PRÓLOGO

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Luan havia acabado de sair do banho, e agora se arrumava para ir para a cerimônia que se realizaria em homenagem a Lorena em algumas horas. Depois de vestir uma calça jeans, uma camisa cinza que ela amava e calçar sua bota coturno, caminhou novamente até o banheiro, e olhando no espelho, deu uma ajeitada no cabelo que ainda estava molhado. Voltou para o quarto, seu olhar logo encontrou o porta-retratos sobre o criado mudo ao lado da cama, que continha uma foto dela. O pegou e se sentou na beirada da cama, observando cada detalhe daquela imagem. Era incrível como seus cabelos loiros e seus olhos azuis ainda o tocavam, ele ainda podia sentir a maciez de seus lábios e o cheiro de sua pele. Como ele a havia amado. Quem poderia dizer que desde que tudo aconteceu, já se haviam passado quatro anos. Quatro anos de muita saudade e de muita dor. Ela prometeu que nunca o deixaria, mas de certa forma, não havia conseguido cumprir com o combinado. Ele não a culpava, ela havia sido uma guerreira, havia lutado até o fim. Ás vezes se perguntava se o que aconteceu a ela foi uma fatalidade, ou se estava destinado a acontecer. Ele não sabia. O que sabia é que jamais sentiria de novo por outra pessoa, o que havia sentido por ela. Tudo havia sido tão puro, tão verdadeiro, que chegou a pensar muitas vezes, se aquilo não seria um sonho perfeito do qual nunca gostaria de acordar, mas não, ela era real. Quando fechava os olhos, podia ouvir aquela risada gostosa que só ela tinha, das brincadeiras dos dois correndo pela casa, e que quase sempre terminavam no quarto. No quarto que ele estava agora. Se lembrava também, claramente da maneira como ela deitava em seu peito, depois de terem feito amor durante horas, e da forma como ela o olhava e sussurrava que ele era o homem mais perfeito do mundo, e de ele sorrindo e dizendo que ela era a pessoa mais suspeita para dizer isso. Nossa! como eles haviam vivido dias perfeitos juntos, a vida tinha mais cor ao lado dela. Mas toda aquela alegria e irreverência que só ela tinha, a forma como ela fazia os problemas do mundo parecerem mais simples, tudo o que havia de bom nela, foi tirado com o tempo por aquela maldita doença. Ele estava ao lado dela quando o médico lhe avisou da existência da doença, e adivinhem, era incurável. O que mais lhe doía, era não poder fazer nada por ela, ver a cada dia que se passava, a doença tomar conta daquela menina adorável pela qual ele havia perdidamente se apaixonado, como nunca pensara que fosse se apaixonar por alguém -Nem que seria possível amar tanto uma única pessoa- tudo o que ele podia fazer, era permanecer ao seu lado, e incentiva-la a continuar lutando. Lutando por ele. Ele não conseguia imaginar a vida sem ela. E ela lutou. Lutou por ele. E pela filha dos dois. Apesar de tudo, os dois ainda conseguiram ter lindos dias juntos, com certas limitações, claro, mas ao lado dela, tudo se tornava mais bonito. Luan saiu de seus pensamentos por um instante, quando ouviu a porta do quarto rangir:

-Papai? -Era sua filha, Nicole. De apenas quatro aninhos-Oi filha -Colocou o quadro, com a imagem voltada para baixo sobre a cama. Não queria que a pequena soubesse o que ele esteve fazendo nos últimos minutos. A filha ainda o olhava curiosa, sabia que alguma coisa seu pai estava fazendo. Talvez soubesse. Era tudo o que ele vinha fazendo nos últimos meses. Luan parou por um instante, e se permitiu observar aquela linda criança por alguns segundos. Ele e Lorena com certeza haviam criado a criatura mais linda do mundo juntos. Seus olhinhos verdes e o cabelo castanho claro, como o mel, faziam com que ela lembrasse muito a mãe. E sempre que a olhava, sentia como se sua amada ainda estivesse ali, de certa forma, olhando aquela fofura também. Talvez esse tenha sido o principal motivo dele ter se distanciado dela quando bebê. Não que ele não a amasse, no momento, ela era o motivo pelo qual ele se mantinha vivo. Mas por sentir uma injustiça enorme quando completava esse gesto. A primeira vez que segurou a filha, foi quando ela completou três meses de vida.-O que o senhor estava fazendo? -Deu curtos passinhos até Luan. Que ficou orgulhoso em ver o quanto ela havia crescido. Avaliou a forma como a filha estava vestida e percebeu que seu vestido branco de bolinhas pretas, não combinava em nada com a botinhas rosas de borracha, próprias para dias de chuva.-Sua tia te deixou usar essas botas? -Perguntou sério a encarando. Ela não respondeu nada, apenas cruzou as mãozinhas sem jeito, rodando o corpo sem sair do lugar- Quer saber, acho que está linda assim -Sorriu, lembrando da maneira como Lorena se vestia bem, sempre na moda, e em como brincava que nossa filha seria descolada como ela, que teria sua própria personalidade e tals. Ele concordava, apesar de saber que não deveria apoiar todos os caprichos da filha-A tia Bruna me mandou ver se o senhor já estava pronto -Se aproximou colocando suas mãozinhas nas pernas do Luan, um pouco acima do joelho-Diga a sua tia Bruna, que eu já vou descer, estou terminando de me arrumar, mas, só tem um problema...-Qual papai? -Nicole perguntou curiosa-Acho que o monstro da cócegas não vai te deixar levar o recado -Luan lançou um sorriso sapeca para a filha-Não papai! -A pequena Nicole tentou correr, mas antes que conseguisse, Luan pegou em seus bracinhos e a puxou deitando na cama, enquanto fazia várias cócegas na filha, que não parava de rir- Para papai! Para! -Pedia rindo. Luan parou por um momento, olhando bem em seus olhinhos, uma certa melancolia o havia acabado de invadir. De novo.-Tudo bem, o monstro vai te deixar ir, mas com a condição de que troque essas botas -Ele a ajudava a descer da cama-Tudo bem senhor monstro, vou trocar minhas botinhas -Sorriu alegre para o pai, enquanto saia em disparada em direção ao seu quarto, que ficava bem ao lado, e que havia sido decorado como Lorena sempre sonhou, com a cor rosa por todos os lados. Ela amava Rosa. Talvez tivesse aprendido a gostar do vermelho também, por causa dele. Pegou o porta-retratos novamente, e insistiu em olha-lo. Ver a filha correndo daquela maneira, o fez pensar o quanto Lorena também era cheia de vida, e de como tudo foi tirado dela da maneira mais brutal possível. Sabia que nunca se acostumaria com a ideia de não tê-la mais por perto, nem sabia se um dia iria se conformar. Nos últimos anos, só Deus sabe o quanto ela fez falta na hora de ajudar na criação de Nicole, não havia sido fácil para ninguém cuidar de um bebê recém-nascido, Luan nem podia se colocar como vítima nesse ponto, já que sempre esteve ocupado demais viajando e fazendo seus shows, para que pudesse dar do bom e do melhor para a filha. Só foi perceber que nem conforto, nem presente nenhum poderia suprir a saudade que a filha sentia, quando aos dois anos de idade, ela lhe perguntou porque ele quase nunca estava em casa. Isso partiu seu coração, sentiu como se não conseguisse fazer nada direito sem Lorena -Ela sempre sabia o que fazer- mas desde aquela época, suas atitudes haviam mudado, e percebeu que tudo o que a filha queria, era que ele estivesse em casa quando ela fizesse alguma coisa errada e ele lhe desse alguns "Não! não pode fazer isso Nicole", queria apenas que ele a ajudasse a crescer. Várias outras lembranças invadiram-lhe a memória, e olhando sua imagem, percebeu que havia conseguido segurar as pontas por muito mais tempo do que esperava sem ela.


Chuvas de ArrozHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin