Idas e Vindas do Amor (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo V

Abril de 2009

A cada passo que eu dava eu sentia que minhas pernas iam ficando mais bambas. Estava nervosa e não era sem qualquer motivo. O jantar na casa do Edu ontem tinha sido ótimo, eu conhecia o seu pai, um militar muito duro, que tinha criado Eduardo e Silvia em cima do cabresto, como um regime militar. Não me impressionava mais o jeito que o Edu me tratava, sempre carinhoso e sem alterar a voz, presando sempre pela minha segurança tanto física quanto na língua do povo. Seu pai era um cavalheiro a moda antiga e não admitia falhas. Nem por isso ele deixou de ser simpático e super engraçado comigo, eu gostei ainda mais dele e rápido tínhamos engatado em uma conversa sobre meu pai, o homem que eu mais admirava no mundo, e que ele iria gostar muito. Conhecia também sua mãe, era um doce de pessoa, sempre pronta para agradar, da onde eu pude ver que Edu puxou a doçura e a sensibilidade, apesar do jeito duro do seu pai. A sua vó era uma gracinha, apesar de não ter papas na língua, era agradável e não tinha falado nada que me desagradasse.

"Vocês precisam marcar logo o casamento e me dar netos, não suporto esperar mais sete anos pelo Edu." - ela tinha dito na hora da sobremesa, enquanto eu saboreava a melhor torta de morango que eu já comi na minha vida. Não teve como, eu engasguei e tive que tomar muitos goles de água para me recuperar. Podia notar que a velhinha de corpo magro tinha um gênio forte e falava o que queria, mas não repliquei, para falar a verdade eu tinha até gostado, não pretendia cozinhar demais Edu, se ele queria casar, eu que não iria ser contra.

"Vovó, pelo amor de Deus. A menina ainda é uma criança, mal saiu das fraldas e a senhora quer que se enrosque para sempre em Edu?" - Silvia era a pessoa que eu menos tinha feito amizade ali dentro, não por que eu queria, mas ela se mantinha muito distante, não conversava direito, e sempre olhava para as minhas roupas de cima a baixo. Era alta quase como eu, magra e tinha o cabelo e os olhos da cor dos de Edu, era a sua cópia feminina, de cabelo grande. Sua voz apesar de estampar um sorriso no rosto, era fria e calculista.

"Eu não tenho problema em casar cedo, nunca fui de ficar namorando um e outro." - Apesar de não querer, minha voz tinha saído em um tom que eu não considerei muito boa para falar pela primeira vez com a minha cunhada que não tinha ido muito com a minha cara.

"Dizem que no interior o processo é realmente muito rápido." - olhou para mim e novamente sorriu, abaixou o olhar e encarou o prato. "Uma gravidez agora seria a melhor coisa que poderia acontecer, não é mesmo?" - Não tive tempo de responder, o pai de Edu interveio e a olhou de cara feia.

"Tenha modos Silvia, Mel é nossa convidada." - Olhou para mim e deu um sorriso que apesar de duro, ainda era terno. "Não se preocupe querida, você não está errada em querer formar uma família."

Logo depois Edu chegou com a sua mãe, que sentou logo ao lado de Silvia e ficaram cochichando. Naquele jantar eu percebi que Dona Tereza gostava de mim, mas que ela amava a filha, e enquanto ela me achava uma boa garota, Silvia claramente não gostava de mim, e podia ver que manipulava muito a mãe com as suas vontades.

Continuei seguindo em linha reta, dispersando meus pensamentos do jantar. Nem tudo é perfeito e com isso já estava acostumada. Porém, hoje eu enfrentaria mais uma provação. Sempre fui péssima em ser avaliada, gaguejo muito e detesto ficar na mira de críticas. Apesar de considerar Letícia uma "quase amiga", ela era melhor amiga de Silvia e muito companheira de Edu. Viviam no prédio desde muito novos, e sempre se conheceram. Eu costumava ficar com ciúmes do relacionamento dos dois, mas eu podia ver que pelo Edu ele sentia apenas fraternidade. Eu não tinha parado para avaliar Let ainda.

Cheguei no chafariz com um frio na barriga, sorrindo para os dois na minha frente. Como sempre, meus olhos brilharam ao ver Edu, e minha atenção foi completamente revestida nele quando o vi se levantando, da onde estava sentado, ao lado de Let, e se inclinou para me dar um beijo, pequeno, simples e molhado na minha boca.