Capítulo 4

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 Acordei com uma dor de cabeça terrível. Parecia que os sonhos estavam ficando cada vez mais reais e desesperadores. Toda vez que tentava tocar o meu homem — sim, ele podia ser imaginário, mas era meu — ele se afastava e me dizia que não aguentava mais esperar. Falava que não podia me deixar tocá-lo, pois temia perder a cabeça e vir me buscar antes da hora. Mais que merda era aquela? Eu, sinceramente, não acreditava que teria que procurar por ajuda profissional — mais uma vez.

O que me deixava um pouco aliviada era que isso estava acontecendo desde segunda, quando ganhei a gerência de projetos da campanha publicitária. Devido a esse fato, eu jogava toda a culpa na ansiedade e no estresse. E com isso, contabilizava já três noites mal dormidas e metade do meu prazo.

Na terça-feira, dia seguinte à minha primeira conversa com o proprietário da empresa 2WG, perguntei ao senhor Gomes se ele sabia de algo. Para minha surpresa, ele declarou que não tinha a mínima ideia sobre o interesse do dono de uma multinacional em um assunto como esse, a ponto de conversar, via intranet, com uma funcionária da agência de publicidade. No entanto, ele afirmou que o seu superior certamente deveria saber de tudo. Resmungou algo sobre não saber o que se passava na cabeça desses milionários. E finalizou me aconselhando a tratar Nicolas Gutemberg com todo o respeito possível, respondendo a qualquer pergunta que ele fizesse.

A minha vontade foi dizer "sério?". Sim, porque eu não era uma idiota para tratar mal o presidente da empresa que eu desejava — ardentemente — ter como minha futura cliente. Porém, claro que eu não verbalizei meu pensamento. O que eu disse foi um "sim, senhor" e saí.

Nesse mesmo dia, as conversas começaram a se aprofundar, saindo do âmbito profissional e invadindo o pessoal. Vou dar um exemplo:

"Oi, Catarina, como você está? O remédio que enviei, ajudou? Você melhorou da crise de rinite?"

Eu não disse! Mais cedo, na terça, deixei escapar para Nicolas — sim, ele me obrigou a chamá-lo pelo primeiro nome — que não parava de espirrar. Quando ele me perguntou se eu estava gripada, respondi que não, era apenas uma crise de rinite alérgica. Então ele me enviou — na hora seguinte — um remédio caríssimo, muito melhor do que o medicamento que eu costumava usar normalmente. Achou a atitude esquisita? Não? Bem, eu poderia acreditar que se tratava apenas de uma alma com um excelente coração. Mas, as conversas diziam outra coisa.

"Sim, estou bem melhor! Aquele remédio é milagroso. Obrigada, você não precisava se incomodar."

"Sim, eu precisava. E não se preocupe, mandarei entregar mais caixas dele pra você amanhã."

"Não, senhor Gutemberg, não é necessário."

"Nicolas. Já pedi pra você me chamar de Nicolas."

"Desculpe. Mas não é necessário, Nicolas."

"Isso não está em discussão."

"Você não é meu chefe." Eu precisava pensar bem antes de falar... ou escrever. A minha impulsividade ainda me levaria a falar o que não poderia para aquele homem. Justamente ele, a pessoa que tomaria a decisão final sobre a aceitação ou não da campanha. Eu tinha que me acalmar.

"Isso também não está em discussão", ele me respondeu. Que ódio! No entanto, dessa vez eu não retruquei. Respirei fundo e contei até dez. Eu podia ser impulsiva em algumas ocasiões, mas não era doida a ponto de perder a minha melhor chance por causa de besteiras.

"Tudo bem, Nicolas. Obrigada, novamente."

"Por nada. Agora, me diga como está o andamento da minha campanha."

Então eu te vi -  Duologia À primeira vista - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora