Capítulo 4 - Escolhas

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– Tá de brincadeira...!

Aika estreitou os olhos. Depois, fechou-os e esfregou-os. Porém, ao abrir, viu a mesma imagem: o Mon-en brilhando para ela. Uma alucinação? Ou aquilo faria parte dos festejos de verão? Piscou várias vezes intrigada, pois suas luzes pareciam não tocar nas águas. Na verdade, parecia que ninguém tinha percebido a mudança. Que raios de neblina era aquela, num dia quente e ensolarado?

Aika precisava averiguar se estava louca de vez ou se estaria vivenciando um milagre.

Havia uma floricultura do outro lado da rua. Aika respirou fundo e caminhou até lá, como quem não quer nada, e parou para cheirar as flores. A dona, uma velha senhora de semblante gentil, parou ao seu lado e perguntou se havia gostado de alguma. Aika aproveitou-se do momento:

– Achei lindo ver essas flores com a cor do pôr-do-sol. Deu-me uma vontade de ir à praia... quem sabe até ver como é a vista por aquele farol!

– Bom, se eu fosse você, não iria lá sozinha. Coisas estranhas acontecem por lá, sabe? Além de ser perigoso para uma jovem passear num local quase abandonado, ainda que nossa segurança seja muito boa.

– Lá costuma a... sei lá, ter névoa ou algo assim?

– Não nessa época. Acho até que dá para ver daqui... – A senhora saiu da loja e as duas posicionaram-se para ver a praia e o farol ao longe. – Ah, está o mesmo de sempre! Aiai, uma tarde bem romântica. Essa cidade fica linda no verão! Quem sabe algumas flores não seriam uma boa desculpa para uma declaração ou um passeio...

A senhora deu uma piscadela e uma leve cotovelada em Aika, sorrindo de forma divertida. Mas ela acabou sorrindo tristemente, desviando o olhar. Não sabia o que pensar. A senhora percebeu sua expressão e se aproximou, preocupada:

– Bom, não sei o que está se passando, mas fico feliz que as flores tenham lhe trazido algum sorriso. Há alguma coisa que eu possa fazer?

"Ela não vê. Das duas uma: ou eu pirei, ou tem algo errado..."

– A senhora acredita... no impossível? Acredita em lendas e mitos e que alguém poderia... ver algo que ninguém pudesse ver sem estar louco?

Aika se voltou novamente para o farol, temendo encarar a expressão da florista. Pensava que talvez devesse ser mais discreta e sentiu suas mãos suarem de ansiedade.

– Acredito que quando se deseja algo com todo seu coração, ainda que seja impossível, pode vir a se tornar realidade. Como contam algumas lendas... se você ama muito algo, ele pode ganhar vida.

Aika relaxou os ombros e viu de relance que não era mais a única a olhar o farol.

– Essa cidade é cercada de mitos. Eu já vi coisas que nunca pensei serem possíveis. E seu maior poder, o poder que ainda deve existir no Mon-en, o guardião de Namimeido, ainda vive em cada um de seus moradores, mesmo que a maioria não acredite. Esses jovens de hoje... – A senhora sorriu para Aika. – Sabe, às vezes, quando estou triste, sento nas areias e respiro bem fundo, tentando alinhar as batidas do meu coração ao som das ondas. Sinto que isso me fortalece e me torna capaz de encarar qualquer coisa.

Foi como se aquelas palavras despertassem uma chama quase apagada dentro de Aika. A dona da floricultura continuou, sorridente:

– Não sei bem o que está passando, minha jovem. Mas se precisa um lugar para meditar, a praia é o melhor. Se você respeita o seu poder assim como toda a natureza, ela te receberá de braços abertos e vai limpar e acalmar sua mente. E quem sabe seu coração. Quanto ao Mon-en, vou lhe contar que, quando eu era muito moça, acho que com a sua idade, eu subi até seu topo. Claro, não sozinha! Hehe... Porém, ironicamente, senti muita tristeza dentro dele e comecei a chorar sem saber porque... Não consegui ficar lá dentro por muito tempo. Todos nós da cidade queríamos vê-lo funcionando, principalmente para os festivais. Só que ninguém consegue fazer qualquer obra lá. Quando tentam, coisas ruins acontecem. Enfim, espero que consiga resolver seus problemas.

AIKA - A Canção dos Cinco (A Saga Aika #1) [degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora