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Já faziam 4 meses.

No início eu não queria aceitar, ficava irritada constantemente e chorava pelos cantos. Obriguei-me a me matricular em um curso de inglês integral, pois tudo aqui é escrito nessa língua. Com isso, Raphael começou a se sobrecarregar no FBI. Eu queria perguntá-lo como eram as coisas no trabalho, porque sou fascinada por coisas do tipo criminais, mas tudo que trocávamos eram palavras monossilábicas e a culpa disso era minha. O coitado até que tentava.

O curso havia acabado e meu tempo livre aumentou. Perdi um ano escolar e realmente não me importava com isso. Já tinha colocado a grade de séries em dia em sua maioria, comprado e lido vários livros e continuava ali. Sozinha. Até que comecei a frequentar a academia do prédio onde eu conheci ele.

Eu sou um dos seres mais difíceis de lidar e compreender, sou antissocial e mesmo assim eu e o estranho ficamos amigos. Por muita insistência dele, obviamente.

Enzo é mais velho, mais esperto, mais inteligente e mais qualquer coisa relacionada a mim. É engraçado como duas pessoas completamente opostas podem se dar tão bem juntas.

Com os conselhos dele resolvi que a antiga Valentina não existia mais, o que é bem verdade, né? Tudo que fui, fiz e tive foi construído por cima de uma farsa. Com o apoio dele mudei meu jeito de ser e dei adeus ao cabelo longo prateado.

Me sentia finalmente livre de qualquer amarra, como jamais me sentira antes.

Foi aí que comecei a fazer parte da academia de polícia. O treinamento era bem pesado, combate corporal e uso de armas, mas também tinha treinamento para partes teóricas, o que me deixava eufórica. A autoconfiança exalava em mim dia após dia. E de quebra, eu e Raphael nos tornamos próximos. Comecei a trabalhar na parte burocrática do FBI e juro que nunca tinha visto o homem tão feliz desde que o conhecera.

Íamos assistir jogos juntos, correr, ir a museus e várias outras coisas como uma família normal. O que de fato era estranho. A sintonia que eu tinha com o moreno era muito diferente do que eu tinha com meu "pai"de mentira.

Foi aproveitando a brecha de super confiança e amizade pai e filha que resolvi perguntar sobre minha mãe biológica, que até então não fazia ideia de quem era.

- Ele disse que conheceu minha mãe quando foi cuidar de um caso na Irlanda. - comecei a dizer enquanto caminhava na esteira. - Então eles se apaixonaram a primeira vista e pimba.

- Pimba? - Enzo zombou. Estava em uma das máquinas de musculação, me encarando pelo grande espelho de vidro à minha frente. - E aí?

- E aí que ele ficou só algumas semanas lá e voltou. Ele era casado na época e depois de um tempo a mulher dele ficou grávida. - falei tentando soar casual, apesar de mentalmente ter feito uma nota de como meu pai era cafajeste. - Ele não conseguia parar de pensar na minha mãe e então começou a beber loucamente.

- E a mulher chutou o gambá? - Enzo agora estava do meu lado. Apesar de toda nossa intimidade ainda me sentia estranha quando ele chegava tão perto de mim.

- Ele derrubou o filho da escada e ela mandou ele embora, sim. Então ele foi atrás da minha mãe e ela estava morta. - respondi.

O cara é azarado amorosamente falando, e tenho certeza que herdei isso dele.

- Parece script de novela mexicana de quinta categoria. - ele disse colocando um sorriso nos cantos dos lábios. Se engana quem pensa que eu não gosto do humor ácido dele. - Então ela ficou grávida, não disse nada, você nasceu e ele não sabia?

- Isso. Ela morreu no parto, um pouco antes dele ir atrás dela. Ele descobriu de mim por acaso, uma prima dela veio comentar para ele no início do ano e ele resolveu investigar.

- Uma chance de recuperar o tempo perdido.. Que fofo. - o cabelo preto de Enzo agora estava grudado na testa devido ao suor, e eu não podia deixar de encarar como ele era gost... - Você está bem? - ele perguntou alarmado depois de me segurar antes que eu caísse de bunda no chão. Como ele conseguiu ser tão rápido?

Apenas uma dica: nunca fique tendo pensamentos mirabolantes em cima de uma esteira ligada.

- Ótima. - e caímos na gargalhada com meu mico.

🐺


Depois da sessão fitness fui pro meu apartamento tomar um banho e repassar as últimas descobertas: tenho uma prima desconhecida cujo o nome é Sansa Murphy. Não tem facebook, apenas tinha deixado um número de celular caso eu quisesse falar com ela. Mesmo sendo a Nina 2.0 não me sentia pronta para uma conversa importante como essa. Então resolvi buscar sobre meu irmão três meses mais novo no facebook, Scott McCall.

Ele tinha os olhos castanhos de Raphael, que para constar, eu também tenho. Estuda em uma escola de Beacon Hills. Tipo bacon? Várias fotos com um garoto estranho que sempre está de xadrez. Joga em um time de lacrosse. Que diabos é lacrosse? Uma foto com um grupo de amigos. Mais fotos com as mesmas pessoas de antes. Será que ele faz parte de uma seita? Postagens sobre animais. Fofo. Um sorriso gentil e um maxilar... meio torto?

Enfim, deixei o stalker de lado quando ouvi a porta sendo aberta.

- Ah, que bom que você está aí Nina. - Raphael disse largando a maleta preta em cima da mesa. Não era como se eu saísse muito.

- É. - respondi no automático fechando o notebook.

- Eu peguei umas férias e queria saber se você está afim de conhecer Scott. - ele soltou. Eu sempre quis ter um irmão, afinal, irmãs eu já tenho. Mesmo assim a ideia de conhecê-lo era apavorante.

- Ah... Tudo bem. - foi o que respondi. Raphael queria apenas recompensar o tempo perdido, tanto comigo, quanto com Scott.

E eu decidi que o ajudaria nisso.

Animal Side ✅Where stories live. Discover now