1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.

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- Ah, meu amor, faço qualquer coisa por você. Claro que não tem problema que fique um pouco conosco, fiquei tão feliz. Enchi o saco do seu pai durante a madrugada pra arrumarmos o quarto como se você morasse conosco desde o início. – minha mãe secou as lágrimas com um lenço e beijou a ponta do meu nariz. – Falei até para os vizinhos que você estava vindo.

- É verdade, ela não falava de outra coisa. – meus olhos encontraram com os de Taylor e sorri para uma jovem encorpada, morena de praia e muito bonita. – O que foi? Tem alguma coisa no meu rosto?

- Não tem nada no seu rosto, Tay, só estou impressionada com o quanto você cresceu. Virou uma mulher. – as bochechas dela coraram e lhe dei um beijo na testa. – Estou muito feliz de voltar pra perto de vocês e..

- Um cachorro! Não acredito que você tem um corgi!

Taylor soltou um grito e tratou de tirar Joker de dentro da casinha, que pareceu já conhecer minha irmã como se ela fosse sua dona há muito tempo. Dei de ombros e meu pai me ajudou a levar o carrinho com a bagagem para o carro, conversando sobre como a cidade do Rio me traria coisas boas, que teria muito tempo para organizar minha vida profissional e amorosa. "Precisamos ter uma conversa séria sobre isso, Laur, quero saber de tudo que você fez em cinco anos de ausência", a voz de Taylor me chamou atenção enquanto meu pai dirigia para fora do aeroporto e pegava a Linha Vermelha em direção à Zona Sul. Por mais que eu nunca tenha vindo ao Rio, tratei de conhecer muito bem as áreas, era essencial que não me perdesse, odiava pedir informação na rua e meu sotaque não ajudaria nem um pouco. Quando passamos perto do Sambódromo, acabei dormindo. Nunca consegui cochilar em aviões, o medo de turbulência me mantinha acessa por todo o voo.


Acordei com o carro já dentro da garagem e Joker pulou no meu colo, lambendo meu rosto para me despertar como todas as vezes. Ajudei meu pai a tirar a bagagem da mala do carro e pegamos o elevador, que reparei no botão da cobertura aceso. Nunca gostei de ostentar dinheiro, já o meu pai; Michael Jauregui, apesar de ter um coração de ouro, nunca deixou de mostrar para si e para os outros tudo que seu trabalho foi capaz de lhe dar. Troquei olhares com ele e o velho general pareceu entender, porque abaixou a cabeça e brincou com os pés. Taylor sempre teve tudo desde pequena, mas seu nariz continuava na altura ideal, era como eu. Minha mãe, uma design de interiores aposentada, gostava de mostrar o que tinha, compartilhava da mesma sensação que meu pai. "Trabalhamos a vida toda, nada mais justo que provarmos que alcançamos nossos objetivos, certo?", era o que ela sempre dizia quando o assunto entrava em pauta. Todas as vezes eu fugia e Taylor me acompanhava, mas depois que eles vieram para o Brasil e fiquei nos Estados Unidos, imaginei se minha irmã continuava ignorando ou entrava na onda dos dois. Pelo visto, ignorar era a palavra dela.

- Laur, você precisa ver a vista, temos a praia de Ipanema toda pra nós. A Farme de Amoedo fica a um quarteirão de distância, só é um pouco ruim no carnaval porque a barulheira é infinita, mas como nunca estaremos em casa, não vai se incomodar. Ah, também vamos pra Lapa, tem uma roda de samba que você vai adorar conhecer, tenho muitas amigas para te apresentar e..

- Ei, ei, segura o freio, Taytay, não vou morar aqui mais do que um mês. – minha irmã, que estava sorrindo de orelha a orelha, ficou com uma expressão magoada e abaixou a cabeça. – Vamos lá, pequena, você sabia disso. Olha, eu vou continuar no Rio, aqui na Zona Sul mesmo, só não nesse prédio. Vou procurar um apartamento amanhã mesmo.

- Mas.. mas.. eu achei que..

- Não vou te deixar de lado, Taylor, isso eu prometo. O que acha de me ajudar a procurar o apartamento perfeito? Podemos dar umas voltas, você me apresenta os lugares, almoçamos. Vamos?

- É.. ter você em outro bairro ou prédio é melhor do que não te ter aqui. – Taylor me deu um beijo na bochecha e quando o elevador abriu, ela me puxou pela mão. – Vem, somos os únicos moradores da cobertura. Você precisa sentir a brisa maravilhosa que vem do mar. A praia está cheia, podemos dar uma caminhada e de noite saímos.

Águas de MarçoWhere stories live. Discover now