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" – Foda-s*." – Deixei escapar quando senti o copo a escorregar por entre os meus dedos.

Tudo o resto pareceu acontecer em slow motion. O copo a ir de encontro ao chão, a despedaçar-se e os cacos a espalharem-se pelo chão fora. A cena do meu pai a entrar na cozinha com cara de mau já era previsível e não tardou a acontecer.

" – Mas que merd* é que pensas que andas a fazer? Partes tudo. Não sabes fazer nada de jeito. Tudo em que tocas, destróis. E a ver se tiras essa merda do lábio ficas a parecer um gótico."

" – Desculpa." – Eu apenas disse antes de ser interrompido.

'' – Limpa masé essa porcaria e vai para à escola, ao menos lá não estas a ocupar espaço."

Respirei fundo quando ele saiu da cozinha e terminei a minha tarefa das 7 horas. Próxima tarefa: Preparar-me para a escola.

Depois de limpar o chão e de me certificar que não havia nem um pequeno vidrinho à solta, fui guardar a pá e a vassoura e marchei para o andar de cima, direto para minha casa de banho.

Lavei os dentes dentro da banheira, para poupar tempo, depois de tomar o meu duche e saí da casa de banho diretamente para o quarto sem sequer me preocupar em vestir alguma coisa.

***

" – Beatrice!" – Ouvi a voz do meu irmão mais velho Mike do outro lado da porta da casa de banho. – " Também quero ir tomar banho."

" – Cala a boca e espera" – Eu gritei de volta.

Suspirei enquanto aproveitava os últimos segundos de água quente que ia ter até o meu irmão chegar à cozinha e desligar a minha fonte de água quente.

Casa nova. Duas palavras, 1 milhão de sentimentos de frustração, raiva, tristeza, saudade e muitos outros.

Tal como eu previa, a água quente começou a arrefecer gradualmente e eu fechei a torneira.

(...)

" – Bom dia querida mãezinha.'' – Eu disse mal entrei na cozinha e me sentei na mesa para começar a comer as torradas que alguém tinha preparado para mim.

'' – Bom dia Beatrice. Estas pronta para ir para a escola?''

'' – Não...não podemos esperar mais uns meses.'' – Eu perguntei com a boca cheia de torrada.

'' – Isso querias tu filhota.'' – O meu pai disse entrando na cozinha e dirigindo-se a mim para me dar um beijinho na bochecha.

A minha família era como muitas outras famílias. Completamente normal e ordinária. Eramos só nós, e mesmo assim, para uma família de 4 pessoas, já era muito. A minha mãe é psicóloga e o meu pai advogado, o que me faz ter uma personalidade ainda mais forte que o normal.

Fui para o quarto depois de acabar de comer e fui ver o que conseguia fazer com o meu rebelde cabelo encaracolado, loiro. Como eu invejava o cabelo castanho e liso do meu irmão. Olhei para o relógio de pulso e vi que estava a começar a ficar atrasada para a escola e chegar atrasada no primeiro dia não era lá muito bom.

Olhei os meus olhos verdes no espelho do guarda-vestidos e disse para mim mesma, suficientemente alto para parecer convincente.

'' – Eu consigo fazer isto''

Respirei fundo, agarrei na minha mala e fui rapidamente para o andar baixo, de onde já se ouvia a minha mãe a gritar para que eu e Mike nos despachasse-mos.

'' – Estou aqui.'' – Eu disse quando cheguei ao pé dela e Mike chegou logo depois.

Encaminhamo-nos para o carro e eu tive que lutar para ficar com o lugar da frente. Sorri vitoriosa para Mike que estava sentado no banco de trás do carro com cara de amuo.

'' – Oh maninho não fiques triste, vê pelo lado positivo, quando tiveres o teu carro, vais poder ir sempre à frente.''

Ele fez-me um toma e depois a minha mãe disse.

'' – Mike eu vi isso.''

'' – Foi ela que começou.'' – Mike ripostou.

'' – Mike, tens 18 anos, ela tem 17.''

Ele bufou e eu deitei-lhe a língua de fora.

'' – Beatrice.'' – A minha mãe repreendeu.

'' – Ai ok, já parei.'' – Eu disse e ri, sentando-me como deve de ser.

A viagem para a escola pareceu-me mais rápida do que deveria ser. Talvez porque eu não conhecia o caminho e tive demasiado ocupada a tentar absorver os detalhes e pormenores da rua. Mas não tinha tido lá muita sorte com isso, pois, pelo caminho, tínhamos passado por um rapaz moreno com um rabo gordinho, com umas calças pretas e um casaco de cabedal preto. Olhei-o quando passamos por ele e graças ao vidro aberto e a proximidade, consegui ver alguns pormenores do seu rosto, tal como o seu sinal perto do queixo, o piercing preto em forma de argola no lado direito do seu lábio inferior e sobretudo a cor intensa dos seus olhos.

'' – Queres um babete?'' – Ouvi Mike perguntar.

'' – Vai áaaaaaao coiso'' – Eu disse antes de dizer aquela palavrinha que sabia que se dissesse a minha mãe ia entrar em stress e ia começar a dar-me uma lição de psicologia dentro do carro.

'' – Bem me parecia.''- Mike disse.

A chegada a escola foi rápida e tranquila, pelo menos até eu sair do carro com pressa e acabar por bater com a cabeça na porta do mesmo. Já estava a começar bem.

Apressei-me a olhar em volta e constatei feliz que não estava ninguém por ali que tivesse visto o meu azar. Fechei a porta e a minha mãe chamou-me.

'' – Sim mãe?''- Eu disse e enfiei a cabeça dentro do carro.

'' – Se precisares de alguma coisa, liga-me ok?''

'' – Ok mãe, mas não vai ser preciso.''

'' – Vá, boa sorte. Faz amigos novos ok?''

'' – Ok.'' – Eu respondi apenas.

Já era bastante mau ter dificuldade em arranjar amigos, mas era pior ainda a minha mãe saber dessa dificuldade e estar sempre a tentar aconselhar-me e a dizer-me maneiras de atrair as pessoas até mim. O que eu não entendia porque, eu era boa em estar sozinha. Não era boa em dar-me com pessoas, a preocupar-me com as pessoas. Normalmente acabava sempre por me esquecer de falar com elas e eventualmente elas começavam a achar que eu estava chateada e afastavam-se de mim, o que resultava em mim sempre sozinha.

'' – Filha, estou a falar a serio.''

'' – Mãe, o Mike já foi, porque é que não falaste com ele?''

'' – Porque, bem, o teu irmão é o teu irmão e tu és tu.''

'' – Nossa, como eu me senti descriminada agora.''

'' – Não sejas tonta, vá, vai lá.''

'' – Obrigada mãe.''

Tirei a cabeça de dentro do carro o mais rápido possível e virei-me de costas andando depressa, porque já sabia o que viria a seguir.

'' – Amo-te'' – Ouvi a minha mãe a dizer de dentro do carro.

Parei e virei-me para ela, fiz-lhe um fixe e sorri. Ela ligou o carro e foi embora. E eu fiquei ali, a ver o carro dela desaparecer na curva, a pensar onde raio me tinha vindo meter.

Um barulhinho de uma pedrinha a bater no chão fez-me despertar e virei a cara para onde tinha vindo o barulho.

E lá estava ele, o rapaz pelo qual tinha passado no caminho para ali.

'' – O que foi?'' – Ele perguntou de forma arrogante quando me viu a olhar para ele.

Suspirei, revirei os olhos, virei-me de novo para o portão e entrei na escola indo diretamente para a minha aula. 

Life Guard || Nash Grier PtWhere stories live. Discover now