4.1 Amiga

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Quando a tarde chegou, nos reunimos todos no salão para fazer um feedback rápido do dia anterior. Eu deixei que todo mundo falasse sua percepção das mudanças que implantamos e fiz questão de anotar até as sugestões mais loucas ou impossíveis. E todos tiveram algo a dizer. Kurt, o novo segurança, Priscila, Papá, todas as garotas, e até mesmo o pequeno Murilo, que pulou no meu colo no instante que sentamos em roda e prestou muita atenção em tudo que era dito enquanto brincava incessante com os botões da minha camisa. Eu estava começando a desconfiar que ele só gostava de mim por causa da blusa social quando ele fez a graça de murmurar algumas palavras novamente como "patabéns" e "oba!", o que fez as pessoas explodirem em uma onda de admiração.

Mas aquele "todos" não incluía a rainha da contra. Claro. Lola não abriu a boca a tarde inteira e mal subiu o olhar para as colegas enquanto canibalizava seu lábio inferior, mordendo-o com tanta força que chegava a impressionar.

Apesar do meu olhar sempre pousar nela de tempos em tempos, consegui conduzir a reunião sem interferir a seu favor, e já aproveitei para explicar com muitas palavras o porquê da taxa dos quartos ter aumentado. Ouve um pouco de agitação, mas no fim elas pareceram já estar esperando por aquilo, e acalmaram.

O problema realmente foi quando tentei tabelar os serviços que elas prestavam. Ceci ficou bem incomodada, dizendo que não se encaixaria na tabela nunca, por ser uma dominatrix, e quando eu ofereci de colocar uma categoria "mais", Mercedes protestou, dizendo que os clientes entenderiam que todas elas praticavam BDSM e que aquele não era seu caso.

Discutimos o assunto por quase uma hora inteira, e chegamos à conclusão nenhuma. Atibaia chegou a tomar o meu lado e tentou explicar para elas o porquê daquilo ser importante, mas o clima só ficou mais frio e todo mundo acabou indo embora para suas casas sem um combinado, para voltar dali a algumas horas para o trabalho.

Sentei no bar e enfiei os dedos nos meus cabelos pensando em como aquelas meninas eram difíceis. Não tinha uma que não fosse geniosa, todas não tinham problema com argumentação e o nível da discussão sempre parecia sair um pouco do aceitável.

Percebi pela visão periférica alguém se sentar ao meu lado. Estava certo que era Papá, então não me dei ao trabalho de perder a pose derrotista.

- Elas não fazem por mal. Mas a vida inteira receberam ordens de homens do que fazer e por isso qualquer sugestão vinda de você as deixa na defensiva – uma voz suave disse e levantei o rosto para encontrar Atibaia.

- Achei que você tinha ido embora também.

- Eu percebi que você precisava conversar. – sorrimos, complacentes.

- Só queria organizar isso da melhor forma, mas elas não parecem muito abertas para que isso ocorra.

- Infelizmente, Matteo, antes de colocar os pés nessas águas, você precisa primeiro entendê-las. Aí quem sabe elas te deem ouvidos. – mais uma dizendo que eu não fazia questão de saber com o que estava lidando. Se mais alguém me dissesse aquilo, ficaria óbvio e eu teria que parar de ignorar.

Talvez agora fosse uma boa hora já.

- Me explica então. – Atibaia entendeu na hora o que eu queria, virou o banco para mim e puxou uma caderneta e uma caneta que descansavam ali no balcão.

- Mercedes faz o tipo inocente. Os homens gostam de fazer role-play com ela, fazem com que ela se fantasie de colegial, de enfermeira, de escoteira, enfim. O que interessa a eles sobre ela é a sensação de estar corrompendo alguém doce. Assim, a fantasia de estupro é um dos serviços que ela oferece, e cobra caro por.

- Fantasia de estupro? – ecoei, confuso.

- É. Eles prendem seus pulsos e tampam sua boca enquanto a fodem, e ela grita e se debate como se fosse contra sua vontade.

[Degustação] BordelWhere stories live. Discover now