O dilema de um anjo ( Anjos guardiões, livro 1)

Capítulo IV - O beijo

Meu aniversário. Um dia memorável na minha existência. Todos os anos celebrava-o com a minha avó, e algumas amigas suas num elegante jantar. Mas este ano seria diferente...

Seria o primeiro .... O primeiro aniversário que teria a presença do meu anjo. Ele me prometera um desejo. Que tipo de desejo?

" De qualquer tipo. Só não tenho poder de ressuscitar os mortos."

" Seth! Sabes que não gosto que espies os meus pensamentos."

" Desculpa. Não resisti."

" Minha avó quer conhecer-te."

" Falaste da minha existência ?"

" Não propriamente. Apenas disse-lhe que agora tinha um amigo."

" Acho que posso abrir uma excepção!"

Chegou a noite. As mesmas resmungas e sorridentes amigas da avó. Sempre foram simpáticas comigo. Mas nunca consegui compreende-las. É meia noite! As amigas da avó abandonam a festa. E Seth ainda não apareceu. Terá se esquecido?

Nesse exacto momento surge na porta. De fato e gravata como um homem de negócios. Está mais atraente do que o costume. Agora percebo a sua demora...

" Pensava que já não vinhas!"

" Eu prometi-te, não foi?"

Minha avó simpatizou de imediato com ele. Mas quem não gostava de anjos?

" Não te esqueças do meu desejo!"

" Como poderia, se estás sempre a lembrar-me dele."

" No meu quarto teremos mais privacidade."

" O que estás planeando, Ivone?"

Por minutos ponderei meu desejo. Seria certo? Ou não estaria a obrigar de novo a infringir uma das suas leis? Paciência! Agora não havia volta a dar. Tinha de sofrer as consequências do meu desejo, caso ele provocasse revolta no meu anjo.

" Tu disseste-me que eu podia pedir qualquer coisa, contando que não precisasse de restituir vida..."

" Onde queres chegar com esta conversa, Ivone? Sinceramente não estou gostando do teu tom. Necessito de me preocupar? "

" Não. O que eu tenho a pedir-te é algo muito simples."

" Diz-me, então. Já estou demasiado ansioso!"

" Apenas um beijo!"

" O que?"

" O meu desejo é que me ofereças um beijo apaixonado."

" Ivone... Tu sabes que isso não é possível. Eu não posso!"

" É apenas um beijo, Seth! Que transtornos isso pode causar?"

" Tu nem imaginas quantos!"

" Tu me prometeste um desejo!"

" Não pensei que usarias de forma tão leviana !"

" Leviana? É isso o que tu pensas de mim? Não devias ter então aparecido!"

" Ivone! Eu não quis-te ofender. Perdoa-me. Tu tiras-te-me do sério. Pediste-me para beijar-te. Como um homem beija uma mulher. Mas eu sou um anjo. É verdade que agora tenho a forma humana... Mas não deixo de ser um anjo! Se beijar-te agora sofrerei."

" Porque?"

" Exactamente porque eu me apaixonei por ti. Sabendo que estava proibido de criar laços fortes com um humano. Mas mesmo assim eu deixei-me cativar!"

Por momentos fiquei sem reacção. Como meu anjo se apaixonara por mim? E a quanto tempo? Teria ele criado todos aqueles sonhos? Eram demasiadas perguntas. E a nenhum a delas eu detinha respostas.

Não sabia se ficava feliz, por saber que minha paixão era correspondida. Ou triste por ver o dilema de Seth. Por um lado ele verdadeiramente nutria fortes sentimentos por mim, e queria ficar ao meu lado. Mas de outro modo ele não deixava de ser um anjo. E mais tarde ou mais cedo ele teria de partir.

Justamente quando desistira do meu desejo, para não provocar mais sofrimento no meu anjo, é quando ele se realiza. Seth aproximasse timidamente ... Perdera-se na contemplação dos meus olhos, da minha boca... E não resistira mais! Rende-se a paixão. Cravando seus lábios junto com os meus. Molhando minha boca com o gosto da sua.

Aos poucos perdia a timidez. Transformava-se num anjo sedutor. Percorrendo meu corpo. Conhecendo cada detalhe. Perdia o controlo de si!

" Ivone! Não me tentes. Já cumpri teu desejo. Estou perdendo meus limites!"

Mas eu já não o ouvia. Mergulhava no seu corpo. Beijava de novo a sua boca. E ele não conseguia resistir . Entrando e saindo de mim, como um peixe mergulhando no seu rio. Foi a primeira e a última das nossas noites. Depois simplesmente desapareceu. Não me deu um último beijo. Não se despediu de mim. Era como se tivesse-me esquecido!