Capitulo 1

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Novembro de 2012

Estava afinando meu violão enquanto passava o noticiário sobre o fim do mundo. Dois estudantes de religiões diferentes estavam discutindo se o mundo ia acabar ou não. Ridículo.

Passava um pouco das 11h30, minha mãe estava começando a fazer o almoço quando o telefone tocou. Apostava minha mesada que era o sócio dela.

- Alô?

Uma pausa. Não entendi sua expressão, mas depois vi um suspiro baixo.

- Tudo bem, em vinte minutos estou ai.

Clique.

Minha mãe é advogada empresarial e sócia de uma construtora na cidade de Seattle, Washington.

- Julia? - Chamou ela interrompendo meus devaneios.

- No meu quarto - eu disse.

Eu já sabia o que era então não me surpreendeu tanto.

- Fernando pediu para eu resolver um problema de uma estagiaria - ela disse - ficará bem sozinha?

- A Pen? - eu perguntei. A Pen foi uma das mais novas que o Fernando - o sócio da minha mãe - contratou, minha mãe estava tendo certos problemas com ela só pelo simples fato que ela não consegue se prender a uma tarefa por vez. Argh.

- Ela mesma. - ela disse olhando a moldura do gesso no teto.

- Qual foi à arte que ela fez agora? - perguntei. Eu sabia que tinha algo errado.

- Hmm... ela discutiu com Catter sobre uma remessa de contratos.

- Típico dela - murmurei.

Quando fui no trabalho da minha mãe eu conheci Pen não gostei dela de cara, minha mãe diz que eu tenho mal gênio mas ela me ajuda a não gostar dela. Loira oxigenada com a pele meio bronzeada vive encima de um salto alto e procura as menores roupas de qualquer loja - ou ela compra roupa da Barbie - das duas uma.

- Tudo bem.

- Eu te amo. - ela me deu um beijo na testa.

- Eu também - suspirei.

- Hmm... lembra do Samuel? - disse ela indo em direção a porta.

- Sim, o que tem ele?

- Estará de volta no final da próxima semana, só estou lhe avisando.

- Tudo bem.

E ela se foi.

O Samuel é um segurança disfarçado que minha mãe contratou sem eu saber para ficar de olho em mim 24h por dia, por causa de um pequeno acidente que aconteceu na primavera passada.

Tentaram me matar.

Nunca entendi o que realmente aconteceu, dois homens me cercaram e só não fui morta porque alguma alma bendita entrou na rua no exato momento me dando a deixa para fugir. Minha mãe deu um surto psicótico e contratou o Samuel para me vigiar, no começo isso me atormentou, algumas pessoas achavam que ele era meu namorado, mas comecei a me acostumar ele respeitava meu espaço e eu o dele, até que eu gosto dele. Sara o achava bonito, e realmente eu não posso negar, alto musculoso na medida certa, de pele bem bronzeada dos olhos claros e cabelo preto que sempre vivi bagunçado.

Desde o início do verão eu não o vejo, ele tenta parecer o mais normal possível se enturmando conosco e estudando na nossa escola, mas preferia ele longe mesmo assim.


Acordei assustada quando sentir meu celular vibrando de baixo do meu travesseiro era minha melhor amiga, Sara e a mensagem dizia:

"Estou indo para sua casa mas antes vou passar na casa do Philip para dá uns amasso nele, espero que quando eu chegar tenha comida pra mim. Chego mais tarde, Beijinhos baby."

Comecei a zapear os canais, mas não passava nada de bom - além de desenhos e programas culinários.

Como a Sara só iria chegar mais tarde, resolvi dá uma volta, ir ao shopping comprar algum livro novo ou um poster de desenho animado. Sim, eu curto - e muito - desenho animado. Muitos dizem que não pareço gostar disso pelo meu jeito de ser, sou um pouco alta, morena bem clarinho, cabelos longos e castanhos e tenho uma postura bem "séria", nem imaginam o quão legal e interativa eu sou, é o que dizem.

Eu estava com a cabeça baixa procurando por um de meus álbuns favoritos sem perceber entrei em uma rua pouco movimentada que dava acesso a via principal, tinha uma senhora andando no final da rua e um carro virando a esquina, até que me esbarrei com alguém. Estava todo de preto era alto e sua respiração estava muito ofegante.

Eu paralisei. Ele tinha algo na mão.

Uma arma.

Parece que esse tipo de coisas só acontece comigo, uma tentativa de morte em uma semana, um roubo na outra, se esbarrar com um cara com uma arma em outra...

A primeira coisa que uma pessoa sã consciência faria era sair correndo, mas eu aposto que se eu fizesse isso às consequências seriam piores. Quando ele virou o rosto consegui colocar meu celular no bolso falso dentro de minha jaqueta, fingindo que estava me limpando e que nem estava percebendo ele estava ali.

Depois de algum tempo comecei a andar, mas ele segurou meu braço, a longe escuto as sirenes do carro da polícia.

- É melhor você correr. - eu disse friamente.

Quando ele viu a primeira viatura eu consegui me soltar e comecei a correr, mas ele era rápido, me pegou pelo capuz de minha blusa de frio e me prendeu em um mata leão.

- Me solta! - eu gritei enquanto tentava me liberar de seu aperto.

- Shhhh. Presta atenção eu vou te soltar, mas se tentar correr novamente eu te mato pode ser?

Que merda! Quando o Samuel resolve tirar uma folga essas coisas acontece comigo. Tinha que manter a calma para não surtar. Respirei fundo.

- Tudo bem. E a polícia?

- Estão no começo da rua, estão me procurando, mas não conseguiram ver meu rosto. Agora lentamente continue andando do meu lado, docinho.

 A vontade que eu tinha era de sair correndo e me atirar em cima da viatura, mas meu subconsciente me alertou que esse cara poderia ser mais perigoso do que transparece.

Quando o carro da polícia estava a uns 100 metros ele tiro sua jaqueta e coloco encima de meus ombros, percebo uma tatuagem de um simbolo no seu antebraço, tenho quase certeza de que já tinha visto aquele simbolo em algum lugar.

- Muito natural. A propósito com é seu nome? - eu perguntei enquanto puxava para mais perto.

- Para que você quer saber? - ele disse enquanto a polícia passa ao nosso lado.

- Nada, só curiosidade. Quando vai me soltar?

- Estou pensando nisso.

Quando o carro virou a esquina eu comecei a me afastar quando ele sussurrou:

- Tem mais um vindo ainda.

Estava parecendo que essa noite nunca ia acabar.

- Tudo bem agora pode me soltar. - eu disse me afastando novamente.

- Estava pesando, e acho que te soltar não é minha intenção, docinho. - Disse ele enquanto acariciava meu rosto. Meu coração começou a bater mais rápido e minhas mãos soando mais e mais.

- Ma-mais você disse. Disse que ia me soltar. - Droga agora estou gaguejando, pisquei várias vezes para espantar as lagrimas. Não podia chorar na frente dele.

- Eu disse que estava pensando - ele disse me segurando com mais força pelos braços. - Você é linda vamos nos divertir muito essa noite.

- Me solta! - reuni as poucas forças que me restaram e acertei em cheio no meio de suas pernas e sai correndo. O que eu não esperava é que ele iria vim correndo atrás de mim.

Tudo correu como borrão; eu nos braços do bandido, um carro com faróis altos vindo em alta velocidade em nossa direção e eu escapando por uma pequena distração dele.

Tiros foram disparados de todos os lados e a última coisa que me lembro é de ter me jogado no chão frio na rua.


O BecoWhere stories live. Discover now