Antes que fosse capaz de bolar um plano de "caça à Melissa e ao Danny", Corey decidiu que precisava de um descanso. Bem longe de Chelsea e Kensington, da família de Barber e de sua própria.

Quando devolveu o carro à filial da locadora, Corey parou em uma pequena loja quase invisível ao lado e comprou o boné do qual não mais se separou ao andar pelas ruas de Londres. De algum modo, havia certa segurança em cobrir a cabeça e os olhos, aparentemente o suficiente para camufla-lo em meio à multidão apática de londrinos. Pegou um táxi na Charlotte Street e pediu ao motorista que o levasse a Brixton. Talvez suas paredes grafitadas e seu alto grau de periculosidade o camuflassem ainda mais. Corey não queria aparecer, não poderia aparecer. E tinha muito trabalho a fazer.

De volta à realidade molhada e congelante que o cercava, Corey conseguiu respirar temporariamente aliviado quando notou, ao abrir os olhos, que sua cada vez mais fiel companheira figura negra havia desaparecido. Corey cruzou os braços e se enfiou mais embaixo da marquise, mordendo a unha do dedão de vez em quando enquanto esperava pelo retorno de Melissa, rezando para que trouxesse consigo uma boa notícia.

Demorou alguns longos instantes até que Melissa recuperasse o raciocínio. A imagem sangrenta de Barber ao lado da árvore, a marca final de sua existência na Terra, cravou-se em sua mente, embora seus olhos já não mais a vissem. Melissa previa problemas para dormir depois de toda aquela... Viagem. Não esperava por aquilo e certamente não queria que acontecesse, embora tivesse quase certeza de que Barber lhe causaria algum problema quando cruzasse os portões de Cambridge. Ela parecia mais... Irritadiça desde que Corey havia reaparecido na vida de Melissa. Melissa, por sua vez, chegou à conclusão de que aquela porcaria de dom mais lhe trazia infelicidade do que benefícios, agora que Corey estava fora e ela sabia a verdade. Ou pelo menos achava saber.

Um raio cortou o céu e clareou o belo campus de Cambridge temporariamente, então Melissa se deu conta de que deveria sair daquele dilúvio, caso ainda quisesse evitar uma gripe. Juntou forças em suas pernas trêmulas (devido ao frio ou ao choque, não era possível identificar) e correu pelo caminho de pedras até o prédio. O vento forte cortou seu rosto e quando finalmente se encontrou sob um teto, teve quase certeza de que seu corpo iniciava um preocupante estágio de hipotermia.

Não foi uma boa ideia dar corda a Barber Paay e sua estranha mania de querer mostrar cenas de sua brutal morte.

O recado já havia sido dado, ela poderia seguir em frente, seguir a luz branca, entrar no céu (ou no inferno) e para de azucrinar Melissa, obrigada.

Não demorou muito para que a ensopada e trêmula Melissa chamasse a atenção da funcionária distraída que se postava atrás do balcão na entrada. A mulher olhou para a porta de relance, então se obrigou a voltar a atenção para Melissa, abrindo a boca em choque ao notar o estado provavelmente deplorável em que se encontrava.

-Você poderia ter esperado a chuva passar... – a mulher comentou, estendendo uma caixa de lenços na direção de Melissa, com um sorriso complacente e amigável no rosto como quem diz "é tudo o que posso fazer por você, infelizmente".

Melissa queria muito uma xícara de chá quente.

-Ela me pegou no meio do jardim, não tive escapatória. –Melissa respondeu, e sua voz saiu mais trêmula do que planejada. Sofrida, poderia até dizer.

-Tão típico... – a mulher lamentou – Em que posso ajuda-la, querida?

-Estou procurando um dos funcionários da Universidade, não tenho certeza se vim ao lugar certo, mas espero que possa me ajudar. Principalmente depois dessa chuva... – Melissa finalmente correspondeu ao sorriso da mulher.

-Farei o que puder. A quem está procurando? Tem o nome? O departamento?

-Sim, o nome é Daniel Langdon, do departamento de Medicina. É um colaborador, pelo que sei.

Lobotomia (Livro II)Where stories live. Discover now