1. (Décimo capítulo) Sem escapatória

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Ele se aproximou do tanque e tocou no metal que me enclausurava; no seu toque no tanque senti algo estranho, algo percorreu o tanque. Ele também tinha o uso do pulso eletroatômico. Este pulso nada mais é do que uma onda eletromecânica que alcança todo tipo de matéria e reage com esta liberando uma onda oposta. Esta onda oposta é única para cada átomo. Assim eu sei exatamente o que é cada coisa; ele estava analisando o tanque e a mim naquele momento.

Ah, você pode não ter entendido como usei algo de reconhecimento para atacar na base, mais cedo. A onda que usamos para analisar a matéria tem baixa frequência, então não atinge com força, é o suficiente apenas para vermos a reação e concluirmos a composição da amostra. Quando forço o pulso a exagerar da forma correta, posso fazer algo "levitar", se moldar à minha vontade, ter seu DNA modificado átomo por átomo, construir qualquer coisa, destruir qualquer coisa.

Ainda assim, não é fácil de controlar o pulso para ter tal controle. Tudo deve ser feito numa precisão cirúrgica, na verdade até mais do que cirúrgica. Só consigo por ter passado por anos de treino e estudo, ter dominado parte do por parte e passado por procedimentos clínicos para amplificar meu controle até ser minimalista no nível atômico. Meu sinal de ondas é extremamente nítido, para acertar no local e da forma correta; já o da minha companhia era mais instável, apenas o pulso realmente.

Seja lá o que for que o invasor queria ali, ele tinha total controle da situação, pois mesmo com um pulso desordenado, o estrago que ele poderia causar em mim em coma era extremo; ele poderia fazer o que quisesse. A proteção de Rylla e Üb tinha falhas.

Üb estava só agora e com suas reservas de energia mais limitadas do que nunca. Seu conjunto ataque-defesa estava ficando defasado, os sobreviventes estavam sabendo seu padrão e ele estava tentando atacar ao mesmo que se defendia e defendia o corpo imobilizado de sua discípula; era sua obrigação como mestre, protegê-la.

Então ele cometeu o mesmo erro de Rylla, tentou abrir mais o ataque e abriu sua guarda junto. Lançou uma faca eletrizada num grupo, a qual, obviamente, todos desviaram; neste momento, ele provocou descarregou eletricidade em todas as direções a partir da faca. Ao passar entre os soldados, a faca liberou a energia e eletrificou todos os quatorze do grupo e mais onze dos arredores. Ele já havia matado outros oito depois da captura da mulher,

Ainda assim, restavam mais dois grupos. Um de dez combatentes e um de quinze. Um soldado do grupo de quinze atirou em Üb e sua bala pegou de raspão no seu braço, rasgando a lateral manga da sua camisa, entre o cotovelo e o ombro. O sangue espirrou e ele se encapsulou em eletricidade por alguns segundos; rapidamente terminou de rasgar a manga longa a partir da parte danificada para fazer um torniquete. Sangrar é morrer aos poucos.

O instante em que ele se desprotegeu foi crucial, pois ele não sabia o que havia lhe esperando. Por isso, expandiu sua barreira elétrica para atingir quem estivesse esperando para o atacar. Desta forma, mais quatro foram atingidos. Os onze restantes se reuniram num grupo e o comandante ordenou que eles se espalhassem. Se Üb destruía pessoas como se não fossem nada, quase sem se afetar, um ataque concentrado e individual simultâneo, em que todos pudessem atacar de sua forma, talvez surtisse efeito. Ele queria vencer o soldado elétrico pelo cansaço, na realidade. Desta vez, não havia ninguém se escondendo entre as árvores, todos estavam contra Üb.

Seus ataques foram imobilizados facilmente, além de três haverem caído por terem sido descuidados, porém ainda havia uma carta na manga daqueles resquícios de tropa. O mais robusto deles controlava aquele metal que maleável e normalmente fazia combos com o segundo mais robusto, que carregava a bazuca com lança-granadas. Ele pegou a arma do outro e atirou para cima, a pondo em rota de colisão com Üb. Depois disso, ele usou o metal para proteger todo o seu grupo, como um teto.

Meu velho amigo ergueu novamente sua barreira já previsível, porém naquele momento o mais robusto acertou o armamento com um pedaço do seu metal, o descarregando e o explodindo quase ao mesmo tempo do choque contra o escudo.

Na base, Üb havia utilizado o chão como fixador da barra que projetava o escudo; por isso tinha bastante resistência ao impacto das balas. Dessa vez, ele estava utilizando seu próprio corpo e aquela força intensa foi demais para ele. Conseguiu manter seu corpo intacto, ao menos, contudo desmaiou na mesmo hora.

A tropa agora era composta por oito homens. O segundo mais robusto pegou armas daqueles que haviam morrido. Atiraram em Rylla para matá-la logo, mas a bala parou no ar e caiu. Meu invasor estava a protegendo. Melhor, talvez ele estivesse do nosso lado. Me senti mais seguro... Eu já deveria estar pronto.

— Kirk está os protegendo de algum jeito, vamos para dentro! – o comandante estava gritando; era possível sentir o pânico em sua voz.

Eles entraram tentando ser discretos, embora nem houvesse sentido pelo grito há uns segundos. Seus passos não eram tão silenciosos quanto os do meu invasor. A partir daí ficou óbvio que seriam alvos fáceis para qualquer dominador do pulso. Ao verem meu tanque, atiraram quase todos ao mesmo tempo; nenhuma bala consegui nem mesmo chegar perto do tanque.

Meu invasor expulsou eles do galpão com um único ataque de pulso, com um pouco dificuldade com os dois maiores. Mais balas paradas no ar, que voltaram em seguida. Maioria deles morrera instantaneamente ou se tornara incapaz de combater mais. Ele começou a caminhar calmamente na direção dos opoentes, para devastar os restantes.

A partir daí não senti mais nada, foi um breu só. Uma dor me transpassou dos pés à cabeça em um segundo e não parou por um tempo qualquer que pareceu uma eternidade. Era um sofrimento agudo, como se muitas agulhas furassem meu corpo continuamente e em locais diversos simultânea e aleatoriamente. Nunca havia sentido tanta dor. Meus órgãos pareciam estar sendo destruídos por dentro, parecia que o ácido do meu estômago estava escapando e corroendo tudo que encontrava no caminho.

Eu parecia estar tendo meus membros decepados um a um e separados do meu corpo. Meus olhos perfurados violentamente, eu queria gritar e não conseguia; talvez eu estivesse gritando, meus tímpanos pareciam ter sido arrancados de mim. Era tanta dor que eu não saberia o que ainda restava unido a mim.

Esquartejado, sem noção do que ainda compunha meu corpo e de espaço, tentei me concentrar para tentar ficar em pé. Não havia pernas ou pés para me erguer, não havia braços ou mãos para me apoiar no chão; não havia nem mesmo o chão. Não sei o que havia, o que não havia. Eu ainda havia?

Estava complicado de respirar, pois não havia mais ar. Ou será que não haviam pulmões para processar oxigênio? Tudo estava perdido, confuso, eu não sabia como fazer parar, nem se era possível fazer parar, nem mesmo o que estava havendo comigo ali.

Eu não enxergava, não ouvia, não me movia, apenas sentia as dores eternas internas e externas.

Se havia um inferno era ali.

Então começaram as visões.

Vi corpos em movimento ao redor dos outros, vi mortes, revi mortes, minha família morrer na minha frente, vi raios, vi relâmpagos e ouvi trovões. Tempestades antigas. Tempos em que eu fugia sozinho, sem ajuda de ninguém. Meu objetivo era sobreviver. Doença. Dor. Mais dor. Rios. Afogamento. Meu irmão sendo assassinado, depois minha irmã. Minha mãe sendo jogada num penhasco. Meu pai me agredindo. Minha família restante... Üb. Maioridade. Treinamento. Charn. Dor. Só dor. Raios. Trovões e gritos. Prisioneiro. Tortura. Fuga. Chuva. Gritos. Choro. Gritos. Lágrimas. Meus gritos. Só ouço meus gritos.




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