V. Chá de limão

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Alguns dias se passaram desde a primeira aula de teatro. Nos dias seguintes, Harry notava a minha presença independente de onde eu estivesse. Eu poderia até tentar me esconder, mas era inútil. Mesmo sentando no lugar mais inacessível na aula de Iniciação à Orquestra ou não abrindo a boca para dizer uma palavra na aula de literatura quando o professor perguntava sobre Cervantes. Até quando eu e Liam íamos ao refeitório para almoçar, lá estavam aqueles olhos esverdeados grudados em cada movimento meu.

Contudo, Harry parecia tímido com a minha presença. E eu sei que isso não fazia parte de sua personalidade. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas era só Niall chamar pelo meu nome enquanto estava conversando com seu habitual grupo que Harry congelava em sua posição. Assim como eu ao vê-lo se aproximando.

Além disso, todas as vezes em que demonstrava nervosismo, ele mexia em seus cabelos. Podiam estar da forma mais organizada possível, mas suas mãos grudavam nos cachos e jogavam as mechas para um lado. Depois, estralava os dedos e abaixava a cabeça. Sempre assim.

Nós tivemos mais uma aula de teatro nesse meio tempo. Minha atuação parecia piorar a cada cena. Harry me olhando com um sorriso preso no rosto não ajudava em nada. E eu não era o único péssimo ator ali.

Mesmo com a insistência da Sra. Thompson, a maioria não conseguiu decorar suas falas e isso foi um caos na hora do ensaio. Arthur e Pietra, os que interpretariam Romeu e Julieta, não conseguiam dar um beijo sem cair na gargalhada. Pude ver o momento exato em que a professora quase arrancou um tufo de cabelo de sua cabeça.

No final da aula, a Sra. Thompson reclamou de nosso desempenho, é claro. Disse que parecíamos amigos de longa data e não famílias inimigas que desejam por um fim naquele ódio de uma vez por todas. Explicou ainda que teríamos uma aula diferente na semana seguinte e insistiu para que gravássemos as falas de uma vez por todas.

O final de semana passou tão rápido que mal pude percebê-lo diante dos meus olhos. Tive alguns exercícios e composições para fazer nesse período, além de cuidar de Liam que ficou doente. Ele ficou com febre de sexta para sábado e mal conseguia comer direito. Estava fraco e cansado. O médico do pronto-socorro que o levei disse que era uma virose e que ele precisava de repouso, tomar bastante líquido e receber alguns medicamentos.

Na noite de domingo, Liam já estava bem melhor, mas mesmo assim decidi que ele deveria ficar em repouso por mais um dia. Não queria ver meu amigo daquele jeito outra vez.

Na manhã de segunda, acordei cansado com o despertador gritando ao lado de minha cama. Assim que desliguei, vi Liam se enrolar ainda mais em seus cobertores, mesmo com uma temperatura amena dentro do quarto. Apenas seus olhos meio fechados e seu nariz apoiado no cobertor estavam à vista.

Tomei um banho rápido e vesti uma calça jeans preta, uma camiseta branca sem estampas, boxer, meias escuras e, claro, um suéter cinza claro. Calcei meu all-star branco e surrado e saí do banheiro, dando de cara com Liam sentado na cama. Seus olhos quase fechados e seus cabelos bagunçados após dormir o deixando com uma expressão fofa.

− Quero ir para a aula, Lou. – Ele pediu, coçando seus olhinhos.

Fui até ele e coloquei minha mão em sua testa para medir a temperatura de seu corpo. Ele não estava febril, mas também não se sentia bem. Eu sabia só de olhá-lo.

− É melhor ficar repousando mais um pouco, Li. Não quero que fique pior. – Expliquei, parecendo a minha mãe, e o fiz deitar na cama novamente.

− Mas eu preciso ir hoje. – Insistiu e formou um beicinho nos lábios.

− E isso tem alguma coisa haver com Zayn? – Perguntei desconfiado.

Suas bochechas, antes pálidas e sem vida, ganharam cor e ele se escondeu embaixo das cobertas.

Shy Soul (Larry Stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora