7.2 Fogo

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Não pensei duas vezes antes de marchar até ela e agarrá-la pelo braço, a arrastando comigo até um canto afastado onde ninguém nos visse. Eu precisava gritar. Precisava cuspir, chacoalhar, apertar e morder. De preferência, ela.

Todo o trabalho da noite, todo o esforço da equipe e o sucesso que o bordel tinha finalmente alcançado, na linha por causa dela. Tudo podia ter sido perdido.

E ela só sabia rir.

Aliás, rir não, gargalhar. Quando a enfiei na parede escura que antecedia os quartos, Lola era só risadas, parecia estar tendo o melhor dia do seu ano. Aquilo, se possível, me deixou ainda mais puto.

- É engraçado, né? – comecei, minha voz perigosa e embebida em ódio. - Hilário como você conseguiu foder com o Rendevouz inteiro por capricho. Por ser uma mimada do caralho! – minha voz aumentou no final e eu percebi que começava a colocar para fora minha indignação, extravasando em urros de impaciência.

Ela levantou a sobrancelha perfeitamente delineada, ainda com a sombra de um sorriso divertido nos lábios, mas antes que pudesse me responder, algo que eu logo reconheci como Do I Wanna Know? do Arctic Monkeys começou a tocar, indicando que o caos finalmente havia passado.

Eu ri sozinho. Eu costumava ser louco por aquele álbum, escutava-o tanto e nunca tinha percebido... O quanto a letra se encaixava no meu presente.

Have you got colour in your cheeks?

Do you ever get that fear that you can't shift the type

That sticks around like something in your teeth

Are there some aces up your sleeve

Have you no idea that you're in deep?

I've dreamt about you nearly every night this week

How many secrets can you keep?

Deixei a melodia preencher minha alma e encarei meu pesadelo particular na luz quase nula que nos banhava, ali separados do mundo onde eu tivesse a privacidade para gritar com ela tanto que minha garganta ficaria arranhada. Mas eu não queria mais aquilo. Agora, eu queria puxar seus cabelos e lhe ensinar uma lição. Queria que ela se arrependesse e jurasse nunca mais entrar no meu caminho.

- Escuta, princesa... Eu to farto de você. Tanto que só de olhar pro seu rosto eu tenho vontade de me matar. – ela engoliu em seco, ficando séria. – Você passou de todos os limites e não foi bonitinho, gracioso ou sexy, como você deve imaginar nessa sua mente deturpada. Foi escroto. Você é uma escrota.

Segurei a mão dela no ar antes que atingisse o meu rosto.

- Que linda, não consegue ouvir umas verdades e já precisa partir pra ação, não é? Eu não sou seu cliente, garota. Eu não to na sua presença porque escolhi, ou porque paguei por isso. Eu não tenho que te suportar.

Soltei seu pulso com força e dei alguns passos ao seu redor, um sorriso de escárnio em meu rosto e o silêncio que ela ecoava mostrando que a situação estava sob o meu controle.

- Eu to curioso: Você por um acaso pensou nas consequências do que fez? Nas suas colegas de trabalho que perderiam um dia extremamente gratificante em questões monetárias por birra sua? Na fama do Rendevouz que poderia decair em segundos se os clientes que estão aqui fossem identificados correndo de um incêndio que não existia? Em todo um esforço que passamos toda a tarde programando indo por água abaixo por... O quê? Tem algo que justifique? – a olhei, os olhos em fenda tentando extrair nem que fosse mais material para xingá-la até o fim da madrugada. Ela engoliu em seco e molhou os lábios, respondendo como um robô:

[Degustação] BordelWhere stories live. Discover now