Vinte - O grande reencontro

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Com um movimento cuidadoso, Corey empurrou a porta que rangeu baixo em suas dobradiças enferrujadas. Torceu para que não fosse o suficiente para chamar a atenção de Danny Langdon até ali. Gostaria de ter a chance de surpreendê-lo, assim como ele havia feito.

Ninguém apareceu, não ouviu passos próximos, então avançou e entrou na casa. Seus passos cuidadosos levantaram poeira do chão. Melissa foi tão cuidadosa ao entrar quanto ele, uma caçadora silenciosa. Corey esperou até que seus olhos se acostumassem com a escuridão, então analisou o aposento que tinha ao seu redor. Um gigantesco hall de entrada, colunas sustentando o pé direito de quatro ou cinco metros de altura, piso de madeira esfolado e empoeirado, tapetes e tapeçarias que um dia já foram de luxo roídos por traças. E duas escadas bifurcando, um para a ala esquerda da casa, outra para a ala direita. A óbvia divisão que deveriam fazer para cobrir a maior área possível do local que, por dentro, parecia ainda maior. Um labirinto velho e empoeirado. Tentou procurar na poeira do chão pegadas que indicassem o caminho que Danny Langdon havia tomado, mas a iluminação não lhe ajudou, não havia qualquer pista.

-Quer subir e eu olho aqui embaixo ou acha melhor subirmos, cada um por um lado? – Corey sussurrou.

Melissa deu de ombros, e Corey decidiu que seria melhor ambos subirem. Então indicou que iria pelo lado esquerdo, apontando para Melissa a escada da ala direita. Ela assentiu e caminhou mais uma vez silenciosamente até lá, apesar da velocidade de seus passos. Corey esperou que ela subisse os primeiros degraus da escada e então tratou de vencer seus próprios degraus. Havia um tapete vermelho cobrindo cada um deles, o que abafou seus passos cuidadosos no chão. Alguns degraus rangeram baixo, Corey esperou que não o suficiente para chamar a atenção.

Quando atingiu o patamar de cima, a luz da lua que começava a se destacar no céu invadiu o local pela janela de vidro rachado. Ele procurou pelo chão algum sinal de passos apressados, como os que Danny Langdon havia dado para entrar ali, e nada encontrou. Então respirou fundo, a poeira e mofo acumulados irritando seu nariz, e seguiu em frente. Havia um longo corredor à sua direita, também coberto por tapetes, as paredes lotadas de obras de arte rasgadas ou manchadas.

A primeira porta à direita estava trancada. Corey forçou a fechadura, esperando que estivesse apenas emperrada pela ferrugem, porém não obteve sucesso. Então caminhou apreensivo até a próxima porta. Olhos e ouvidos atentos. Às vezes olhava por cima do ombro, apenas para não ser surpreendido por alguém tão silencioso quanto ele. A segunda porta estava aberta, mas não havia nada lá dentro, com exceção de mais mofo e poeira. Corey tratou de sair com rapidez, com cuidado para que não perdesse nada que pudesse acontecer no corredor em sua ausência. Nada nele havia mudado, contudo. Estava deserto como o havia deixado. A terceira porta também estava trancada e Corey não perdeu muito tempo tentando abri-la, como havia feito com a primeira.

A quarta porta lhe revelou uma espécie de biblioteca. Prateleiras e mais prateleiras cobriam as paredes. Livros as abarrotavam. Capas duras de couro vermelho, azul e verde, em sua maioria, todas desgastadas e comidas pelas traças e pelo tempo que deveriam estar ali. No meio da sala, uma escrivaninha também empoeirada e maltratada pelo tempo. Em cima dela, um livro que parecia a coisa mais nova e bem cuidada dentro daquela estranha e ainda misteriosa casa, muito embora já a tivesse explorado por um tempo.

Mais uma vez com cuidado e cautela, especialmente para não pisar em uma tábua velha que entregasse sua presença ali, Corey foi até a escrivaninha. E quando pegou o livro notou que se tratava, em verdade, de um álbum de fotos. Ao abri-lo e virar a primeira página, a primeira e única foto que encontrou foi uma de Barber. Cabelos vermelhos ao vento, olhos verdes brilhantes e contagiantes, sorriso torto nos lábios. Uma expressão feliz, talvez até mesmo apaixonada... Corey não conhecia aquela foto... E sentiu, por um instante, ciúmes ao constatar isso. Danny Langdon conhecia, tinha acesso àquele pedaço de felicidade que um dia Barber compartilhara com ele.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora