Capítulo 2

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Abri o olho rapidamente. É hoje.
Quando vi ja estava passando condicionador no cabelo. Eu não dormi direito, não consegui, a ansiedade simplismente não deixou.

- Filha, você tá levando a blusa de frio? - escuto minha mãe gritando.

- Tá dentro da bolsa.

- E os documentos?

- Ta tudo dentro da mala, mãe. A gente checou três vezes ontem a noite.

Entendo a ansiedade da minha mãe,  ela sempre diz que quer me ver bem sucedida, não passando necessidade como passamos hoje. Agradeço a ela por me dar a oportunidade de correr atrás de um sonho.
Todo dinheirinho que tínhamos guardado ela me entregou pra pagar hotel e comida esses dias até a Universidade responsável pelo cursinho liberar os apartamentos temporariamente.
Acho que ficarei um mês la, são duas provas em datas diferentes, não tenho grana pra pagar passagem de volta e depois de algumas semanas comprar passagem novamente.

- Bom Dia. - Disse assim que entrei na sala, la estavam eles sentados tomando café e vendo o jornal.

- Minha menina. - Meu pai levanta e me abraça. Respiro seu perfume e me alegro em sentir o cheirinho de amaciante, não de cachaça.

- Oi Pai, como o senhor está elegante, cortou o cabelo. - Virei pra minha mãe e pisquei.

- Meu véião. - Ela o abraça por trás. - Filha, temos uma coisa pra te dar. - Ela diz pegando uma sacola no chão ao lado do sofá.

- O que é isso? - Digo pegando a sacola.

- Conversei com minha patroa e ela adiantou dois meses meu e do seu pai, você vai estar longe e precisamos se comunicar. - Pego a caixa com o nome "Samsung y" escrito. - Queria te dar um melhor, filha, mas...

- Eu amei mãe, muito obrigada! - Abracei ela e puxei meu pai pro abraço.

- O Tom nos ajudou a escolher e ainda te deu um cartão de memória com umas músicas.

O Tom pensa em tudo.
Finalmente, com meus 17 anos eu ganhei um celular. Não é daqueles incríveis, mas da pra mandar mensagem e ligar.

- Vou te mandar o endereço do hotel por mensagem.

Dou mais um abraço neles.

Tomamos nosso café e jogamos conversas foras.

- Dai ela fez questão de ir la fora, pegar terra e jogar no carpete pra mim limpar, deu vontade de ralar vidro na comida dela. - Minha mãe gargalhava e ameaçava a patroa dela, eu ria pois sei que ela não é capaz de fazer maldade com uma mosca.

- Meu Deus, Hellen. - Meu pai estava espantado, não sei se pela maldade da patroa ou pela ameaça de minha mãe.

- Jorge, eu não suporto aquela mulher, pensa numa pessoa endiabada.

Começo a ficar com uma dor chata de cabeça e acho que minha mãe percebe pois pergunta se estou bem e afirmo que sim.

Eles continuaram o debate e eu fiquei vagando com o olhar pela minha humilde residência. Uma mesa simples pra quatro pessoas, um fogão de quarto bocas, a estante vítima das loucuras do meu pai, a pia e na parede um relógio, que marcavam que era... Meu Deus, tenho que ir pra rodoviária.

- Pai, olha hora! - Digo me levantando e pegando as malas.

- Meu Deus Jorge, já ia me esquecendo, vamos ter calma que vai dar tempo. - Minha mãe disse se acalmando.

Meu pai pegou um carro emprestado do amigo dele da igreja, o Miguel. Colocamos as malas nos bancos de trás onde estou sentada.
Pela janela eu via o córrego, as crianças jogando bola, os cachorros invadindo o lixeiro de uma casa.
Eu nunca viajei sozinha pra nenhum lugar, confesso que estou com um baita frio na barriga.
Respiro fundo e imagino em como será meus dias naquela cidade que nunca pisei o pé.
Enquanto o carro cháqualha nas ruas de terra esburacada. Fecho os olhos e respiro fundo, nesse momento percebo que minha cabeça ainda doi.

O Rico E A PlebeiaWhere stories live. Discover now