XVII: Perigo

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Com cuidado, tateei as paredes com as mãos e o chão com os pés, pouco a pouco, até alcançar a escada. Após o primeiro degrau ainda fracamente iluminado pela pouca luz que vinha da rua, tudo era breu. A segurança da minha visão se esvaiu conforme eu fui descendo, caminhando para o desconhecido, completamente vulnerável.

A minha descida cuidadosa durou pelo menos o quíntuplo de tempo que a subida tinha durado com Jonas. Foi um alívio inexplicável alcançar o piso térreo e não sentir mais nenhum degrau à minha frente. Então, pude caminhar, um pouco mais segura, em direção à porta de vidro que me tiraria daquele lugar.

O ar poluído foi tranquilizante de se sentir, e toda a luz que a cidade me oferecia do lado de fora me deixou imensamente grata e feliz. Meu Pálio estava lá, parado exatamente onde estava quando estacionamos, a porta do motorista aberta, me esperando.

Entrei e bati a porta.

- Dirija e não olhe pra trás, Beni. - a voz de Jonas me pediu, calmamente - O nosso amigo aqui vai nos indicar pra onde ir.

Respirei fundo e dei a partida no carro. Dei ré para sair do estacionamento. Não havia barulho além do ronco do motor.

- Vire a próxima rua à direita. - uma outra voz masculina, mas ofegante, disse. Eu obedeci.

- Terceira rua à esquerda.

- Vire no quarto farol.

Fui obedecendo às ordens à medida que elas me eram dadas. Não sei por quanto tempo exatamente dirigi, nem o quão longe nós já estávamos de casa, antes de o estranho me mandar estacionar em frente a um lava rápido desativado.

- É aqui? - Jonas perguntou. O outro pode ter respondido, mas eu não escutei - Desça, Beni.

Eu desci, com uma faca em cada uma das mãos, e bati a porta do carro. A noite estava tão fria que a minha respiração de fazia ver. Abri a porta do banco traseiro e, com muito esforço, Jonas saiu, trazendo com ele um outro vampiro, cujo pescoço estava preso por entre as mãos de Jonas. Ele parecia apavorado. Era pálido e magricela, da minha idade, talvez, cabelos e olhos negros.

- O que há ai dentro? - perguntei a ele, meio incerta.

- É a base de planejamento. - apressou-se a responder - Tem alguns humanos escondidos numa sala aos fundos. Ou tinha. Eu estava buscando mais.

Olhei para Jonas, que estava calado, escutando. Ele assentiu, devagar, confirmando tudo o que o outro vampiro dissera.

- Vocês vão me deixar ir agora, né? - implorou, mais apavorado que nunca. Eu lhes dei as costas e esperei enquanto Jonas o matava.

Quando estava feito, ele se adiantou para o portão.

- Vamos ter que pular! - ele disse.

- Como?

Jonas não me respondeu. Simplesmente me pegou e pulou, tudo num segundo. Quando abri os olhos outra vez, nós estávamos no lado de dentro.

Estava escuro, exceto por uma casinha aos fundos, cujas janelas mostravam que havia alguém do lado de dentro, e a própria luz da lua. Alguns carros estavam estacionados, e eu não ouvia barulho nenhum.

- Só há vampiros naquela sala. - Jonas sussurrou, e apontou a janela iluminada - Mas estou escutando um coração. Mais próximo.

- Os carros? - arrisquei.

- Pode ser. No porta-malas de algum deles.

Sem pensar duas vezes, fui até o carro mais próximo. Rezei pra que estivesse aberto, e tentei abrir a porta. Ela cedeu, nenhum alarme soou, mas não havia ninguém ali.

Vermelho SangueWhere stories live. Discover now