X. Sorvete napolitano

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Quando Harry disse que não queria atrapalhar os meus estudos, pois os professores tinham nos enchido de tarefas, ele estava certo. A semana foi extremamente corrida, para falar a verdade. Mal tive tempo de tragar o ar e soltá-lo de meus pulmões.

Saía da aula de partitura com os papéis sendo jogados dentro da mochila. Corria até a aula de teatro para ouvir sermões da Sra. Thompson pedindo explicação sobre a razão de não termos decorado as falas. Chegava à de literatura e tirava todas as folhas para fora de minha mochila, inclusive as de partitura que agora se encontravam amassadas. Treinava por horas e mais horas violoncelo. Seja sozinho ou acompanhado pelos olhares atentos da Sra. Phillips que parecia uma coruja em espreita.

O ritmo em Juilliard havia se tornando mais pesado e os veteranos nos informaram que só tendia a piorar. Ótimo!

Quando sobrava tempo, eu e Liam embarcávamos em uma fuga até a cantina mais próxima para comer as tais empadinhas dos desejos de meu amigo. Saborear aquelas gostosuras certas vezes era o ponto alto de nosso dia. Mas, em contraste, não sobrava tempo algum para a nossa sessão de filmes à noite.

Via Harry durante as aulas em que tínhamos em comum. Ele me achava onde quer que eu estivesse e nossos olhos se encontravam após uma procura ininterrupta. Lança-me seus sorrisos maravilhosos e uma ou outra palavra era trocada. Harry também parecia ocupado com suas atividades curriculares. Mesmo assim, quando nos encontrávamos no corredor, por exemplo, parávamos por cerca de segundos apenas para trocar um oi. Era a nossa espécie de confirmação. Como se disséssemos um ao outro que o encontro ainda estava de pé mesmo com o inferno que nossas vidas haviam se tornado nessa semana.

− Sei que disse que o nosso encontro será sexta no fim da tarde, mas teria como nos encontrarmos um pouco antes? – Harry perguntou em uma dessas paradas. – Ao menos que você tenha algo para fazer nesse horário, então podemos continuar com a programação de antes.

Ele parecia ansioso por uma resposta minha. Não poderia negar que levei um susto quando começou a discursar de repente. Achei que fosse cancelar o encontro.

− Tudo bem. – Respondi sorrindo e me amaldiçoei por não conseguir desenvolver uma conversa. Não saía mais do que simples palavras por entre meus lábios e isso me enfurecia.

A passos de tartaruga, sexta-feira finalmente chegou junto a um suspiro aliviado e cansado. A semana havia sido uma das mais exaustivas desde que cheguei a Juilliard e foi como tirar o mundo das costas ao ver o fim de semana timidamente dar o ar de sua graça.

Eu estava a mais de vinte minutos jogando as roupas do guarda-roupa para cima de minha cama à procura de uma peça que fosse suficientemente boa para sair com Harry. Ele provavelmente estaria deslumbrante naquele momento. Mesmo que vestisse uma camiseta branca simples, uma calça jeans e all-star.

De acordo com as nossas conversas rápidas no corredor, o encaracolado viria me encontrar quinze horas em ponto na entrada dos dormitórios. Faltava uma hora para isso e a última coisa que eu estava era pronto.

O nervosismo me fazia querer desistir.

− Você não vai desistir. – Liam estava sentado de pernas cruzadas em cima de minha cama e remexia as diversas que eu jogara lá.

− Eu não sei o que vestir, está quase na hora de nos encontrarmos e meu corpo parece responder de forma contrária a isso. Vou acabar espantando Harry.

− Quanto a se vestir, já resolvi esse assunto. Você vestirá essa calça cinza clara, essa camiseta com listras azuis. A mesma da festa que você fez questão de esconder. Ah, e esses sapatos de camurça. E nada de suéter. Estamos quase em junho e tenho certeza que derreterá em questão de minutos dentro de um casaco com esse calor. – Liam falava determinado me dando ordens como a minha mãe. Estendeu as roupas que havia separado até as minhas mãos e as peguei com cuidado. Se nada desse certo em sua vida, ele poderia ser estilista com toda a certeza. – Em relação ao horário, você tem vinte segundos para levar esse corpo até o banheiro e tomar um banho apressado, mas bem cheiroso. Já sobre o que está sentindo, conversamos depois que estiver arrumado. Ok?

Shy Soul (Larry Stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora