1. (Segundo capítulo) De volta

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A base é como pensei, quase igual a todas. Primeira câmara com os dormitórios, onde há camas quase sem uso e feridos nas mais longínquas da porta. De lá há mais três câmaras importantes: cozinha, estratégia e laboratórios, meu setor. Sou alocado numa cama e Krain diz não precisar de cama, dormirá no chão ou com os peixes do laboratório (provavelmente leu minha mente para saber que há estes animais na base, eu os enviei). Não há bagagem para deixar lá, não quero me desfazer de arma nenhuma no meio de uma guerra; ganho roupas, pois não tenho nenhuma comigo além da que visto. Vou ao banho antes de ir continuar minha viagem.

A minha câmara está me esperando e ao entrar tenho a sensação de "casa" que sempre sinto num laboratório de última geração. Há todo tipo de máquina, dezenas de visores e vidrarias, vários técnicos em serviço e alguns engenheiros; vejo um grande aquário, que Krain deve ter percebido em meu pensamento não sei quando. No fundo está minha parte: um robusto conjunto de telas e botões que formam um computador. Nele há uma saída com fios que se ligam a eletrodos sobre a mesa de controle em frente; lá está minha cadeira.

Que saudade estava deste ambiente, os últimos laboratórios que tive acesso foram improvisados, apenas para planos de fuga e avanços mínimos na pesquisa. Aqui já é outra história, tenho equipamentos de qualidade e auxiliares com o mesmo nível ou quase.

— Olá, Dr. Schultz — 13Um outro homem. Ele está de jaleco, é mais baixo que eu, é negro e tem olhos verdes. Em mãos traz um jaleco e uma pasta fina com papéis. — Sou o Me. Gonzales, também da área de hibridação. Me enviaram até o senhor para lhe levar até seu computador e lhe entregar seus equipamentos.

— Ok, Me. Gonzales, obrigado.

Chegamos e logo começo a checar se tudo que enviei para cá está aqui. Sim, tudo físico chegou, agora devo ir para a matriz. Esta é um ambiente virtual que criaram baseado no sistema que há milênios foi idealizado e posto em livros e filmes sobre realidade virtual. A minha matriz serve para meus testes, não machuco ninguém (no máximo eu) e nem perco muito material, só preciso ter um pouco disponível e na matriz crio mais com comandos mentais. Foi realmente algo revolucionário conseguir tornar isto real e desde que começou a funcionar evoluiu muito, sendo a minha uma das melhores que já conheci, modéstia à parte, até porque eu adaptei ela inteira para tudo que preciso: perfeita para mim.

Sento na cadeira e me plugo. Todos os eletrodos, chamados de neuroeletrodos por motivos óbvios, são postos nos locais corretos da minha cabeça por mim e então relaxo.

"Krain, não mexa em nada e tente socializar. Logo iremos atrás do seu matar, enquanto isso vou trabalhar um pouco aqui no computador. Relaxe um pouco."

Fecho os olhos e ao invés de ter a visão do breu, me vejo pé numa sala de fundo breu vazia, começam então a ser desenhadas formas como escritas em circuitos de computadores e vêm até mim. Se eu não disse meu login e senha para comprovar que tenho acesso, a matriz me imobilizará e depois serei enviado para uma realidade fictícia que me porá em transe enquanto na vida real meu corpo está totalmente indefeso. Bem, digo logo quem sou e a rede me reconhece, então meu verdadeiro laboratório se abre a mim.

Nada de uma sala só com tubos de ensaio, buretas, provetas, pipetas, peras, minicolisores, bastões de vidro, estufas e microscópios. Aqui na verdade há tudo isso, mais um pouco e tudo que eu quiser. Eu crio neste ambiente com a força do meu pensamento (com os códigos certos, claro e um pouco de lembranças, as coisas não se fazem do nada). Bem, certamente, se você entende o que faço, compreende também que esse é o tipo de laboratório perfeito para mim. Aqui eu posso implementar minha pesquisa sem ir muito raso, posso me aprofundar totalmente e como quero.

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