Capítulo 15

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Eu não sou o tipo de garota que as pessoas passam na rua e olham por uma segunda vez. Muito pelo contrário. Eu sou normal. Não vou receber um insulto dizendo que sou feia, mas também não vou receber um elogio dizendo que sou bonita. Na verdade, as únicas pessoas que me falaram isso foram Raquel e minha mãe — que não conta, porque ela é aminha mãe. Ah, e David, claro. Mas eu sei que ele disse isso porque apenas precisava da minha presença na festa de hoje à noite, na empresa Marinho's. Porém, sobre todas as coisas, eu me via na frente do espelho agora, e me achava consideravelmente bonita. Quero dizer, não o bastante para ser comparada à Dabrya e sua beleza de boneca — daquelas que encontramos nas lojas —, mas o bastante para dar às boas vindas aos empresários.

— Vai lá e arrasa. — Raquel disse, dando um leve tapinha em minha bunda.

Sorri nervosamente enquanto me olhava no espelho, sem conseguir entrar no seu mesmo ritmo de animação. Chequei por uma última vez meu vestido negro, que caia até os meus pés, deixando um grande decote entre meus seios, que ia até um pouco acima da metade de minha barriga. Além disso, um corte abria-se em minha perna esquerda, deixando à mostra minha pele clara. Meus cabelos estavam jogados por cima dos meus ombros, bagunçados o suficiente para ficar um penteado legal. Embora Raquel ficasse repetindo que meu vestido era lindo e que se encaixava perfeitamente em mim, ainda tinha medo de ser inapropriado para a reunião. É claro que Dabrya iria muito mais à mostra do que eu, mas, mesmo assim, eu estava com medo do que David iria pensar e, talvez, até mesmo evitar fazer outro convite como esse.

— Será que poderíamos ligar para David e dizer que eu passei mal? — perguntei, roendo as minhas unhas, batendo o pé no chão, assim como minha melhor amiga fazia e tanto me irritava. — Eu posso mentir que tive uma intoxicação alimentar, ou até mesmo que estou com cólica...

— Cala a boca, Alice. — Raquel disse, esborrifando meu perfume em meu pescoço. — Você precisa dessa noite para mostrar que é uma funcionária responsável. Quem saiba, ele até te leve para Paris e você acaba vendo sua mãe.

— Eu não estou indo por isso. — revirei os olhos. — Não quero que ele fique sem alguém ao seu lado para receber os convidados. Se Dabrya estivesse lá e mesmo assim eu fosse convidada, não iria esperando algo em troca.

— Tudo bem. — ela disse, erguendo os braços para cima e logo se jogando na cama. — Você é quem sabe. Mas o que eu sei de verdade é que estou com vontade de comer um hambúrguer bem grande.

Eu ri e revirei os olhos novamente, sentindo a tensão ir embora por um breve segundo. Com seu quase segundo mês de gestação, a barriga já estava aparecendo, mas era pouca coisa — o que Raquel já exagerou e disse que já tinha engordado sete quilos. Além disso, seus desejos pelas comidas mais diferentes e gordurosas eram engraçados. Ontem mesmo ela estava com vontade de comer sushi às quatro e meia da manhã. E atualmente ela está comendo como se tivesse que alimentar um batalhão, e não apenas ela e um feto quase que minúsculo.

— Falando em comida, Nathan já está chegando. — ela disse, olhando impaciente para o relógio. — E você está atrasada.

Respirei fundo, me encarando outra vez pelo reflexo do espelho, vendo Raquel me olhando com cara de quem dizia"para de ser idiota". Olhei em volta e fui depressa até onde estava o molho de chaves da Picape e o agarrei na minha mão, sentindo uma coragem repentina. Abaixei-me até onde Raquel estava deitada e apontei para a minha bochecha, pedindo-me para ela em entregar um beijo ali. Assim que ela o fez, beijei de leve sua barriga, para não manchar sua blusa com o batom vermelho que eu usava, e saí do quarto sem olhar para trás. Eu queria aproveitar essa coragem desconhecida para sair de uma vez por todas desse apartamento e ir até a empresa, sem me restar chances de desistir.

O Chefe - com David LuizWhere stories live. Discover now