Capítulo 3 - Tempestade

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O mangá mostrava Kurikara abrindo lentamente as cortinas do quarto, numa das grandes torres do Palácio. Aos poucos, seus olhos acostumaram-se com os fortes raios de sol que irrompiam contra as janelas. De longe, podia vê-lo iluminar as Montanhas Vermelhas, e seus olhos se demoraram sobre elas. Ele vestia somente uma calça branca e uma faixa vermelha prendendo-a, além dos sapatos e proteções para os braços e as pernas. Os cabelos castanhos estavam molhados e caíam-lhe até a cintura pelo banho de ervas e soluções para purificar seu corpo para cerimônia — para o deleite de Aika. Deveria dirigir-se aos Orbes o mais sério e sereno possível para que sua maldição não interferisse.

NHAC!

Ou nem tanto.

A onomatopeia extrapolava a quarta parede do quadrinho, onde Kurikara, ainda debruçado sobre a janela, mastigava um pedaço de chocolate. Aika riu, principalmente por causa da expressão do personagem, e se recordando de que aquele era seu vício.

O quadro seguinte focou na marca da maldição e nos pensamentos do herói. O Guardião não estava mais ouvindo a voz ou vendo seu Espectro, então a morte de Yami-no-Yaku deve ter feito com que perdesse sua força – o que lhe trazia grande alívio. Sua maior expectativa estava no que viria depois da cerimônia: todos os maiores magos e feiticeiros a serviço do rei iriam unir-se para remover sua maldição, livrando-o para sempre de suas torturas.

A porta moveu-se lentamente e Kurikara sorriu. Viu uma gatinha preta correr até ele e pular no parapeito. Ela então se esfregou nele, ronronando. Os olhos dela brilharam para a barra, mas Kurikara a olhou com censura e comeu tudo de uma vez. Ela "suspirou", sabia que não podia comer. Seria uma gata normal, se não fosse por uma gema cor de esmeralda em sua testa: aquela era a segunda forma de Tsubomi, o dragão que ele havia adotado.

– É hoje! Chega de terremotos, furacões repentinos, tempestades aleatórias... – falou Tsubomi.

– Demos sorte de não ocorrer algum desses por aqui – disse, tocando delicadamente a pequena gema verde presa a sua testinha preta. Ela o encarou e percebeu sua preocupação.

– O que houve, Kurikara? Parece angustiado mesmo depois de tantas vitórias...

O quadrinho mostrou pequenas imagens em volta dos dois, nada mais que flashbacks de Kurikara: Em um deles, Iruka estava ensanguentado e armado com seus tridentes, mandando que Riko e Kurikara fugissem, alegando que ele aguentaria os inimigos. Noutro, viu os três cercados por onis. Uma imagem maior mostrava Tsubomi em sua forma verdadeira: um grande dragão serpente de escamas escarlate, pelos dourados e olhos verdes. Na cena, ela era cercada e atacada por muitos Fênix Negra. A última mostrava Riko carregando Kurikara semiacordado enquanto Iruka e Tsubomi enfrentavam Sabanoges. Kurikara desviou o olhar.

Foram interrompidos por um sacerdote que vinha chamá-lo. Iria partir para o Templo dos Cinco Deuses, onde estavam os Orbes fortemente vigiados e onde se cumpriria o ritual. O quadrinho mostrou sua expressão inquieta.

– Tsubomi, tenho um pedido a lhe fazer – cochichou para a gatinha. – Esconda-se nas florestas, na sua forma felina, e espere um sinal meu por volta das oito da noite.

– Por que está me pedindo isso?

– É só uma precaução. Estou com um mau pressentimento.

– E você acha que eu – com ênfase no "eu", – deixaria você sozinho se acha que corre perigo?

– Se acontecer alguma coisa, preciso de alguém de fora para pedir ajuda.

– O que você espera? Um ataque repentino?

AIKA - A Canção dos Cinco (A Saga Aika #1) [degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora