- Sinto muito Sr. Flores! Isso não vai se repetir. Tive um problema com meu despertador. - Consigo dizer com o tom mais doce e inocente do mundo, mas no fundo estou desejando que ele caia da escada e que quem sabe quebre um osso ou dois.

- Isso não é problema meu Senhorita Martinez. Sente-se e tente se concentrar na aula.

E lá se vai o meu cérebro... Eu o vejo dizendo adeus igual às pessoas do Titanic.

   Ao meio dia eu estou esgotada e sofrendo de uma amnésia profunda, não consigo lembrar de nada do que ele disse em sala. Acho que meu cérebro realmente desliga.

   Alice vem falar comigo e pede desculpas por não ter me acordado. Ela me explica que também saiu atrasada e só percebeu que eu tinha ficado no apartamento quando não me viu na sala.

- Não esqueça que eu só aceitei fazer essa matéria para ficar mais tempo com você. – Digo protestando.

   Alice e eu não fazíamos o mesmo curso, eu cursava Enfermagem e ela Literatura Francesa. Meu curso era integral então nós basicamente só nos víamos na caixa de fósforos, onde eu já chegava cansada e querendo dormir.

- Corta essa, você se matriculou porque precisava dos créditos para se formar. - Reclama ela em um tom de brincadeira.

- Então você vai mesmo à Nova York conhecer o tal Adam Hall? - Perguntei com um tom incrédulo. Adam era o escritor favorito de Alice, no fim de semana haveria a BookCon uma espécie de convenção para apaixonados por livros em Nova York, na qual ele estaria presente como convidado principal. É claro que Alice cismou que queria conhecê-lo.

- Vou... E você vai comigo! - Ela parecia segura dessa informação.

- Hahaha! Você só pode estar maluca! - Digo em tom de deboche. Ela enlouqueceu se acha que eu vou me desdobrar para ir à Nova York conhecer um cara cujos livros são publicados pela própria editora.

   Adam era escritor de romances, não eram ruins devo admitir, mas eu nunca fui do tipo que acredita em príncipes que montam belos cavalos brancos e andam com espadas reluzentes em mãos, mas Alice era uma romântica incorrigível e tentar fazê-la mudar de ideia ia ser uma batalha que eu não ganharia.

- Você é minha melhor amiga ou não? Melhores amigas fazem sacrifícios umas pelas outras. – E lá estava ela com um olhar de cachorro pidão.

-Você está me pedindo para ir à Nova York conhecer um escritor de romances? Isso é sério? – Sei que vou acabar indo.

   Alice continuou fazendo beicinho combinado com um olhar de cachorro pidão. Quem consegue resistir a isso? Me rendo, mesmo relutante e incrédula solto:

- Tudo bem, eu vou! Odeio você. – Digo brincando.

- Amanda, você é demais. - Ela era maluca e irritante, mas era minha melhor amiga e eu a amava.

- Então quando vamos? - Tentei parecer animada com a ideia, pelo menos era Nova York. Eu sempre quis morar em Nova York, então não seria uma ideia tão ruim.

- Nessa sexta, vamos faltar aula e...

- Oi meninas! - David, passa as mãos em volta da minha cintura e corta a explicação de Alice sobre a nossa fuga na sexta.

   David e eu tínhamos nos conhecido no ensino médio, logo no primeiro ano fiquei afim dele. Nós chegamos a nos relacionar por uns meses, mas ele queria me trocar por outra garota da sala e nem ia me avisar disso. – Mas você se vingou amor – Meu inconsciente fez questão de lembrar.

   E como a vingança é um prato que se come frio eu passei meses me dedicando a conquistá-lo. Depois que ele começou a namorar com a tal menina voltamos a ser amigos. David, Alice e eu éramos como os três mosqueteiros, vivíamos juntos. Nos reuníamos depois das aulas para conversar e a amizade foi fluindo cada vez mais.

   David e Eu nos tornamos amigos mesmo e eu consegui conquistá-lo, como eu queria, ele terminou o namoro com a fulana sem graça e veio dizer que me amava e a maior besteira da vida dele foi ter me deixado.

   Nesse momento me senti realizada, eu tinha conseguido minha vingança e apenas olhei para ele e disse:

- Sinto muito, mas somos muito amigos e as coisas estão diferentes agora...

