2.1 Virgem

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             Dez horas da noite, eu vesti mais um conjunto de roupas sociais como em toda manhã e entrei no meu carro rumo ao bordel. Qualquer homem da minha idade estaria com um maço de dinheiro no bolso e um sorriso ladino, pensando no tamanho dos peitos em que mergulharia naquela noite.

            Eu não. Não só porque eu não tinha mais acesso a um maço de dinheiro, mas principalmente porque, pra mim, sexo nunca foi essa sujeira toda. Nunca foi físico ou fisiológico daquela maneira, nunca foi superficial. E de pensar em dormir com uma mulher que já havia passado pela mão de tantos outros, que não significava nada pra mim e que nem sequer se daria ao trabalho de me beijar, era inimaginável.

            Sexo, pra mim, era o ato de dar e receber prazer, e trazia uma conexão, uma intimidade. Foda-se o que meus amigos falavam, o que os homens em geral achavam de sexo casual e de pagar por um boquete, eu não funcionava assim, não ficava duro só com o vislumbre de um corpo bonito, eu ficava duro quando admirava a pessoa, quando ela se parecia ao menos um pouco com um ser humano, e não com uma máquina de engolir ereções, quando ela apresentava problemas e falhas como todo mundo e, principalmente, quando ela me intrigava.

            Talvez eu tivesse nascido com defeito. Ou talvez eu só realmente não fosse fã de foda paga.

            Entrei no Rendevouz sentindo o cheiro característico de cigarro, suor e porra. Será que todo puteiro cheirava daquele jeito?

            Estava bastante cheio, enquanto homens de todo tipo sentavam-se em mesas espalhadas pelo salão, e mulheres de trajes questionáveis tratavam de pular entre as conversas, completamente insinuantes, tentando convencê-los a contratá-las pela noite.

            Eu me apoiei no balcão, longe da área de caça, e pedi um Whisky para o único homem que trabalhava ali. Não me parecia muito sensato não ter um segurança, e menos ainda colocar um homem para servir as bebidas em um lugar lotado de testosterona, mas eu preferi anotar aquelas sugestões mentalmente para apontá-las mais tarde a Papá.

            Apesar de serem, de certo modo, concorrentes, todas as prostitutas pareciam se tratar com muito carinho. Acho que por passarem por muitas experiências em comum, elas acabavam se aproximando e deixando a competitividade de lado. Quando mudavam de mesa, elas sempre paravam para brincar umas com as outras, fazer algum comentário, provocar riso. Vi inclusive algumas vezes elas se ajudarem, enaltecendo para os homens as características uma da outra, passeando as próprias mãos pelas curvas da colega para deixá-los com vontade.

           

            Perdido na observação da dinâmica profissional que se aplicava ali, ouvi mais do que vi a mesma garota dos gritos de mais cedo aparecer ao meu lado. Ela se debruçou no balcão sem reservas e implorou ao barman por três doses de tequila.

            - Na conta de quem? – ele perguntou sem se abalar, como se elas funcionassem de garçonetes também ou como se estivesse acostumado com os pedidos dela.

            - Na minha mesmo. Tô precisando de álcool essa noite. – estranhei bastante o pedido, sabendo que as doses não deviam ser baratas e a encarei de cima a baixo. Quanto uma puta como ela poderia ganhar por dia para se dar ao luxo de beber daquela forma?

Quer dizer, já disse que ela era bonita. E gostosa, claro. Mas será que ganhava mais do que eu na época da Bolsa? O que ela tinha, uma boceta de ouro?

- Dia difícil? – ele perguntou, servindo as doses para ela sem demora. Tentei tirar meu foco da conversa e voltar a observar o ambiente, procurando o que poderia ser tão interessante que fazia Papá não querer se despedir do lugar. Mesmo assim, o tom de voz dos dois ainda chegava até mim com facilidade.

- Cansada de explicar a tabuada para esses imbecis.

- Estão insistindo de novo na entrada proibida? – ele riu, e eu revirei os olhos. Nunca vi muita graça em comer a bunda de uma mulher, mas aquele fetiche masculino era manjado já. Uma profissional do sexo então devia saber daquilo mais do que eu.

- Estão quase leiloando minha boceta, isso sim. Nunca vi homem reclamar de só poder anal e oral.

Me virei imediatamente para olhá-la. Uma puta virgem? Não era possível. Não fazia sequer sentido. Eu tinha que ter entendido errado.

Antes que eu pudesse fazer a pergunta descarada, ela se virou, um pouco mais trôpega pelos shots, e voltou à mesa repleta de cavalheiros não tão educados.

Minha cabeça girava com aquela informação. Era a coisa mais diferente que eu já tinha ouvido, alguém que vende o corpo, mas ao mesmo tempo se resguarda, que faz coisas tão mais chocantes e não transa. Ela era maluca? Descompensada? Tinha algum problema íntimo, ou o fazia por escolha? E seus clientes aceitavam isso ou questionavam tanto quanto eu? Qual seria a desculpa que ela dava para não lhe penetrarem a intimidade?

A partir dali, eu a assisti a noite inteira. Não tirava meus olhos dela, como se a qualquer momento ela fosse ligar um aviso neon que respondesse minhas dúvidas. E, sinceramente, o tempo acabou não se arrastando da forma como que achava que iria.

A tal da Lola era divertida de observar. Ela fazia piadas para os seus clientes em potencial, brincava com eles e jogava com o juízo alheio, sempre de uma forma muito natural e cativante. Chegou a deitar em uma mesa para lamberem bebidas de sua barriga e fazer mais algumas gracinhas, que levavam sua plateia ao delírio. Tinha o riso fácil e provocava o deles também, deixando o ar do ambiente mais leve e descontraído, apesar das luzes baixas e das paredes vinho. Era como se fosse uma amiga... Uma amiga muito gostosa a quem eles teriam a chance de foder no fim do dia.

Aquilo me intrigou. Pareceu fora do comum e eu me peguei interessado. Não em pagar por ela, mas em saber como se tecia sua tática. Como ela prendia a maior roda de homens do salão na sua teia, de forma que eles não se preocupavam em procurar outras acompanhantes, mesmo as outras prostitutas sendo bem mais acessíveis e provocativas.

Era quase como se ela gostasse do que fazia. Ou fingisse extremamente bem. Dedicava-se àquele misto de sedução e conquista como se fosse sua atividade favorita no mundo, seu hobby, seu lazer. Como se fosse tão gratificante quanto a Bolsa.

Talvez eu precisasse categorizar esse tipo de gente novamente: Elas podiam ser mais do que meras preguiçosas que não usavam a cabeça, podiam ser dementes que aproveitavam seu trabalho.

Minha cabeça viajava em alternativas, e eu sentia meu corpo elétrico. Ficava imaginando em qual teoria eu iria colocar minhas fichas, quais as variáveis mais prováveis, como eu podia antecipar seus atos de acordo com os sinais que despontava. A bebida podia estar fazendo efeito, mas eu conhecia bem aquela sensação, aquela ansiedade sem precedentes me era extremamente familiar. Era exatamente daquela forma que eu me sentia ao comprar e vender ações compulsivamente.

Não precisei ficar até o bordel fechar para decidir que eu tinha um trabalho de campo para fazer, um desafio com forma, nome e preço, que eu queria passar os próximos dias estudando. Bati na porta do escritório de Papá e lhe ofereci minha decisão de realmente administrar aquele negócio sem exceções.

Eu podia estar louco. Mas a adrenalina sempre foi minha perfeita meretriz.

[Degustação] BordelWhere stories live. Discover now