Capítulo III

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Fevereiro de 2009


Nada. Nenhuma vaga.

"Desculpa mas você não preenche todas as nossas especificações."

"Você não tem experiência registrada. "

Droga! Quando me mudei para Belo Horizonte eu nunca imaginei que poderia ser tao difícil arranjar um emprego. Tinha mais de três semanas que eu rodava e rodava e tudo que eu conseguia era bater com a cara na porta. As negativas já tinham passado todos os limites. Estava cansada e começando a me desanimar.

Eu tinha vontade de dizer a pessoa que me dizia que eu não tinha experiência, nesse exato momento: Que era claro que eu não tinha experiência, afinal de contas, ninguém nascia sabendo. E eu precisava de um maldito primeiro emprego para ter experiência. Será que era tão difícil assim pagar para ver uma menina aprender? Não adiantava eu dizer que era rápida. Era a única coisa que eu podia dizer naquele momento, mas não adiantava. Não até agora, pelo menos.

Abri o portão do prédio e apertei ainda mais minha bolsa em meus ombros, estava contendo a vontade de chorar, queria pelo menos esperar chegar em casa. Tudo que eu não queria agora, era voltar para Divinópolis e viver lá sem a possibilidade de um estudo e serviço melhor do que ficar em uma locadora de DVD e VHS.

Apertei o botão de chamada do elevador e pacientimente eu o esperei, até que eu vi uma placa dizendo que o mesmo estava em manutenção.

Agora eu também estava cega.

Respirei fundo e virei a minha esquerda, não queria encontrar ninguém, por isso eu prossegui para a escada de incêndio. Subi o primeiro andar numa boa, pensando nos lugares que eu teria que ir amanhã levar meu escasso currículo. Tinha circulado alguns cargos que chamava a minha atenção no jornal, e esperava que pelo menos um, atenderia aos pré-requisitos.

Estava escuro do terceiro para o quarto andar - onde eu morava - por isso, de primeiro momento eu não tinha visto quem era as figuras conversando animadamente na escada, só as sombras, até que eu estava muito perto para desviar.

Eduardo e Letícia. Ambos eram muito gente boa, mas nesse momento eu não queria ver nem meu pai, e eu estava morrendo de saudades do meu velho. Existia alguns momentos que eu só precisava da minha presença, somente a minha companhia, esse era alguns desses momentos. Eu detestava o fracasso, e estava a ponto de fracassar. Não admitia falhas minhas.

- Mel... - Eduardo disse me cumprimentando.

Desde a visita a minha casa, tínhamos trocado poucas ou meias palavras. E em todas elas, Eduardo tinha o péssimo jeito de me chamar de Mel. Nunca ninguém me chamou assim, era sempre Melzita ou Dinha - diminutivo de miúdinha - mas nunca Mel. Eu também sempre detestei esse apelido tão clichê e enfadonho, que nada significava.

Até que Eduardo o pronunciou, em uma tarde chuvosa que passou na minha casa para explicar que teria queda de luz no dia seguinte, pois mexeriam no padrão de energia. Eu não entendi muito,pois tinha recebido uma carta de seu pai - o síndico - falando a mesma coisa, mas tinha deixado para lá. A partir desse dia eu comecei a glorificar de pé o apelido, mas somente saindo de seus lábios.

- Ei Edu. - Tentei um sorriso e me senti no direito de tentar me familiarizar. - Tudo bem Letícia? - Olhei para a morena ao seu lado.

Não tinha sido a primeira vez que eu os via juntos. Isso me fazia ter a curiosidade de perguntar se ambos eram namorados, mas eu não sabia ser assim, tão invasiva na vida dos outros.

Idas e Vindas do Amor (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now