5.3 Concorrência

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Para me esquecer da imbecilidade a que Lola me acometia, eu me enfiei no escritório de Papá pelas próximas duas horas.

Verifiquei todos os concorrentes da região, seus sites, páginas de facebook, descontos, promoções, atrações, e cheguei à conclusão de que todos eles tinham em comum um elemento: as noites temáticas.

Eu achava que esse tipo de diferencial era importante em clubes de casas de strip-tease, mas que em bordéis isso se tornava desimportante, visto que as pessoas iam apenas com o intuito de transar.

Acho que eu estava errado. Se todo mundo fazia – e seus números, eu podia apostar, eram melhores do que os do Rendevouz – é porque era uma carta na manga digna de nota.

Assim, eu logo me coloquei a fazer novas pesquisas, dessa vez de ideias do que pudesse agitar as paredes do nosso bordel e engordar o caixa.

Vi que tinha um filme novo, Magic Mike XXL, que parecia ganhar a atenção das pessoas por terem shows de homens seminus e provocativos para uma plateia disposta a jogar dinheiro. Eu podia reverter aquilo em um show de dança das garotas, mas ainda sentia que faltava algo, um tom mais caricato.

Não foi até eu cair no site de um sex shop que a ideia se apresentou.

Todos os blogs falavam do "fenômeno 50 Tons de Cinza". Uma série de livros com uma pitada de sadomasoquismo que pareceu levar até os mais conservadores dos leitores a ansiarem avidamente experiências do tipo.

Sex shops tinham sessões específicas com chicotes e bolas de prata características, lojas de presentes criaram séries de almofadas e jogos de copos com frases do filme, o DVD e os livros não deixavam os mais comprados de todas as livrarias, e um concorrente do bairro vizinho gabava-se de ter um "Christian Grey brasileiro".

Definitivamente, eu precisava explorar aquela oportunidade.

Tudo bem que o apelo da história era muito mais feminino do que masculino. Mas nós podíamos conta-la de uma forma diferente...

Quando deixei o escritório já atrasado para encontrar toda a equipe de funcionários aguardando meu direcionamento, minha cabeça já estava lotada de ideias que eu não podia esperar para pôr em prática.

- Pessoal! – chamei, obtendo a atenção do pequeno grupo ansioso que conversava entre si. – Hoje vamos fazer algo diferente e eu vou precisar da ajuda de vocês para que funcione de acordo.

- O leilão não deu certo? – Mercedes perguntou, confusa. Todo mundo tinha visto o sucesso da noite anterior e me ver desconstruir aquilo lhes parecia loucura.

- Deu! Deu muito certo. – assegurei, e eles acalmaram um pouco. - O que significa que os clientes de ontem foram fisgados e não vão nos trocar. Mas, se queremos reerguer o Rendevouz, é preciso conquistar novos igualmente.

- O que nós vamos fazer? – Atibaia perguntou e eu lhe sorri, ansioso.

- O leilão vai continuar a ser nossa especialidade. Afinal, não se mexe em time que está ganhando. Mas, aos sábados, vamos trazer noites temáticas especiais para atrair um público diferente.

- Temáticas... Tipo vestir as meninas de coelhinhas na páscoa e mamães Noel no natal? – o novo segurança perguntou e eu tive que admirar a forma como ele parecia animado com a ideia.

- Bom, eu estava pensando em algo menos óbvio... Não que seja uma má ideia. Mas que tal se a gente começar com uma noite 50 Tons de Cinza?

Mercedes pulou de sua cadeira e bateu palminhas, clamando que este era seu livro favorito, e levando todos aos risos. Ela era extremamente doce. Eu jamais acreditaria que era uma prostituta se a visse na rua, mesmo com seus trajes usuais.

- Nesse caso, você vai ser a estrela. – eu disse e ela ficou ainda mais feliz, saltitando nos saltos imensos até vir me dar um beijo estalado na bochecha.

- Você é o melhor chefinho do mundo! – esfreguei meu rosto, dando risada.

- Ceci, vou precisar de você também. Pode encarnar uma Christina Grey por uma noite?

- Meu amor, eu nasci pra isso! – se gabou, batendo nos cabelos channel e os fazendo balançar.

- Ótimo. Vamos ensaiar um número entre vocês duas. Vou precisar de ajuda com as roupas delas, alguém pra dar conta do bar enquanto o número acontece, e alguém com a música.

Selena se voluntariou, indo para trás do balcão pegar a coqueteleira, enquanto Maya ia ao quarto que Ceci normalmente usava para pegar seus chicotes e roupas de couro, e Atibaia me oferecia um joinha, apanhando o iPod da caixa.

- Maravilha, pessoal, ao trabalho! – deixei Papá auxiliar Selena com algumas praticidades que poderiam acelerar seus movimentos em um bar lotado, enquanto Atibaia ia fazer o download da playlist do filme.

Iria com Maya, Ceci, Mercedes e o novo segurança ensaiar alguma coreografia que parecesse suficientemente sensual e autoritária, mas percebi que precisaríamos de um bom tanto de divulgação para que aquilo funcionasse.

Lola estava lixando as próprias unhas em um canto e Priscila assistia tudo com um sorriso e o pequeno Murilo no colo.

- Vocês duas! – chamei, obtendo sua atenção. – Sabem alguma coisa de tecnologia?

- A Lola fez uma vez uns efeitos especiais incríveis em uma foto nossa, né, amor? – a loira gritou para Papá, que acenou positivamente.

- Photoshop? – perguntei baixo, com receio que ela desse mais uma saída estrondosa agora que precisava de todo mundo ajudando. Lola acenou positivamente, sem mudar a expressão de tédio. – Tudo bem, vocês duas vão fazer uma arte de divulgação para hoje e postar na página que eu fiz para o Rendevouz. Está aberta no computador de Papá.

Priscila se animou com o gritinho fino de Murilo e seguiu para o escritório.

Ficamos então eu e Lola nos encarando, um clima tenso pesando o ar. Ela não parecia feliz, mas mais do que isso, aparentava ter dificuldade de continuar calada sobre algo entalado em sua garganta. Seus lábios se pressionavam e sua testa estava franzida, em um debate interno severo.

Não sabia porque, mas vê-la daquela forma não me agradava. Ela era sempre tão desbocada, que acho que eu sabia o quão terrível deveria ser a fonte de sua angústia para que dessa vez ela guardasse para si, ainda que de forma precária.

Ameacei dar um passo para me aproximar e perguntar o que era, mesmo que aquilo levasse tudo à baixo em mais uma briga sem sentido, mas ela estremeceu e seguiu Priscila antes que eu o fizesse.

N/A: Pessoal, espero que estejam gostando!

Bordel é uma história complicada de escrever, tanto pela densidade dos personagens quanto pela ambientação do enredo, e por isso mesmo o feedback de vocês me ajuda demais!

Se puderem perder uns minutinhos pra me dizer o que estão achando, eu agradeço ^^

Além disso, para aqueles que não sabem, eu tenho um grupo no facebook, onde aviso previsões de atualização e posto spoilers e curiosidades sobre as minhas histórias. Chama-se Histórias de Má Marche e eu vou adorar vê-los por lá!

Beijão e até a próxima!

[Degustação] BordelWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu