4- Conturbações

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Camila estava sentada na poltrona dianteira, ao lado de Lauren, olhando os pingos de chuva que escorriam no lado exterior do vidro do carro. Ela foi convencida a aceitar a carona facilmente porque a) Os táxis nunca estão desocupados quando chove em Nova York, b) Lauren morava perto, assim não teria problemas para chegar em casa depois e c) Paul ajudou Lauren a persuadi-la.

– Alguma novidade, Camila? – ela tentava construir um diálogo para quebrar o silêncio.

– Não. E você?

Seu tom de voz e a velocidade de resposta denunciava que provavelmente não queria falar da própria vida.

– Ora, nenhuma? Pois eu também não tenho.

– Então quer dizer que continua tudo como sempre?

– Tudo como sempre – confirmava com a cabeça enquanto trocava a marcha.

– Nenhum namorado?

Ela mal percebeu que pronunciou essas palavras. Pela primeira vez demonstrou interesse no assunto.

Lauren sorriu e olhou no fundo dos seus olhos.

– Me desculpe, eu não...

–Foi só uma pergunta e eu não tenho problema em responder – interrompeu Lauren – nenhum namorado. Você sabe disso. Arrisco dizer que você também não...

– Também não – falou sem esperar as deduções de Lauren.

As duas voltaram ao silêncio. Camila sabia que não deveria ter perguntado nada, principalmente devido ao clima que cercaria ambas após a conversa. Perguntara por impulso e se arrependera de ter feito isso.

O trânsito melhorava aos poucos, quando Lauren anunciava que já estava chegando próximo à casa de Camila.

– Prontinho, chegamos. Só vou estacionar, espera.

– Obrigada, Lauren.

Lauren tirou o cinto de segurança e chegou perto ao rosto de Camila.

– Camila, eu preciso falar com você.

Ela assustou-se.

– Agora?

– De preferência sim.

– É só uma pergunta.

– Tudo bem, tudo bem.

– Você me conhece há anos. Nós sempre estivemos juntas nesse tempo, mas, no último ano, de repente, você se distanciou de mim. Eu tô tentando encontrar a resposta do porquê. Eu nunca consigo. Eu nunca consigo entender. Eu sinto a sua falta.

Lauren subitamente revela algo que não queria revelar e parecia esconder de si há muito tempo.

– Por que você se distanciou de mim?

– Lauren, eu...

– Por quê?

– Eu preciso ir.

Tirando o sinto de segurança rapidamente Camila abre a porta do carro e dispara rumo a sua casa. Ela sabia a resposta, assim como sabia que negava todos os seus sentimentos.

– Não faça isso comigo, por favor – Lauren falava sozinha enquanto socava o volante do carro.

Decidira correr atrás de Camila para colocar um ponto final na história.

– Abra a porta. Eu preciso falar tudo que tenho que falar e você precisa me falar muita coisa. Sei disso.

A porta foi aberta no mesmo segundo e Lauren se deparou com Camila com os olhos inundados de lágrimas.

– Não, não, não... não quero que você chore – Lauren parecia desesperada.

– O que ainda tem pra falar?

– Deixa eu entrar...

– Fala logo. Aqui. Agora.

Os olhos verdes de Lauren encontraram os olhos de Camila que, pela primeira vez, correspondia, por mais que com eles cheios de lágrimas, ela correspondia. E esperava as palavras de Lauren atingir seus ouvidos.

– Camila, eu te amo.


A kiss is worth a thousand wordsWhere stories live. Discover now