- Dezessete anos com o mesmo visual, algum dia eu teria que mudar não é mesmo?

- Está certo. - Ele chamou o garçom e pediu a conta. - A gente tem que ir.

- É, eu sei. - Mordi meu lábio inferior e encarei meu copo vazio. - Acha que vou me divertir?

- Tenho certeza. Apenas seja você mesma filha. Estarei na torcida aqui por você e seus amigos.

Depois de pagar a conta fomos para o carro e seguimos para o aeroporto. - Está tudo com você não é? Identidade, passaporte, visto. - Ele perguntou enquanto tirávamos as malas do carro.

- Está sim.

- Pegou blusa de frio? Lá em cima faz muito frio.

- Peguei, está na mochila.

- Ah, comprei isso pra você, achei que poderia ser útil. - Ele pegou um travesseiro de viagem rosa no porta malas.

- Bem útil. Minha viagem será muito mais confortável. Obrigada.

- Não há de quê. - Ele sorriu enquanto ajeitava as coisas no carrinho. - Bom, vamos lá fazer o check in. Será que seus amigos já chegaram?

- Não sei, não me ligaram.

- Então vamos entrar, lá a gente liga pra eles. - Entramos no aeroporto e fomos para a fila do check in. Lá já haviam alguns alunos da mesma escola de inglês que a minha e dois professores. Não estava muito grande a fila, mas demoramos pelo menos uns quarenta minutos na fila e depois que fizemos o check in fomos esperar meus amigos que ainda estavam na fila. Chegaram uns dez minutos depois da gente.

- Dulce Maria, como é que a senhorita me pinta o cabelo dessa cor, corta franja e não me diz nada? - A voz de Ivalú estourou perto de mim me fazendo saltar da cadeira.

- Iva. - Sorri. - Gostou? Precisava mudar meu visual um pouco.

- Um pouco? - Perguntou Pedro ainda boquiaberto. - Se não fosse o seu pai eu nem te reconheceria, sério.

- Também não exagerem, é só tinta. Continuo com o mesmo rosto. - Dei de ombros. - E aí? Ansiosos?

- Bastante e você?

- Harram. Devo ter emagrecido uns cinco quilos no ultimo mês.

- E eu engordado. - Disse Ivalú. - queria ser dessas pessoas que não têm apetite quando estão ansiosos ou estressados.

- Você está ótima. Já eu estou um pouco abaixo do peso, e pra ajudar ainda sou anã.

- Você não é anã Dulce, e mesmo se fosse, lembre-se que os melhores perfumes estão nos menores frascos. - Pedro disse rindo.

- E os piores venenos também. - Indaguei.

- Eu estou com fome. - Disse Ivalú.

- Não jantou?

- Comi um pouco cedo.

- Eu acabei de jantar com meu pai. - Mordi o lábio inferior. - E não estou com nenhuma fome, mas se quiser vamos com você em alguma lanchonete ou restaurante aqui.

- Pode ser.

Seguimos para uma lanchonete e ficamos ali conversando enquando Iva e Pedro comiam. Meu pai interagia bastante com meus amigos e isso era bom. Imagina crescer tendo apenas ele como família e ele ser um velho chato perdido na idade da pedra?

Estávamos seguindo para a sala do embarque quando ele me chamou. Meus amigos entraram na frente e eu fiquei com ele.

- Filha, promete pra mim que vai me ligar assim que chegar lá?

- Prometo.

- Olha, isso é pra você. - Ele tirou uma caixinha azul turquesa aveludada do bolso. - É pra você não se esquecer de mim enquanto estiver lá. - Ele me entregou e eu a abri.

- Nossa papai, é lindo. - Era uma correntinha dourada com um pingente do símbolo da paz. - Mesmo que eu perca a minha memória eu jamais me esquecerei de você, eu prometo. Eu te amo muito. - O abracei forte e ele retribuiu.

- Vou sentir sua falta filha.

- Eu também vou sentir muito a sua falta papai, mas vai passar logo. Daqui a pouco você vai estar me esperando aqui e eu vou correr para os seus braços.

- Estarei de braços abertos. - Ele beijou minha cabeça. - Se divirta, tudo bem? Deixe-me por isso em você. - Ele pegou a correntinha da caixinha e eu me virei segurando meus cabelos no alto enquanto ele a colocava em mim. - Deixe-me ver. - Eu me virei. - Ficou lindo em você. - Ele sorriu. - Agora é melhor você ir antes que eu desista de deixar você ir.

- Tudo bem. - Voltei a abraçá-lo. - Eu te amo papai, nunca se esqueça disso.

- Eu também te amo meu amor. - Ele me apertou em seus braços. - Agora vai lá. - Ele me soltou, beijou minha testa e ficou me olhando entrar na sala de embarque.

Não demorou mais de vinte minutos para nosso vôo ser anunciado. Faríamos escala no Rio de Janeiro e no Panamá. Um dia inteiro de viagem praticamente.

Senti um calafrio ao entrar no avião. Só de imaginar que ficarei horas e horas dentro de um avião há milhas de altura sem ter para onde sair ou ar puro para respirar meu estômago já revirava.

O trajeto de Porto Alegre até o Rio de Janeiro foi bem mais tranquilo. Já o do Rio de Janeiro tive um ataque de pânico por estar muito tempo em uma caixa voadora.

Ficaríamos umas duas horas no Panamá o que certamente foi um alívio. Não consigo definir qual a pior parte de um vôo: a que ele está decolando e parece que algo vai puxá-lo pela cauda, a que você está lá em cima e sente que pode cair a qualquer momento, ou a que está aterrissando e você fica com a intuição de que o avião irá bater no chão e explodir.

Você está meio verde Dulce. - Falou Pedro me encarando. Provavelmente estaria, já que estava muito enjoada e parecia estar prestes a vomitar tudo que eu havia comido. Queria que isso acabasse logo, mas ainda teria mais umas longas horas de vôo. Fomos para uma lanchonete tentar comer algo, mas sem muito êxito. Não para mim. Nada do que eu tentava eu conseguia por pra dentro.

- Devia tentar comer algo e tomar algum remédio. - Ouvi meu professor. - A primeira vez que viajei de avião fiquei idêntico a você, e só vai passar algumas horas depois da viagem. O remédio pelo menos irá fazer você dormir. - Rodrigo era seu nome. Ele me disse zilhões de vezes que eu era sua aluna preferida. A mais comportada, a mais dedicada e todo esse blábláblá. Estudo com ele desde o primeiro ano, o que significa que o conheço há seis anos.

Foi graças ao remédio que não consigo me lembrar de nada desde que me sentei novamente na minha poltrona no avião. Me lembro apenas de me acordarem e de sentir um baque no chão. Abri a janela e olhei. Água, muita água. A velocidade fora diminuindo até o avião parar na área de desembarque.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora