Capítulo Vinte e Quatro

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Coloco a faca na posição que Steve me explicou. O pé esquerdo apoiando o direito, tronco reto e firme. Respiração regular. Inspiro e quando solto o ar, jogo a faca em direção ao boneco. Bem no peito.

— Isso. — ele bate palmas e coloca a mão na cintura. — Continue.

Pego mais três facas e lanço-as uma por uma, acertando a perna, o braço e o ombro do boneco.

— Heather, você sabe usar uma arma?

— Não, você precisa me ensinar.

— Certo, mas antes eu preciso te mostrar umas coisas. — ele bate num saco de pancadas. — Luta. — ele aponta com o dedo indicador. — Amanhã.

— Amanhã? Por que não agora?

— Porque você está liberada hoje.

— Eu não quero ser liberada.

Ele sorri.

— Até amanhã, Stinfer.

— Ok. — me rendo. Saio da enorme sala e sinto gotas de suor se formando em minha testa. Passo a mão para limpar; preciso de um banho, mesmo achando que não fiz nada demais hoje.

— Você atirou algumas facas?! — minha mãe grita ao ouvir isso e se irrita por eu ter falado de forma tão casual.

Estamos na mesma sala de jantar em que eu vim quando conversei com Jeremy sobre o conflito, separada de todos os outros. Ele quis fazer um encontro de família, que eu achei ridículo a essa altura.

Lexie está tão bonita. Parece mais jovial e mais disposta. Ela usa um vestido florido e seu cabelo está preso numa trança.

— Que linda sua trança, Lexie. Você fez?

— Não, foi a Vick. Passamos o dia todo juntas.

Paro de mastigar quando ouço seu nome. Não sei se a odeio ou se apenas sinto mágoa por sua atuação na escola ou por ter roubado minha amiga.

— Hum. — tento não demonstrar meu desapontamento com a notícia. — Então, vamos falar sobre os encontros de vocês nesses últimos anos?

Minha mãe parece ficar triste com isso, como se tivesse vacilado comigo. E realmente, ela vacilou feio.

— Antes de tudo, Heather, não nos encontrávamos para ficar juntos, até porque nos primeiros anos senti muita raiva do seu pai, e ele tinha que insistir muito para me convencer a ir.

— Eu procurava sua mãe para saber se estavam em segurança e para ajudá-la a cuidar de vocês. Mesmo longe, estive sempre presente na vida de vocês.

— Ah, com certeza, foi ótimo. — ironizo. — Mike, por que você não nos trouxe para cá quando foi obrigado a assumir a liderança?

Eles se encaram por uns instantes.

— Foi minha primeira reação, levar vocês comigo, mas sua mãe não quis.

— Como é?

— Não quis, filha, me desculpe. Não podia, simplesmente foi demais, e eu quase não suportei no começo. Quando você não estava lá. — ela olha para Mike. — Me perdoem, mas eu tinha meu emprego, que amo até hoje, e não podia abandonar Indianápolis.

Minha mãe e seu amor por Indianápolis.

— Você podia ter feito muito mais como bióloga aqui no Departamento! Não justifica.

— Não podia, e não me arrependo de ter criado minhas filhas num lar normal, onde existem árvores de verdade.

Agora, este jantar se tornou uma discussão que não foi terminada anos atrás. Um acerto de contas.

A HerdeiraWhere stories live. Discover now