   O olhar de desolação dele fez a mulher vingativa e perversa dentro de mim soltar fogos e mergulhar em champanhe, mas o tiro saiu pela culatra, realmente nos tornamos amigos depois disso e com o tempo eu percebi que também gostava dele. Como nunca fui do tipo romântica acho que se cheguei perto de amar alguém de verdade, esse alguém era ele, então um belo dia eu o procurei e contei toda a história da vingança ele se desculpou, eu me desculpei e cinco anos depois ainda estamos juntos.

- Oi Querido! – O beijo de leve nos lábios demonstrações de afeto em público não são o meu forte. David é muito atraente, não era tanto quando nos conhecemos. Alguns meses de academia fizeram um bem a sua aparência.

   Ele é alto com cabelos loiros ligeiramente compridos bem ao estilo surfista carioca. Tem olhos escuros bastante sedutores e um corpo forte e largo eu dizia que ele era meu travesseirão. David estuda junto comigo e estamos pensando em morar juntos depois da formatura, na verdade ele está pensando em morar junto, o que está bem próximo e me deixa apavorada.

   Alice já tinha notado meu desconforto toda vez que ele falava em morar juntos e eu sempre dizia que era porque não queria deixá-la, mas a verdade é que apesar de termos um relacionamento ótimo e o sexo não era ruim, eu não queria acabar como meus pais.

- Alice você trouxe o livro que eu pedi? - Disse ele com uma voz rouca muito sexy. David era o tipo de homem que deixava qualquer mulher excitada só em dizer Bom Dia.

- Droga, eu esqueci, saí de casa atrasada hoje...

- Tá tudo bem Amanda? – Ele deve ter reparado na cara de transa comigo que eu estava fazendo, tentando disfarçar eu digo:

- Estou meio atordoada, acordei cedo e ter aula com o Senhor Flores é como chegar perto de um Dementador, sabe?

- É como se toda a felicidade tivesse ido embora. - Ele completa meu raciocínio o que me faz rir. Éramos perfeitos um para o outro, isso não dava pra negar e tínhamos uma química incrível.

- Neeeeeerds! – A voz em tom musical de Alice interrompe nosso devaneio.

- Harry Potter não é coisa de Nerd Alice. - David disse como uma voz sexy de reprovação, ai esse cara mexe com meus hormônios.

- Deixa David, mas só lembrando que você chorou quando o Snape morreu. – Rimos as gargalhadas com a lembrança.

- Eu odeio vocês! – David e eu éramos fãs enlouquecidos de Harry Potter e isso foi um dos motivos da nossa aproximação no ensino médio.

****

   Quando a sexta chegou era finalmente o grande dia. Confesso que estava mais animada com a viajem era a minha primeira vez fora do Brasil, quer dizer eu morei na Espanha com meu pai, mas era criança e não lembro de muita coisa. Eu estava disposta a fazer essa viagem ser perfeita, mesmo sendo curta eu não ia deixar Alice me prender o dia todo na BookCon... Eu tinha um plano em mente ENTRAR-VISUALIZAR O ESCRITOR-PEGAR UM AUTOGRAFO-SAIR-ENLOUQUECER EM NOVA YORK.

- Então, pronta? - Alice parecia não caber em si de tanta felicidade. Fiz sinal com o dedo para ela informando que estava no telefone. Minha mãe estava surtando com a ideia da viagem. Para ela seria como em Busca Implacável alguém ia me seduzir no aeroporto, me perseguir, me sequestrar e baaam tráfico de mulheres. Por sorte meu pai estava com ela, o que era um milagre. Ele era estrangeiro e acostumado a fazer viagens de negócios foi numa dessas que conheceu mamãe. Ele estava feliz com a ideia da viajem e achava que seria bom para o meu desenvolvimento pessoal e blá, blá, blá.

- Tudo bem pai, também te amo. - Cortei o sermão de papai na metade, caso contrário ficaríamos no telefone o fim de semana todo.

- Como está sua mãe?

- Histérica. É sério ele acha que vamos acabar sendo traficadas. - Caímos na gargalhada, minha mãe era do tipo super protetora.

Uma voz feminina ecoa pelo aeroporto fazendo a chamada para o nosso voo... Vamos lá. 

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