E assim continuavam as nossas conversas. Durante o expediente — que iniciava às sete da manhã e se estendia até tarde da noite, devido ao prazo exíguo — Nicolas me chamava no chat da intranet várias vezes. Era difícil até trabalhar. Contudo, eu pedia desculpas e, de forma bastante educada, informava que precisava retomar o trabalho. Ainda bem que ele parecia entender. Pelo menos, eu nunca o percebi chateado por isso.

*

A quinta-feira havia chegado. Um dia antes do grande dia e eu tinha chegado atrasada na agência. Não fora por irresponsabilidade, nem nada disso. Na realidade, eu precisei ir a um pronto-socorro para tomar uma injeção, com o intuito de diminuir a minha dor de cabeça. Tudo, devidamente, informado ao meu chefe. O que eu não imaginei foi que o meu "outro" chefe também queria ser comunicado.

Assim que liguei meu computador, inúmeras mensagens pulularam na tela. Todas de um remetente oculto, que eu logo supus ser do insistente presidente da 2WG.

Minha dor de cabeça que tinha diminuído com a medicação, depois que eu vi as mensagens, me dava alguns sinais de uma força renovada.

Olhei para o meu provável outro problema na tela do computador e abri cada uma das mensagens por ordem de envio.

"Bom dia, Catarina. Como você está?"

Bem — pensei. A próxima era de cinco minutos depois:

"Por que você não respondeu a mensagem, Catarina?"

Porque eu não estava aqui. O cara, certamente, não gostava de ser ignorado. Presidente de uma grande empresa deveria estar acostumado a ser respondido de imediato.

"Droga, Catarina. Responda! Estou ligando para o seu chefe!"

Que merda era aquela? O maldito idiota só poderia estar louco.

Não pude continuar a amaldiçoá-lo mentalmente, porque o meu nome era chamado em alto e bom som.

— Catarina, para quê você tem celular se não o atende? — perguntou o meu chefe, demonstrando estar bastante irritado.

— Desculpe, senhor. Como eu avisei, fui ao pronto-socorro. Lá é proibido o uso de celular. Quando eu saí, não lembrei de ligá-lo.

— Tudo bem, tudo bem. Me desculpe. Acontece que o senhor Magalhães me ligou, angustiado, perguntando por você.

— O senhor está falando do presidente do conglomerado de empresas do qual a nossa agência faz parte?

— Sim, esse mesmo.

— O qu... o que el.. ele queria? — perguntei, gaguejando.

— O senhor Gutemberg ligou para ele perguntando onde você estava. Parece que os presidentes são amigos. Então, o chefe ligou para mim e ordenou que eu a achasse, não ouviu nem minha resposta e desligou. Por favor, Catarina, não ferre com o nosso negócio! Isso é grande! É enorme, precisamos dessa conta! A gente precisa mostrar que damos lucro, Catarina. Agora, ligue para Gutemberg!

Após o sermão sem sentido, meu superior virou e saiu em direção à sala dele, fechando a porta no processo. Nossa! Certamente, eu não merecia aquilo.

Somente quando voltei à minha mesa, percebi que não sabia o número de telefone de Nicolas — ou do maldito idiota, como o estava chamando internamente.

Quando começava a me levantar para perguntar o número dele ao meu chefe, o meu ramal começou a tocar de forma incessante.

— Catarina Alves, boa tarde.

— Onde você estava, Catarina? — não precisei nem perguntar quem era. A voz rouca e grave me fez sentir arrepios pela minha pele. Nunca tínhamos nos falado por telefone antes e eu me assustei com a resposta do meu corpo à sua voz. Pensei que a tivesse reconhecido de algum lugar, mas sabia que era impossível. Eu nunca tinha visto aquele homem na minha vida.

Droga! Respira, Catarina. Você precisa muito dessa conta. — Raciocinei.

— Bom dia, senhor Gutemberg. Eu fui ao pronto-socorro...

— Você está bem? O que você tem? E me chame de Nicolas, pelo amor de Deus!

O homem parecia um perseguidor.

— Estou bem, senh..., Nicolas. Estou muito bem. Foi só uma dor de cabeça devido a uma noite de insônia.

— Entendo... sonhou muito ontem à noite? — me perguntou, baixando a voz.

Oi?

— Eh... sim, acho que tive alguns sonhos. Mas vamos voltar para a campanha?

Boa, Catarina! Vamos desviar do assunto esquisito.

— Vamos sim. Tenho algumas sugestões para você e sua equipe, mas só quero dizer, antes de começar, que eu também sonhei bastante ontem.

E nesse dia, as trocas de mensagens foram ainda mais intensas. As conversas começavam com assuntos relacionados ao trabalho, mas sempre tomavam o caminho da nossa vida pessoal. Por incrível que pudesse parecer, eu adorava. Ele era um homem de uma inteligência brilhante. Nicolas era sério quando falávamos de trabalho, porém, também sabia ser divertido e interessante.

Durante a semana, meus sonhos tornaram-se mais e mais reais. Eu comecei a me desesperar para ver o rosto do meu homem. Ele me dissera, nos sonhos na madrugada da sexta, que estava contando os minutos para me beijar no mundo real. Falara também que eu não me preocupasse, pois quando o observasse nos olhos, eu apenas saberia. Saberia o quê, pelo amor de Deus? Se aquilo continuasse, eu não teria saída, a não ser procurar um consultório médico, outra vez. Minha esperança era que tudo voltasse ao normal na sexta, quando a campanha fosse apresentada e eu tirasse esse peso dos meus ombros.

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Então eu te vi -  Duologia À primeira vista - Livro 1Where stories live. Discover now