PRÓLOGO

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                     Lana observava o menino dormir tranquilamente. Havia passado horas conversando com ele, como sempre fazia. Sabia que o garoto não gostava de ficar sozinho e por livre e espontânea vontade, fazia questão de lhe fazer companhia. Em silêncio permaneceu, lendo um livro na poltrona ao lado da cama do garotinho, até que foi surpreendida por sua voz.

— Ainda está aqui tia Lana? —Perguntou o menino. Seu cenho franzido demonstrava que ele não entendia o porquê de ainda vê-la ali — Não vai pra sua casa hoje?
A jovem acariciou o cabelo do menino e explicou calmamente:
— Não vou mais, irei ficar aqui com vocês.
— Vai ficar aqui mesmo, tia Lana?
A moça assentiu, sorrindo.
— Vou ficar mais perto de vocês agora. Terá com quem conversar sempre que quiser, o que acha?
O menino sorriu.
— Gosto muito de conversar com você, tia Lana. Onde está o papai?
— Ele teve que sair novamente, mas disse que voltaria para o jantar.
O menino suspirou, já estava acostumado com a ausência do pai desde que tudo aconteceu. Já havia um tempo que tinha se acostumado a estar sozinho sempre que voltava do colégio, quando a condução escolar lhe deixava na porta de casa e ele tinha que passar o dia sem a presença do pai — que sempre estava trabalhando em seus casos — e agora sem sua mãe, que era quem sempre estava por perto. Glória, a empregada, vez ou outra fazia companhia ao garoto, apesar de ter seus inúmeros afazeres domésticos e não ser paga para isso. Ela era quem incentivava o garoto a ocupar seu tempo com coisas que ele gostava de fazer, como ler e recitar poesias.
— Sinto falta da mamãe, tia Lana  — disse o menino, seu olhar era triste. Mesmo que tivesse passado um ano desde a morte de Helena, para ele era como se não tivesse passado nem uma semana. Sentia sua falta todos os dias.

          Lana, recém casada com seu pai, seria sua madrasta. Eles se conheceram na faculdade onde Richard fora dar palestras para os alunos do curso de direito e Lana era estudante de serviço social. Foram nessas palestras que os dois trocaram olhares e que se aproximaram. Após saber que o homem interessante e inteligente era conhecido do namorado de sua amiga de faculdade, Lana interessou-se ainda mais em saber dele. Os dois passaram a se relacionar e depois de pouco tempo, decidiram morar juntos. Lana ainda tinha receio da decisão, mas não tinha mais ninguém com quem contar e para ela, a ideia de finalmente ter uma família de verdade era algo bom. Agora, ela amava Richard e aquele garotinho.

— Também sinto falta da minha mãe — Sorriu de leve, desviando o olhar do menino, parecendo lembrar de algo bom, então olhou para ele novamente — Assim como ela está comigo, sua mãe sempre vai estar com você, em seu coração.
— Sinto ela aqui, tia Lana — dizia o menino apontando para o peito — Mas ainda sinto falta dela.
— Saudades sempre iremos sentir — a mulher falou, afastando os cabelos lisos e castanhos para trás, chegando mais próximo é dando um beijo na testa do garoto. — Tente descansar, sim?
— Vai ficar conosco pra sempre, tia Lana? — perguntou. De alguma forma ela lhe fazia bem, apesar dos poucos meses de convívio.
Ela sorriu, sem jeito. Começou a pensar que há algum tempo atrás, desejou não ter filhos tão cedo para não ter que assumir responsabilidades como aquela e agora estava ali, sentindo tudo que jamais esperou sentir por uma criança; o amor de uma mãe.
— Vou sim. Ainda vou pegar muito no seu pé.
O menino riu.
— Gosto de você tia Lana. Por favor, não vai embora como a mamãe.
— Vou cuidar de você, prometo. — repetiu, sucinta.

Lana sabia que tinha uma missão. Era tão jovem e já tinha uma responsabilidade tão grande. Aquela seria a primeira noite em sua nova casa e a partir daquele momento, se iniciaram grandes desafios. Ela precisava cuidar daquele menino pois sabia, ele precisava dela.




ARCANO    (COMPLETO)Where stories live. Discover now