Capítulo 25

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Então o amor é isso. É partir, queimar e acabar. Durante a minha vida inteira eu me sentia curiosa para saber como é amar alguém que não seja da minha família ou um amigo próximo. Sempre quis sentir o mesmo que as outras pessoas quando elas encontravam suas almas gêmeas. Besteira... Dificilmente algum casal é feliz para sempre. Ou se divorciam no meio de suas vidas ou discutem todos os dias. No meu caso, não tive nem tempo de chegar até lá. Eu simplesmente fui deixada para trás por alguém que eu nunca duvidei de que me amava de verdade. E o pior disso tudo: ele sempre soube que meu pior pesadelo é quando as pessoas somem da minha vida sem deixar pistas e simplesmente fingem que nunca me conheceram. E foi exatamente isso que ele me pediu na carta. Ele estava fazendo exatamente como meu pai; abandonando-me, me esquecendo e mostrando que eu nunca signifiquei nada. E a parte mais dolorosa de tudo é perceber que o tempo todo eu fui somente um passatempo na vida de David. Eu o ocupei durante algumas horas de seu dia para que se esquecesse da noiva que o deixou e fiz parte de sua recuperação quanto à bipolaridade. Claro que fiz. Afinal, ter alguém vulnerável e capaz de tudo por ele é bem bom, não é mesmo?

Agora eu estou aqui, trancada em meu quarto com as luzes apagadas. Raquel pediu para entrar, mas eu disse que não. Minha mãe, Charlotte e Thaís estão na cozinha, tagarelando alto. Eu nem queria pensar no que elas pensariam disso mais tarde, pois, para mim, não faria diferença alguma. Tudo o que eu mais quero no momento é descobrir o motivo pelo qual David fez isso. Será que ele já pensava em me deixar antes de fazermos amor? O ele já pensava nisso desde o início, quando me beijou pela primeira vez?

Fechei os olhos e afundei a cabeça nos travesseiros atrás de mim. Apertei o papel em meus dedos. Queria rasga-lo em mil pedaços, mas não tinha coragem. Nenhuma gota de água derramou-se pelos meus olhos até agora, pois eu ainda não consegui acreditar no que está acontecendo. Já li a carta dezenas de vezes e, sempre que eu chego ao fim, é como se eu estivesse prestes a acordar de um sonho ruim. Mas acontece é que eu não acordei até agora e a realidade está me assustando.

Ele parecia tão verdadeiro e intenso com cada palavra que me dizia. Me ajudou a ficar bem quando estava me sentindo em um poço de problemas e até mesmo cuidou da minha mãe para que eu pudesse descansar. Ele entrou na minha casa, conviveu com a minha família e no final de tudo eu simplesmente descobri — da pior maneira possível — que ele estava sendo um cretino o tempo todo.

É difícil pensar assim e se dar conta de que eu não passei de uma simples coisa na vida dele, enquanto ele, para mim, significava tudo. Eu seria capaz de qualquer coisa por ele. Mataria e morreria se fosse preciso. Com ele eu me sentia forte e pronta para qualquer coisa. Contudo, nada passou de uma ilusão. Ele estava usando uma máscara desde que nos conhecemos e eu nunca percebi. Nunca fui capaz de arrancá-la antes que fosse tarde demais. E quando ela caiu, ele não estava mais aqui para me ouvir. Não estava mais aqui para eu descontar a raiva que sentia.

— Ali — ouvi a voz de Raquel do outro lado da porta, acompanhada de batidinhas fracas.

Não respondi. Ela saberia que eu estava ali dentro.

— Quer jantar? — perguntou-me.

— Não.

— Quer que eu traga um prato para você?

— Não.

— Precisa de alguma coisa?

Entre todos os motivos que eu tinha para não sorrir, eu sorri. Raquel ficaria ali na porta me perguntando milhares de coisas até que eu finalmente pedisse para que ela entrasse. Ela sempre faz isso.

— Pode entrar. — falei.

Em um piscar de olhos, ela já estava dentro do quarto e o barulho da porta se fechando entrou pelos meus ouvidos. Tudo estava escuro e eu não fazia a mínima ideia se ela sabia onde eu estava.

O Chefe - com David LuizWhere stories live. Discover now