Capítulo 3

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Eu olhava para minha cauda sem saber o que pensar...

Minhas escamas estavam caindo lentamente, uma a uma. No lugar que elas estavam, começava a aparecer um tecido claro.

Fiquei olhando, catatônica. Que nível absurdo de queimadura poderia fazer a pele se desgrudar?

Minhas escamas caiam mais e mais e começaram a se acumular no chão ao meu redor... e no lugar onde elas estavam agora tinha pernas! Duas pernas humanas.

— Não... — Sussurrei em meio às lágrimas. — Não, não...

— Pelo visto ela fala. — Jake e Nicholas me olhavam tentando processar o que acabara de acontecer.

— O que foi? — Disse outro homem, que chegou correndo pelas escadas.

— Rafael seu idiota! Colocou água doce na banheira?! SEREIAS SÃO SERES DE ÁGUA SALGADA!

— Achei que não fazia diferença, capitão.

— Não vai fazer diferença é o soco que vou dar na sua cara se você não sair daqui AGORA!

— Se acalma Jake. — Disse Nicholas — O que faremos agora?

- Falaremos sobre isso depois. Tranque ela em um dos quartos vazios.

Jake saiu resmungando. Nicholas entrou no banheiro e fechou a porta. Ele lavou o pano ensanguentado na pia do banheiro e sentou do meu lado.

— Qual é o seu nome?

Continuo olhando fixamente para a minha ex-cauda que se dividiu em dois. Não presto atenção nele. Isso é possível? Isso sempre foi possível? Eu devo estar louca, vendo coisas. Levei uma pancada na cabeça.

— Vai, eu sei que você consegue me entender.

"Não vou responder nada a você, seu monstro, nojento, assassino." Penso, mas me interrompo, se agora eu tenho pernas, qual diferença existe entre mim e esses homens?

Sinto nojo de mim mesma.

— Meu nome é Nicholas. - Ele diz, tentando me incentivar a respondê-lo. Seu olhar, que estava nos meus olhos, percorre todo o meu corpo e chega às minhas pernas novas. Ficamos os dois olhando para elas por algum tempo. Ele, impressionado. Eu, enojada.

Levanto meu olhar para seu rosto e ele me encara de volta. Estou tentando transformar toda a tristeza que sinto em raiva e mandar para ele o olhar mais raivoso que ele já recebeu. Acredito que deu certo, porque logo depois ele foi embora. Assim que fiquei sozinha, pude deixar as lágrimas caírem.

Eu devia ter escutado Caleb, não devia ter tentado ajudar aquele tubarão. Deveria ter seguido em frente. Olho à minha volta. As paredes do banheiro são de madeira, a banheira está manchada por fora e a tinta branca está descascando. Tem um pequeno espelho perto da pia que fica ao lado da porta e uma janela redonda na parede ao lado da banheira. Uma privada muito pequena no canto solta no ambiente um cheiro de urina nauseante.

Estou com frio, com fome e dormi pouco na noite passada. Tento me levantar, o que simplesmente faz com que eu caia no chão. Não sei usar essas pernas. A dor de eu ter batido a cabeça quando tentei fugir me atinge agora e eu só quero ficar bem parada e esperar que ela passe. Já chorei tanto que não sei como não estou desidratada.

No final das contas, acabei apagando de exaustão em pleno chão frio do banheiro.

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Quando acordo não estou mais no banheiro. Estou deitada em algo muito macio para ser o chão. Olho em volta, o balanço do barco faz todos os objetos dançarem.

AdharaWhere stories live. Discover now