Capítulo 8

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Durante todo o tempo em que estivemos no carro o David resmungava coisas como "eu deveria ter tirado aquela máscara" e "eu deveria ter o matado". Eu escutava em silencio deitada nos bancos traseiros do carro, sentindo minhas mãos e pernas tremer sem parar. Respirei fundo, sentindo o perfume másculo de David que exalava de sua capa preta, a mesma que ele me deu para cobrir minha pele desnuda, já que o meu vestido agora se encontrava completamente rasgado. Tentei várias vezes me acalmar, mas de nada adiantou. Eu ainda não consegui digerir tudo o que estava acontecendo e nem mesmo como eu tive a sorte de ter conseguido escapar disso. Apesar do pânico que me cercava na hora do ataque, eu sabia que já tinha sentido o calor da presença do atacante várias outras vezes, mas eu não conseguia saber quem era. Eu não conhecia ninguém que fosse capaz de fazer isso comigo — ou que ao menos demonstrou isso alguma outra vez. Eu estava com medo de continuar acordada e me lembrar de cada toque daquele crápula em meu corpo. A forma nojenta como suas mãos passavam por minha pele e me apertava dolorosamente me causam calafrios. Eu queria gritar, fugir, mas tudo o que eu fiz foi continuar parada esperando ele acabar com a minha vida da pior maneira possível. Mas então David surgiu de algum lugar e tirou-o de cima de mim, e em seguida me colocou em seu carro.

Eu estava tão submersa em meus pensamentos que mal vi a hora que o carro parou de frente para um portão, que se abriu automaticamente sem o meu Chefe precisar clicar em nenhum botão sequer. Porém, logo depois que passamos, vi que tinha um segurança guardando o portão, o mesmo que olhava curiosamente para o interior do carro, tentando enxergar alguma coisa através dos vidros escuros. Assim que paramos, David me pegou nos braços e subiu alguma espécie de escadaria, mas eu não tive coragem para abrir os olhos e olhar ao meu redor, pois parecia que se eu o fizesse, aquele homem mascarado iria surgir ali novamente, pronto para me atacar.

O único momento que eu tive coragem de abrir os olhos foi quando senti meu corpo repousar sobre algo flácido, o que sugeri ser um colchão. Pisquei algumas vezes, confusa por não saber onde estava, mas no mesmo instante vi a luz clara do quarto penetrar em minha visão. Eu sentia minhas pernas, braços e rosto latejarem com os machucados causados nos poucos minutos de terror. David tentava ajeitar alguns travesseiros atrás de mim, para me deixar mais confortável, mas desistiu quando percebeu que eu não queria deitar, pois minhas costas doíam demais. Ele me lançou um olhar gentil e me deu as costas, sumindo pelo corredor. Esperei com os dedos entrelaçados e a respiração ofegante. Ele voltou quase um minuto depois segurando em mãos várias gazes e um pequeno frasco de um medicamento de liquido transparente. Assim que se aproximou de mim, se apoiou nos joelhos para que ficasse da mesma altura do que eu e colocou as coisas ao meu lado na cama. Seu dedo indicador foi para meu queixo, levantando-o com cuidado para que eu o olhasse. Assim que meus olhos cruzaram com os dele senti a mesma sensação que sempre tinha quando o fazia. Aquelas íris castanhas me fizeram viajar para outro mundo muito além da realidade. Meu coração bateu forte algumas vezes, mas depois desacelerou quando a realidade voltou à tona e o medo me consumiu mais uma vez.

— Eu vou cuidar de você. — ele disse rapidamente quando viu minha feição preocupada. — Pode doer um pouco, mas é para o seu bem.

Tudo o que eu fiz foi assentir e deixar que ele fizesse o que tinha que fazer. Eu o vi umedecendo uma gaze com o liquido transparente e em seguida senti o tecido poroso e leve encostar-se em minha pele dolorida. Fechei os olhos, sentindo tudo arder, mas não fui capaz de me mover para que ele parasse. Ele teve que repetir o processo várias vezes para tirar todo o excesso de sangue que se aglomerou no meu rosto — o que não era pouco —, deixando no chão uma pilha de gazes agora vermelhas.

— Como você apareceu lá? — me senti encorajada a perguntar quando ele estendeu meus dedos sobre minhas pernas e começou a passar o mesmo medicamento em meus machucados que foram causadas pelos galhos secos do chão nas tentativas inúteis de fuga.

O Chefe - com David LuizWhere stories live. Discover now