Prólogo

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O sol se punha, no entanto, em vez de alegres tons alaranjados, via-se somente fumaça e fogo.

Seu peito nu subia e descia enquanto sua respiração carregava o aroma de sangue. Sua visão embaçou por um momento entre as labaredas que consumiam a cidade, mas ele não podia desmaiar. Não agora, a um passo de dar seu golpe final. Ouviu então os passos pesados de seus inimigos se aproximando. O que vinha atrás dele não era humano.

Alguns urravam, outros chiavam estridentes, batendo pinças e garras. Os habitantes gritavam desesperados enquanto fugiam e até mesmo os soldados que protegiam a cidade clamavam aos deuses por socorro. Aquele misto de pavor, de cheiro de sangue e de morte, somado ao som das armas se chocando e das chamas que devoravam tudo o que tocavam pareciam um eco do outro mundo vindo tragá-lo.

Contudo, ele já não tinha mais medo, ele nunca temeu a morte, pelo contrário: ela parecia mais do que bem-vinda, afinal...

- Você falhou - ouviu. Uma voz feminina fria como uma faca em carne viva, entorpecendo-o de loucura e tristeza, vinha de longe sussurrar-lhe. Uma voz que um dia lhe trouxe felicidade, se transformara em sua tortura... - É tarde demais. Desista. Entregue-se às trevas! Elas o receberão de braços abertos!

Suspirou, sem lamentos. Ele era um Guardião, um jovem magro com grandes asas de fênix que saíam de suas omoplatas, vestindo o que restou da calça de uma roupa sacerdotal branca. Estava ferido da cabeça aos pés após uma longa e árdua batalha - ou melhor, sua fuga após uma emboscada. Abriu seus olhos dourados para o exército maligno que se aproximava de todos os lados, sem expressão. O infeliz vento quente esvoaçou seus longos cabelos castanhos, revelando em sua testa o símbolo de um deus antigo, parecendo uma cicatriz em forma de chama. Sua franja era ruiva, destacando-se entre os fios escuros. Respirou fundo, sentindo o poder de um grande deus correndo em suas veias. O poder de Suzaku, o deus do fogo.

- Não. Eu não vou me entregar - respondeu para a voz, e sentiu que ela se revoltava. Ela parecia agora gritar dentro de sua cabeça, vinda das profundezas amargas de seu espírito. Foi o chamado do inimigo que o despertou.

Encarou a mais alta das criaturas malignas que se aproximavam, uma mistura de cabeça de javali com um corpo abrutalhado, avermelhado e curvado, com grandes garras. As demais misturas, também asquerosas, de escorpiões e aranhas gigantes com cabeças humanas que não deveriam estar ali, vinham pulando sobre as casas, rápidas e cruéis. Vinham pisoteando e estraçalhando quem estivesse no caminho. Ele havia abatido muitas delas, mas dez ainda restavam. Marchando abaixo delas, vinham Onis: soldados horrendos e ferozes, com cerca de dois metros de altura, fortemente armados com tochas acesas, lanças e machados ensanguentados pelos inocentes que trucidaram no caminho até chegarem ao Guardião. Somando todos, contou mais de cem à sua volta.

Logo acima deles, cobrindo o céu e ultrapassando as altas muralhas daquela capital, vinham soldados alados: homens altos e fortes de pele morena e cabelos ruivos com asas de fênix, como as daquele Guardião. Eram os soldados da raça Fênix Negra, à qual ele pertencia. Ou pelo menos metade dele, embora isso não importasse naquele momento. Também não importava que seu peito doesse por reconhecê-los, não podia se deixar abater. Principalmente ao ver neles e nos Onis as armaduras escuras pintadas com o desenho de um escorpião vermelho sobre um pentagrama invertido, símbolo daquele exército denominado Dokujuugumi.

O inimigo já estava a poucos metros de distância. O guardião permaneceu parado, pousado sobre um chafariz no meio daquela grande praça em chamas. Os soldados riam por finalmente cercar sua presa, depois de tanto tempo. Não havia para onde fugir.

E isso o fez sorrir de orelha a orelha.

E isso o fez sorrir de orelha a orelha

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AIKA - A Canção dos Cinco (A Saga Aika #1) [degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora