O que mais me deixa revoltado... – Corey disse e então finalmente deixou o abraço se partir para que seus olhos azuis pudessem encarar os de Melissa – É não saber quem e por quê... Por que alguém gostaria de ver Carolyne morta? O que ela fez para merecer isso?

Melissa torceu os lábios.

-Acho que podemos deixar nas mãos da Scotland Yard, não? Não podemos assumir todas as investigações de morte que aparecerem à nossa frente.

-Eu não gostaria de ter que investigar a morte de ninguém. – Corey retrucou irritado – Acha que eu gosto disso?

-De maneira alguma. – Melissa levantou as mãos em posição defensiva – Nunca disse isso. Só acho que devemos nos concentrar em Danny Langdon e Barber agora... Assim que provar sua inocência poderá buscar justiça do modo convencional para a morte de sua irmã... Isso se ela não tiver algo a ver com a pessoa que estamos procurando.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora