Capítulo I

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Nigel Thomas Lodwick perdeu sua mãe ao nascer, sendo criado por uma tia paterna. Também viúva e sensibilizada com a situação de pai e filho, ela dedicou-se ao pequeno órfão como se ele tivesse sido gerado em seu próprio ventre. Sir Timothy Lodwick, seu pai, era um rico proprietário de terras no condado de Kent. Com a perda da esposa, tornou-se um homem amargo e voltado totalmente para seus negócios, deixando a educação de seu filho ao encargo da irmã e de tutores, que sofriam nas mãos do rapazinho revoltado com o desinteresse do pai. Apenas Tammy, a tia, conseguia controlar seus ímpetos e acalmá-lo nas crises de fúria e rebeldia. Quando tinha dezessete anos, uma misteriosa febre levou sua "mãe adotiva" por quem nutria um grande carinho. Por ocasião do enterro, seu pai tentou uma aproximação do filho renegado por tantos anos. Contudo, não era fácil para Nigel aceitar a atitude do homem que por toda a sua vida o menosprezara. A obstinação, própria dos adolescentes, o impediu de ouvir o que Timothy tinha a dizer. Esse, por culpa, se retraiu e calou seus sentimentos mais uma vez.

O jovem impetuoso partiu para Londres, depois de exigir do pai sua parte na herança da mãe. Durante meses gastou tudo em festas e mulheres. Orgulhoso demais para voltar para casa e permitir que seu pai o classificasse como um inútil, no que ele teria toda a razão, Nigel alistou-se na Marinha Real de Sua Majestade em busca de aventuras.

Sob o comando do implacável e ríspido Sir Francis Drake, navegou e participou de batalhas em alto-mar contra navios espanhóis, corsários de várias nacionalidades e piratas apátridas. Era o ano de 1588 e Elizabeth I estava em plena guerra contra Filipe II da Espanha. Logo se adaptou à vida de marujo, tornando-se um conhecedor das artimanhas da navegação em alto mar. Com seus modos elegantes e conhecimento das letras, logo chamou a atenção de Drake, que o ordenou como seu imediato. Aprendeu a manejar a espada e o punhal com grande destreza e a atirar com o mosquete. Adquiriu músculos durante os longos meses em que trabalhou como grumete e, com apenas vinte anos era temido por seus companheiros que evitavam a todo custo uma luta corpo-a-corpo com ele, pois sabiam que seriam derrotados rapidamente. Lutava com força e inteligência. Ganhara algumas cicatrizes pelo corpo, frutos das batalhas em defesa de seu país. Herdara da mãe o verde profundo dos olhos e os cabelos negros e ondulados. O rosto anguloso, marcado por uma pequena cova no queixo forte, e as sobrancelhas retas e espessas emprestavam-lhe um ar selvagem que, quando irritado, acabava por desestimular os possíveis encrenqueiros. Já sobre as mulheres exercia irresistível atração, angariando inveja entre seus companheiros de armada e farra. Admirava a capacidade de comando e estratégia de seu capitão, Francis Drake, conhecido por sua volta ao mundo no navio Golden Hind e célebres vitórias sobre os espanhóis, além do fato de ter sido homenageado com distinção pela Rainha por seus feitos. Contudo, Nigel não via com bons olhos a maldade dissimulada nas ações de seu comandante. Drake não demonstrava qualquer tipo de piedade para com seus prisioneiros. Com exceção de alguns oficiais espanhóis, que por sua bravura em combate, eram respeitados e levados às prisões inglesas, a maioria da tripulação dos navios inimigos não era tratada com tal deferência. Navios afundados, tripulação eliminada. Os que não morriam afogados e pediam abrigo no navio carrasco eram torturados e colocados a andar na prancha. Os motivos para tal barbárie era a falta de espaço para acomodar e alimentar os "ratos espanhóis", como Drake se referia aos inimigos.


Naquele dia quente de verão, o céu amanhecera claro e o vento se encontrava a favor. A nau velejava em águas tranquilas, a meio caminho entre Inglaterra e Espanha, quando inesperadamente um grito, vindo do mirante no alto de um dos mastros, alvoroçou o ânimo dos marinheiros do Enterprise.

- Todos ao convés! Navio à vista!

Drake e Nigel imediatamente correram para o deck de comando para tentar reconhecer a origem do barco avistado. Logo o comandante pode detectar a bandeira espanhola orgulhosamente desfraldada no mastro principal do galeão de pequeno porte. Surpreendeu-se ao perceber um navio como aquele navegando sozinho em período de guerra. Seriam facilmente subjugados. De nada adiantaria a bandeira branca que seria hasteada logo a seguir.

O Corsário ApaixonadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora