57 CAPÍTULO

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O estado da Cecília piorou.
Ela ficou internada uma semana antes de morrer. Mas, ainda assim, nos seus últimos dias de vida, ela sorria.
Eu fiquei desolada. Ela era uma criança maravilhosa, com um futuro brilhante pela frente.
Me senti culpada por todas as vezes que reclamei que coisas fúteis e sem significado, e pensei que nenhuma dor que eu já havia sentido era igual a que eu sentia agora.
O enterro de Cecília foi em um sábado ensolarado e bonito. Ela gostaria de estar brincando hoje, pensei. Foi uma cerimônia simples, apenas os pais, alguns parentes próximos, eu, Arthur, Henrique e minha mãe. O caixão dela era branco com alguns detalhes em dourado, imaginei o quanto ela teria gostado dele se o visse.
Quando minha mãe havia me dito que Cecília tinha piorado, de certa maneira eu sabia que nunca mais a veria ou sairíamos para ir no cinema. A semana que ela ficou internada foi quando eu chorei, e quando ela morreu, eu parei de chorar. Não me ache insensível por isso, agora ela deve estar brincando com outras crianças no céu.
No domingo eu ajudei os pais da Cecília a distribuir os brinquedos dela para crianças carentes. Foi bom, ajudou a aliviar a alma e mostrar que em cada criança carente que eu via, um pedaço dela estaria ali.
Não me dei ao luxo de faltar na escola hoje mesmo segunda feira. Preciso pegar meu boletim e algumas coisas no meu armário. Mando uma mensagem para o Arthur e peço para ele me buscar.

-Bom dia.-digo entrando na cozinha, minha mãe está fazendo panqueca.

-Olá margarida, como vai você?-minha mãe insiste em perguntar "como vai você" e eu sei que é sobre a Ceci, mesmo ela se recusando a admitir.

-Estou bem. O Arthur vai vir me pegar, e depois vamos ao cinema com o Henri e a Vitória.

-Estou feliz que você esteja bem.

-E depois vamos visitar o túmulo da Ceci.

-Você tem que parar de ir lá.

-Eu vou parar.
**********
No final das contas, a Vitória cancelou a ida ao cinema por causa de uma emergência familiar, algo sobre um sapato não combinar com a bolsa. Então, eu, Arthur e Henrique nos empoleiramos nos assentos do cinema, sentados nessa mesma ordem.

Na metade do filme Arthur começou a querer me beijar:

-Para, Arthur. -eu digo. -O Henrique tá aqui do lado.

-Caguei pra ele. -diz Arthur e se vira para o irmão. -Faça um favor e olhe para o ladinho.

-Não vou olhar nada. -Henrique responde fazendo careta.

-Então, não reclame. -diz Arthur antes de me beijar.

Eu tinha que concordar que o filme é bom, mas beijar o Arthur, ah isso não tem comparação.
Henrique começou a coçar a garganta e quando viu que nós continuamos nos beijando, ele começou a tossir e bater a mão no peito.

-Arthur é melhor a gente parar, porque já estou quase com medo do que o Henrique vai fazer a seguir. -eu digo e nos três rimos.

-É que eu não vim ao cinema pra segurar vela. Não, eu não tô segurando vela, tô segurando um castiçal. -ele diz e cruza os braços. -Se a Vitória estivesse aqui vocês iam ver só, o que é beijar.

Eu e Arthur rimos tanto que algumas pessoas ao nosso sala fizeram gestos mandando nós ficarmos quietos.

-Por que estão rindo? -Henrique questiona. -Ela é a garota mais sensa e linda que eu conheço.

-Só falta você falar "aí eu amo ela" pra eu começar a vomitar. -respondeu Arthur.

-Mas eu amo. -falou Henrique com uma cara de bobo.

Quando meu melhor amigo se tornou tão romântico e apaixonado eu não sei, mas que eu tô adorando ele feliz assim, eu estou demais.

-Agora né, mas no começo do ano você ignorava ela mais que o Naruto ignorava a Hinata. -Arthur cutuca.

-Fica quieto. -eu digo. -Ele só não sabia o que sentia por ela.

-E você? -disse Henrique apontando o dedo para o Arthur. -Ignorou a Clara por anos e agora tá aí, "o que seria de mim sem ela", "o grande amor da minha vida"...

-Olha aqui pirralho, fica na sua. -disse Arthur.

Eles começaram a se bater com tapinhas um na mão do outro parecendo duas meninas, aliás nem meninas brigam daquele jeito.

-Ei dá pra vocês ficarem quietos? -disse uma mulher do nosso lado.

-Fiquem quietos ou a gente vai ser expulso daqui, seus trouxas. -eu digo.

-Mas foi ele que começou, Clara. -disse Henrique cruzando os braços e fazendo bico.

-Você que começou quando nasceu. -disse Arthur brincando. -Nossa pai deveria conhecer o lema "melhor pra fora do que pra dentro na época".

Eles começaram a "brigar" de novo. É, eles não pareciam meninas brigando. Nem crianças, eles são piores.

A essa altura um monte de gente começou a olhar pra gente.

-Com licença. -olho pro lado e o segurança do cinema está olhando para nós. -Vocês precisam se retirar agora ou eu vou ter que retirar vocês, por favor saiam sem fazer barulho.

Saímos da sala de cinema sem fazer nenhum pio.

-Eu não tô acreditando que vocês fizeram a gente ser expulso do cinema. Eu vou esganar vocês. Não, esganar é pouco, vocês vão lavar a louça lá de casa por uma semana. Não, um mês. -eu começo a dizer. -Que vergonha! Eu nunca fui expulsa de nada.

Ele chegou perto do Henrique e falou:

-Saca só como você faz a gata não querer terminar com você depois de fazer merda. -ele chega perto de mim e sussurra no meu ouvido. -Sabe qual a diferença entre você e um cubo mágico? É que do cubo mágico eu desisto.

Caímos na risada e Henrique ficou sem entender nada já que não havia ouvido.

-Já que vocês nos fizeram sermos expulsos do cinema, vão pagar a comida, incluindo a minha e, consequentemente, vão gastar muito dinheiro. -digo tentando parecer ameaçadora.

Um celular toca, os três pegam o telefone para conferir de quem foi (maldito iPhone com toque tudo igual).

-É meu. -disse Henrique. -É a Vi, ela essa vindo pra cá e quer nos encontrar. -ele digitou algumas coisa no celular. -Pronto.

-Estamos falido. -disse Arthur para Henrique.

Fomos até uma lanchonete e ficamos sentados esperando a Vitória.

-Clara! -uma voz conhecida em outra mesa me chama.

Eu olho e levanto:

-Ian! -vou até à mesa dele, onde Igor, o namorado dele, também está sentado.

-Oi gatinha. -Ian me cumprimenta. -Quanto tempo? Tô me sentindo um esquecido.

-Foi mal, Ian. -me desculpo abraçando ele. -Mas com o Igor do lado, você não precisa de mim. -digo e riu.

-Realmente, mas vamos combinar de sair, encontros de casais. -ele pede. -Diga sim, por favorzinho.

-Tá bom. -eu digo. -Quem vai?

-Só a gente mesmo. Eu e Igor, você e Arthur, Henrique e a namorada dele...

-Vitória. -eu digo sem nem perceber.

-É, Vitória. -continua Ian. -E o Daniel e a Bianca.

-Espera o Daniel e a Bianca estão namorando? -Ian assente com a cabeça. -Que top, eles são tão ridículas que chegam a formar um casal legal.

-Eu deveria estar bravo de você falar assim do meu irmão, mas não é que eu concordo com você. -nós rimos.

-Tá bom, Ian. Vou voltar lá pra minha mesa. -olho pra mesa onde estão Arthur, Henrique e, agora, Vitória. -Olha a Vi chegou. Beijão meninos.

-Tchau docinho. -diz Ian ao mesmo tempo que Igor dá um "até logo".

Chego na mesa:

-Ainda bem que você chegou, Vitória. Já não aguentava mais esses dois.

O IRMÃO DO MEU MELHOR AMIGOWhere stories live. Discover now