VIII: Revelações

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Naquela noite, Jonas e eu ficamos cerca de uma hora na janela, no mais completo silêncio. Agora que eu sabia com certeza o que ele sentia, estava preocupada em como lidar com isso e em como definir os meus sentimentos.

Eu não sabia dizer em que ponto acabava o ódio defensivo que criara em mim, e começava algo melhor. Nem se havia, de fato, ódio por ele dentro de mim, ou se eu conseguia aceitar que meu coração era capaz de amá-lo independente da minha vontade.

Amor era uma coisa que eu não sentia por ninguém desde Lucas. Quando ele morreu, eu me enterrei junto. Agora, os olhos azuis absurdos de Jonas me diziam que eu podia ser feliz, podia amar e ser amada de novo e ser alguém melhor – bastava eu me dar uma chance. Eles gritavam isso para mim, mas não tinha certeza se eu queria escutar.

Me deitei, mais exausta do que jamais estive, e dormi.

"Seja feliz"

Eu o ouço sussurrar, como fazia ao meu ouvido, antes daquele fatídico dia.

"Seja feliz"

"Mesmo sem você?", pergunto, para o nada, para o vácuo da minha ilusão.

"Não sou eu quem você quer"

"Você vai ser feliz?"

"Se você for. Não se preocupe comigo, eu não existo mais."

Lucas está certo. Eu estou sendo boba, falando com mortos num sonho. Já está na hora de deixar que ele vá...?

"Seja feliz", sussurra uma última vez.

E se vai.

Resolvo faltar à aula na manhã seguinte. Não só estou sem a mínima vontade de enfrentar cinco horas com Jonas ao meu lado – ou à minha frente, quem sabe até atrás de mim -, mas também estou louca para sair e correr atrás de alguns vampiros, para variar. Eu estava parada há muito tempo.

Peguei meu carro quando já passava das onze. A garagem de Jonas estava vazia, então supus que ele tinha desistido de me esperar e dirigido até a escola, como costumava fazer antes de começar a me acompanhar diariamente.

Dirigi sem pressa até o Parque do Ibirapuera. O dia estava claro, sem muito sol ou vento, e lá sempre havia muita gente – toneladas de pessoas, litros de sangue para alimentar meus inimigos mortais. Se algum estivesse por lá hoje, eu iria encontrá-lo. E se eu o encontrasse, o mataria. Simples assim.

O parque não estava muito cheio. Alguns atletas, um grupo de velhinhos, pessoas andando de bicicleta ou caminhando aqui e lá. Eu e minha bolsa cheia de facas afiadas e pesadas caminhamos devagar e com cuidado, procurando algo incomum.

Minha mente não estava ali de fato. Eu estava a quilômetros de distância, divagando sobre como teria sido a manhã do Jonas sem que eu estivesse por perto. Não pude deixar de pensar, também, no que ele estava sentindo. No que eu estava.

Nada mais me passou pela mente, então. Eu estava frente à mais absoluta perfeição, e não havia mais espaço no meu cérebro para pensar em nada além disso.

Ela era alta e magra como uma modelo. Estava encostada numa árvore, olhando para nada em especial. A pele estava levemente amarelada, as sobrancelhas arqueadas, os lábios pálidos. Usava um vestido vermelho que contrastava com perfeição contra sua pele. O rosto era triangular e simples, os olhos avermelhados, os cabelos negros lhe caíam até quase nos joelhos. E era magnífica.

Dei um passo adiante, e depois outro. Meu subconsciente lutava, me alertando sobre o que eu já sabia: ela era perigosa; ela era uma vampira. Não fazia diferença, no entanto. Eu continuei indo até ela, passo após passo.

Vermelho SangueWhere stories live. Discover now