Capítulo XVIII - O sacrifício

14 0 0
                                    

# Seth # 

   Ivone não podia ser sacrificada. Eu não permitiria. Ela não morreria por mim. Como podia ela renegar sua vida? Ela não sabia dos riscos...

Ela sucumbiria-se as trevas. Seria parte de Lúcifer. Parte do mal que ele representa. Ela não quereria isso. Minha vida não valia tal sofrimento.

" Não é ela que tu queres. Tira antes a minha alma. Eu sou mais valioso!"

" O que estás a fazer?"

" Eu não posso deixar-te cometer esse loucura! Se alguém tiver de morrer, serei eu."

        Podia ver seu rosto ficar pálido.  Lágrimas caindo desesperadamente dos seus olhos. Ela não queria perder-me. Mas eu também não suportaria, ver-me sem ela. Perder a vida seria menos penoso!

" Que nobre! Darias a vida pela humana? Infelizmente, tua alma não me serve de nada. Demasiado pura! É ela que eu quero."

Lúcifer preparava-se para retirar a alma da minha Ivone. Eu não podia permitir. Ele nunca a teria. Minha Ivone nunca seria corrompida. Ela manter-se-ia cândida, como eu sempre a conhecia. 

    Assim, quando a espada ia cravar no coração dela... Eu me coloquei no seu lugar. Impedi que o pior acontecesse! Era o meu fim! Mas eu sabia, desde do início, que me sacrificaria por ela.


# Salomé # 

   Ouvia os gritos de Ivone. Desesperada corria para os braços de Seth. Tentava acorda-lo. Chorava compulsivamente. Lúcifer matara seu amor. Ela queria matá-lo também. Mas nada podia fazer. Uma humana nada podia contra o símbolo do mal!

Já eu podia. Eu podia acabar com o sofrimento da humana. Seth ainda podia regressar a vida. E Lúcifer poderia ser derrotado. Mas teria eu essa coragem?

    A única forma de acabar com tudo aquele mal era matar-me. A morte de uma serva do Diabo conduzia a morte do seu mestre. Eu não deixara de ser um servo. Tinha vendido a minha alma a Lúcifer. Eu poderia acabar com o desespero de Ivone. Mas para isso teria de renegar a minha própria felicidade...

Não podia ser egoísta. Pensar só na  minha felicidade. Eu não seria digna de Samuel, se deixasse seu amigo morrer. Eu precisava de salvá-lo. Só eu podia destruir o Diabo.

" Lúcifer! Com o meu sangue eu te destruo."

" O que estás a fazer, Salomé?"

" Eu preciso morrer. Só me matando, Lúcifer se destruirá!"

" Deve haver outra maneira!"

" Não. Esta é a única solução. Eu preciso de fazer isto. Nós voltaremos-nos a encontrar!" 

     Enfiando uma faca nos meus pulsos, acabei com  a minha vida. Lúcifer caiu comigo. Juntos sucumbimos as profundezas do mal. Seria esta o meu refúgio, até os meus pecados serem perdoados. Só nesse momento poderia voltar para junto de Samuel.


O dilema de um anjo ( Anjos guardiões, livro 1)Where stories live. Discover now