9 - Boemia Carioca

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- Essa é a mais pura verdade, Jauregui, a equipe de desenvolvimento quase toda não veio hoje, fiquei com trabalho até o pescoço. – esfreguei as têmporas enquanto Dinah me passava o balanço geral do dia quatro horas mais tarde. – Paula, aquela estagiária inútil, não apareceu e provavelmente não vem na segunda-feira, pretendo demiti-la do meu setor.

- Você tem total liberdade pra isso, Dinah, mas pense que acabamos de abrir. Dê mais uma semana e fique de olho na garota, se não produzir nada, aperte a mão dela e diga adeus.

- Americanos são sempre tão pacientes? - sorri e neguei com a cabeça, mas um sussurro no meu ouvido me fez pular de susto, deixando o notebook cair no chão. – Jauregui?! Está tudo bem?! Acho que a conexão caiu.

Camila estava parada do meu lado e mordia o lábio inferior, encarando minha boca como uma predadora pronta para o ataque. Coloquei a mão no peito para tentar acalmar meus batimentos cardíacos e no segundo em que daria um beijo de boas-vindas nela, ouvi a porta da frente bater e virei a cabeça com tanta pressa, que ouvi meu pescoço estalar. Taylor estava de braços cruzados e nos encarava com olhos semicerrados, provavelmente analisando qual seria a melhor maneira de começar um show de ciúmes. Sua expressão carrancuda só aliviou quando Joker, sedento de atenção, começou sua festinha para ela. Camila aproveitou a deixa que minha irmã estava de costas e me deu um beijo rápido, se jogando ao meu lado no sofá. Peguei o notebook do chão e vi que Dinah tinha encerrado a videoconferência.

- Por que não avisou que estava vindo, Tay? Eu estava trabalhando.

- E quando você não está, Lauren?! – minha irmã pegou Joker no colo e forçou um espaço para sentar entre Camila e eu. – Estou aqui porque vim te dar um esporro. Que história é essa de sair com minha melhor amiga e me deixar de fora?! Nunca pensei que isso fosse acontecer, sabia?! Acho muito injusto eu ficar tanto tempo sem te ver e sua atenção é dada em dobro pra Camila e quase nada pra mim.

- Taylor, você está falando sério?! – encarei minha irmã por alguns segundos e troquei olhares divertidos com Camila, que mexia nas unhas como se estivesse muito interessante. – Não acredito que está com ciúmes! Holy sweet Jesus, what a shame!

- Vai se foder, não vem com esse seu inglês pra cima de mim. Não gostei mesmo dessa aproximação de vocês, quero ser chamada! Por que não fazemos alguma coisa juntas?! Eu apresentei vocês, tenho direito de usufruir de atenção vitalícia de ambas!

Taylor fez um falso bico e não aguentei, precisei apertar suas bochechas, que antes eram tão fofinhas. Camila se juntou a mim e atacamos minha irmã com beijos e cosquinhas, o que rendeu alguns momentos em que precisei me segurar para não tocar no corpo da menina, ao invés de Taylor. Me afastei das duas e levantei do sofá, levando o notebook para um lugar seguro antes de buscar um copo d'água na cozinha. Camila estava me atraindo sem querer, ou seria por querer?! Assim que abri a porta da geladeira, ouvi minha irmã comentar da sala que estava com fome.

- Credo, Tay, nós acabamos de comer. Ei, você já contou pra sua irmã o que nós vimos hoje quando fomos a Santa Tereza?

Imaginei o que tinha sido tal coisa e meus pensamentos foram interrompidos pela melodia de 'Por Isso Corro Demais' de Adriana Calcanhotto aumentando gradualmente e invadindo o apartamento. Camila e minha irmã se aproximaram do balcão da cozinha cantarolando e eu troquei olhares com ela, que mordeu o lábio inferior e avaliou meu corpo de cima a baixo, coberto apenas por um pijama curto. Tive um princípio de engasgo com a água e quando me virei de costas para me recompor, senti os braços de Taylor ao redor da minha cintura. Minha irmã estava com o rosto afundado no meu peito e fazia um som parecido com o de uma criança manhosa.

Águas de MarçoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora